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Incerteza sobre rumo do governo eleva inquietação
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Incerteza e um acúmulo de problemas pela frente. Essas são as
principais razões do nervosismo
do mercado diante da substituição de Roberto Lavagna por Felisa Miceli, na opinião de analistas
identificados com a ortodoxia
econômica.
"Temos problemas fiscal, cambial, monetário, de inflação, de investimento, de energia, de emprego, de política comercial", enumera Ricardo López Murphy, que
ocupou o Ministério da Economia da Argentina em 2001, no governo Fernando de la Rúa, e caiu
em menos de uma semana por
propor um ajuste fiscal muito
mais duro que o defendido por
Antonio Palocci Filho.
Fernando Losada, economista-chefe para América Latina do
ABN-Amro, em Nova York, afirma que os títulos argentinos continuarão a cair enquanto persistir
a incerteza sobre a política que será adotada pela nova ministra.
"Não somente o ministro Lavagna se retira do governo mas toda a
sua equipe, e não se sabe quem
ocupará essas posições. O mercado não gosta de incerteza."
Tanto Murphy como Losada
apontam a inflação como a questão mais urgente a ser enfrentada
por Miceli. Este ano deve terminar com alta de 12% nos preços, e
a expectativa para 2006 é que o índice continue em dois dígitos.
O brasileiro Palocci encontrou
no ex-ministro argentino um defensor fervoroso. Murphy propõe
medidas semelhantes às adotadas
no Brasil para combater a inflação, como ajuste fiscal e política
monetária restritiva.
"Palocci conseguiu controlar a
inflação, conseguiu recuperar a
confiança no Brasil. Palocci não
tem problemas pela frente. Nós
temos um montão", afirmou.
Além da inflação, a Argentina
terá de enfrentar vencimentos de
dívida em valores crescentes em
2006 e 2007, quando a situação será mais complicada. Para isso,
discute um novo acordo com o
Fundo Monetário Internacional,
que poderia ser descartado pelo
presidente Néstor Kirchner caso
ele obtenha garantias de financiamento por parte da Venezuela,
que já comprou US$ 950 milhões
em títulos argentinos.
A hipótese de uma maior aproximação entre Kirchner e o presidente Hugo Chávez foi reforçada
com a indicação de Jorge Taiana
para o Ministério das Relações
Exteriores e de Nilda Garré para a
Defesa, ambos considerados críticos aos Estados Unidos e simpáticos ao presidente venezuelano.
O analista político Sergio Berensztein disse ao "Financial Times" que as mudanças promovidas por Kirchner apontam para
um maior isolamento e o fortalecimento dos laços com Chávez.
Nesse cenário de incerteza e
preços em alta, a Argentina precisa buscar investimentos para ampliar o fornecimento de energia e
a capacidade de produção do
país, destacam Murphy e Losada.
Até agora, grande parte do crescimento se deu com a ocupação da
capacidade que ficou ociosa depois da queda de 20% do PIB durante a crise de 2001/2002.
Para continuar a crescer de forma sustentada e sem pressões inflacionárias, a Argentina precisa
aumentar seu parque industrial e
a capacidade de geração de energia, para o que são necessários
mais investimentos.
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