São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incerteza sobre rumo do governo eleva inquietação

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Incerteza e um acúmulo de problemas pela frente. Essas são as principais razões do nervosismo do mercado diante da substituição de Roberto Lavagna por Felisa Miceli, na opinião de analistas identificados com a ortodoxia econômica.
"Temos problemas fiscal, cambial, monetário, de inflação, de investimento, de energia, de emprego, de política comercial", enumera Ricardo López Murphy, que ocupou o Ministério da Economia da Argentina em 2001, no governo Fernando de la Rúa, e caiu em menos de uma semana por propor um ajuste fiscal muito mais duro que o defendido por Antonio Palocci Filho.
Fernando Losada, economista-chefe para América Latina do ABN-Amro, em Nova York, afirma que os títulos argentinos continuarão a cair enquanto persistir a incerteza sobre a política que será adotada pela nova ministra. "Não somente o ministro Lavagna se retira do governo mas toda a sua equipe, e não se sabe quem ocupará essas posições. O mercado não gosta de incerteza."
Tanto Murphy como Losada apontam a inflação como a questão mais urgente a ser enfrentada por Miceli. Este ano deve terminar com alta de 12% nos preços, e a expectativa para 2006 é que o índice continue em dois dígitos.
O brasileiro Palocci encontrou no ex-ministro argentino um defensor fervoroso. Murphy propõe medidas semelhantes às adotadas no Brasil para combater a inflação, como ajuste fiscal e política monetária restritiva.
"Palocci conseguiu controlar a inflação, conseguiu recuperar a confiança no Brasil. Palocci não tem problemas pela frente. Nós temos um montão", afirmou.
Além da inflação, a Argentina terá de enfrentar vencimentos de dívida em valores crescentes em 2006 e 2007, quando a situação será mais complicada. Para isso, discute um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, que poderia ser descartado pelo presidente Néstor Kirchner caso ele obtenha garantias de financiamento por parte da Venezuela, que já comprou US$ 950 milhões em títulos argentinos.
A hipótese de uma maior aproximação entre Kirchner e o presidente Hugo Chávez foi reforçada com a indicação de Jorge Taiana para o Ministério das Relações Exteriores e de Nilda Garré para a Defesa, ambos considerados críticos aos Estados Unidos e simpáticos ao presidente venezuelano.
O analista político Sergio Berensztein disse ao "Financial Times" que as mudanças promovidas por Kirchner apontam para um maior isolamento e o fortalecimento dos laços com Chávez.
Nesse cenário de incerteza e preços em alta, a Argentina precisa buscar investimentos para ampliar o fornecimento de energia e a capacidade de produção do país, destacam Murphy e Losada. Até agora, grande parte do crescimento se deu com a ocupação da capacidade que ficou ociosa depois da queda de 20% do PIB durante a crise de 2001/2002.
Para continuar a crescer de forma sustentada e sem pressões inflacionárias, a Argentina precisa aumentar seu parque industrial e a capacidade de geração de energia, para o que são necessários mais investimentos.


Texto Anterior: Reforma no vizinho: Kirchner vê nova fase; Bolsa e títulos caem
Próximo Texto: Falta de acordo adia divulgação de salvaguardas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.