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Empresas ainda "despertam" para ambiente
Maiores companhias da Bolsa não incorporaram as conseqüências das mudanças climáticas em seus planejamentos, diz pesquisa
Só 33% das empresas que responderam a questionário desenvolveram produto
ou serviço relacionado à mudança climática
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
As maiores empresas brasileiras listadas na Bovespa já
despertaram para as conseqüências das mudanças climáticas globais, mas ainda não incorporaram o tema em seus
planejamentos estratégicos. A
constatação é o principal resultado qualitativo do relatório
CDP (Carbon Disclosure Project, "projeto de exposição do
carbono"), iniciativa internacional feita pelo segundo ano
consecutivo no Brasil.
"Na escala cronológica feita
por nós [que tem quatro patamares: despertar, planejar, agir
e monitorar], a maioria das corporações encontra-se no despertar", diz Giovanni Barontini, da consultoria Fábrica Éthica Brasil, instituição responsável pela versão brasileira do estudo. "Nenhuma delas, ainda,
passou da etapa do planejar."
Do ponto de vista quantitativo, entretanto, o relatório ao
qual a Folha teve acesso mostra um dado positivo. Das 60
empresas consultadas pelo
projeto, que respondem à enquete de forma voluntária, 82%
concordaram em ceder informações sobre como focam a
questão climática hoje. Só três
nem chegaram a se manifestar.
"Esse número não só é maior
do que o do ano passado, que
foi de 62%, como coloca o Brasil em segundo lugar em termos de respostas", diz Barontini. O estudo que recebeu mais
adesão foi o que consultou as
maiores empresas do índice
global FTSE 100, que reúne a
centena de ações mais representativa da Bolsa de Londres.
Ao todo, 18 compilações foram
feitas em 2007.
A conclusão qualitativa do
relatório aparece quando alguns números mais específicos
são tabulados. Só 33% das empresas que responderam desenvolveram algum produto ou
serviço relacionado especificamente à mudança climática. O
setor que respondeu mais vezes "sim" a essa pergunta que
constava no questionário voluntário foi o bancário.
"O problema desse setor é
que há uma atenção praticamente nula sobre as carteiras
de projetos, que podem ser de
alta intensidade de emissões."
No cenário nacional, o número de empresas que divulgaram seus dados sobre gases de
efeito estufa também está baixo ante outros estudos. Só 59%
o fizeram.
Entre os 18 relatórios, só em
três a transparência sobre as
emissões foi menor: Ásia
(49%), Índia (39%) e África do
Sul (56%). O estudo mais
transparente, com folga, foi o
feito no Japão. Lá, 95% das empresas divulgaram suas emissões de forma pública.
Carona ambiental
O número elevado de empresas que já reportaram suas
emissões, e também que implementaram programas de redução com emissões de metas
(52%), merece duas ressalvas,
segundo Barontini.
Para o consultor, muitas vezes, os inventários apresentados são parciais e desvinculados de uma visão de cadeia que
permita mapear as emissões.
"Muitas empresas, também,
reportam ter programas de eficiência energética e uso melhor
de recursos naturais. Mas muitos programas não foram desenvolvidos visando a redução
de gases de efeito estufa."
Essa atitude, entretanto, como lembra o autor do relatório,
não inviabiliza essas medidas,
que foram contabilizadas na
pesquisa para efeito de cálculo.
"O ganho é indireto [das reduções], mas claro que ele existe."
A falta de ações e de monitoramento em relação às mudanças climáticas por parte das
empresas está atrelada também ao número baixo de empresas que já alocaram a responsabilidade pelo tema ao nível de conselho ou administração sênior.
Apesar de 100% das empresas brasileiras terem declarado
que a mudança do clima representa riscos e oportunidades, o
assunto acaba ficando em escalões intermediários, diz o estudo. Ele já "subiu" para os conselhos em apenas 59% das instituições consultadas. Os grupos
de empresas de Japão, Austrália e Nova Zelândia lideram esse quesito, com 93%.
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