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Rateio da BM&F limita pequeno investidor
Investidor pessoa física pediu reserva entre R$ 5.000 e R$ 300 mil, mas só levou R$ 1.820 em ações da Bolsa
Rateio reacende discussão sobre elevar oferta para pessoa física, hoje limitada
a no máximo 20% da oferta pública inicial de ações
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O pequeno investidor de varejo que fez pedido de reserva
entre R$ 5.000 e R$ 300 mil para as novas ações da BM&F
(Bolsa de Mercadorias & Futuros) ficou com apenas R$ 1.820
em papéis, o equivalente a 91
ações por CPF, na operação de
abertura de capital que mais
despertou o interesse do investidor pessoa física. Como na
oferta da Bovespa, quem foi
considerado "sem prioridade"
-aquele que vende as ações logo após o início das negociações- ficou sem ações.
Apostando em valorização
rápida dos papéis, como aconteceu quando as ações da Bovespa subiram 52% já no primeiro dia de negociação, possivelmente mais de 200 mil pessoas teriam feito pedido de reserva de ações da BM&F. Os
números finais sairão na próxima semana. A oferta da própria
Bovespa teve adesão de 63.929
pessoas físicas. O mercado
acionário brasileiro tem 310
mil contas de pessoa física.
As regras do Novo Mercado
da Bovespa estabelecem que no
mínimo 10% das ações ofertadas devem ir para o varejo. Esse
percentual tem sido o teto na
maioria das aberturas de capital. No caso da BM&F, o prospecto diz que entre 10% e 20%
poderiam ir para o varejo. O
restante dos papéis vai parar
nos fundos e gestores de investimentos nacionais e estrangeiros, chamados investidores institucionais.
O rateio abre a discussão sobre um aumento do percentual
reservado para pessoa física,
argumento utilizado pela Bovespa quando decidiu adotar o
filtro contra pequenos especuladores de mercado. Com o filtro, a Bovespa afirmava que as
empresas poderiam alocar um
percentual maior para o investidor pessoa física, o que ainda
não aconteceu.
Para o consultor Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA
Consultores, o pequeno percentual reservado para o investidor de varejo explica a diminuição gradual da participação
da pessoa física na Bovespa e o
aumento dos estrangeiros e dos
institucionais, que envolvem os
fundos e gestores de recursos.
Em 2003, 26,2% dos negócios
da Bovespa estavam nas mãos
de pessoas físicas. O último dado de 2007 mostrava que
23,2% das transações eram de
pessoa física. "10% são um cala-boca. Se não fosse a Bovespa, os
bancos não dariam nada para o
varejo. Não é a toa que a participação da pessoa física diminui."
Corretoras afirmam ter recebido em média 300 novos pedidos por dia de abertura de contas. Várias só aceitavam abrir
novas contas até a sexta-feira
da semana passada, alegando
que precisavam de tempo para
processar as informações e
consultar serviços como o de
proteção ao crédito. Uma das
preocupações era a de fraude
com investidor utilizando
CPFs alheios.
Para o superintendente da
Ancor (Associação Nacional
das Corretoras), Gilberto Biojone, as corretoras não agiram
com excesso de rigor e só atenderam às regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
que pode responsabilizá-las em
caso de omissão. Ele afirma que
os interessados tiveram um
prazo e que não podiam deixar
a abertura para a última hora.
"Claro que sai frustrado
[quem não conseguiu as ações].
Quem não conseguiu e acredita
na empresa que compre [hoje].
É um pregão público. Se a motivação não é só o lucro de curto
prazo, então compra", disse.
"Ficou aquela sensação de
que, se pouca gente soubesse,
talvez eu teria levado mais. A
festa não acabou, mas não dá
para entrar em toda a festa.
Também nem todo o IPO é
bom. Quem ficou com dinheiro
sobrando deve ficar atento a
outras operações. Se perceber
uma forte queda na Bolsa, pode
ser a hora de comprar", disse
Marcos Crivelaro, da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).
Para Ricardo Almeida, professor do Ibmec-SP, a pessoa física que ficou sem as ações pedidas não deve sair comprando
papéis da BM&F antes de avaliar o comportamento do grande investidor, que terá o poder
de alavancar ou não o preço dos
papéis. Almeida lembra que, diferentemente da pessoa física,
o investidor institucional pode
ter sido atendido quase que na
totalidade o seu pedido.
"Se vir que o institucional
não está reagindo [comprando], pode desistir da idéia de
entrar agora. Pior do que a frustração de ficar sem a ação seria
a ação abrir com queda. Como
[vetor] de popularização da
Bolsa, o IPO foi um sucesso.
Muita gente que não tinha conta em corretora abriu", disse.
"Descobrir que não tem dinheiro fácil é uma realidade benéfica para o mercado. Diminui
o risco de euforia e de bolha. O
interesse da pessoa física pela
Bolsa cresceu exponencialmente no Brasil. O sucesso da
Bovespa gerou uma demanda
colossal pela BM&F. Cada vez
mais a participação da pessoa
física vai crescer, e o lançamento da BM&F se encaixa nisso",
disse Ricardo Amorim, diretor
do banco WestLB.
No IPO da Bovespa Holding,
os estrangeiros ficaram com
78% da oferta. Dessa parcela, os
investidores com base na Inglaterra ficaram com a maior fatia
(40%), seguidos pelos alocados
nos EUA, que levaram 37%.
Colaborou FABRICIO VIEIRA, da Reportagem Local
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