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VINICIUS TORRES FREIRE
Tresloucados e apatetados
Se os tucanos encerrarem seu ataque de pefelismo alucinado no caso da CPMF, podem fazer o governo reduzir despesas
OS GOVERNADORES tucanos admitiam ontem que estão em
campanha pela aprovação da
CPMF. O reconhecem, na prática,
com declarações sinuosas em público e com muitas ligações telefônicas
para o Senado, e admitem o mutirão
aberto em conversas reservadas.
Três deles, que administram Estados falidos e/ou pobres demais, como Rio Grande do Sul, Alagoas e Paraíba, faz semanas que escancararam seu desespero por dinheiro. José Serra disse ontem em público que
os governadores tucanos estão "afinados" sobre a renovação do tributo.
Não deu o tom do violino, ou melhor, da desafinada rabeca tucana,
mas a declaração é óbvia.
O que está em debate é o tamanho
do vexame tucano. Num caso, a bancada no Senado vota unida contra a
CPMF, com o que o partido passa a
vergonha de rachar por oportunismo tanto dos governadores, atrás de
dinheiro, como dos senadores, por
espírito de porco. Noutro, haveria
defecções no Senado, o problema
sendo como apresentar uma versão
politicamente aceitável da "traição"
ou do "voto consciente" de alguns.
Isso posto, enquanto se corre o
risco de o governo comprar caro e
mal todo o apoio político de que precisa para aprovar o tributo, ainda haveria tempo de discutir uma hipótese menos danosa para a renovação
da CPMF. O governo aparece cada
dia com uma promessa de disparate
fiscal novo. Porém, como tanta coisa
que sai do governo e da Fazenda, tudo pode ser encarado como balão de
ensaio pateta ou "meras propostas
de debate", tanto faz o nome hipócrita do recuo, propostas que podem
voltar ao lixo de onde saíram se houver um plano alternativo aceitável.
Há gente razoável para quem a
derrubada da CPMF é uma chance
de ouro para fazer o governo gastar
menos. É duro basear um argumento na inépcia e na irresponsabilidade
federais, mas o governo não gastará
menos se trombar com uma redução imediata de R$ 40 bilhões na sua
receita. Vai apenas gastar pior e/ou
reduzir a poupança. De resto, num
país com déficit e dívida públicas
enormes e cadentes a passo de cágado, cortar receita dessa monta é dar
chance ao azar de tumulto fiscal.
Sim, as receitas federais crescem a
galope. No governo Lula, a arrecadação cresceu, em média, duas vezes
mais rápido que o aumento do PIB.
Os gastos primários crescem quase
de par com a receita, um pouco menos que isso em 2006 e 2007 (ficam
em 80% a 90% do total arrecadado).
Parece evidente que há espaço para
remanejamentos fiscais, de realocação de recursos entre as rubricas da
despesa e para mais poupança.
Em vez de engessar mais receitas,
de vincular mais gastos e tornar o
orçamento ainda mais inadministrável e politicamente incortável,
em vez de "preocupações federativas" (distribuir mais dinheiro para
Estados), o objetivo mais razoável é
arrancar do governo um teto para o
aumento dos gastos correntes.
Haveria, assim, mais dinheiro para investimento (embora o governo
não consiga investir, mas passemos)
e para abater dívida, redução que
tem efeito multiplicador benéfico
para as contas públicas, pois corta a
despesa de juros. Para tanto, basta
os senadores tucanos encerrarem
seu ataque de pefelismo transviado
e tresloucado e colocar o governo na
parede a fim de conter gastos.
vinit@uol.com.br
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