São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Empresas ainda "despertam" para ambiente

Maiores companhias da Bolsa não incorporaram as conseqüências das mudanças climáticas em seus planejamentos, diz pesquisa

Só 33% das empresas que responderam a questionário desenvolveram produto ou serviço relacionado à mudança climática

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

As maiores empresas brasileiras listadas na Bovespa já despertaram para as conseqüências das mudanças climáticas globais, mas ainda não incorporaram o tema em seus planejamentos estratégicos. A constatação é o principal resultado qualitativo do relatório CDP (Carbon Disclosure Project, "projeto de exposição do carbono"), iniciativa internacional feita pelo segundo ano consecutivo no Brasil.
"Na escala cronológica feita por nós [que tem quatro patamares: despertar, planejar, agir e monitorar], a maioria das corporações encontra-se no despertar", diz Giovanni Barontini, da consultoria Fábrica Éthica Brasil, instituição responsável pela versão brasileira do estudo. "Nenhuma delas, ainda, passou da etapa do planejar."
Do ponto de vista quantitativo, entretanto, o relatório ao qual a Folha teve acesso mostra um dado positivo. Das 60 empresas consultadas pelo projeto, que respondem à enquete de forma voluntária, 82% concordaram em ceder informações sobre como focam a questão climática hoje. Só três nem chegaram a se manifestar.
"Esse número não só é maior do que o do ano passado, que foi de 62%, como coloca o Brasil em segundo lugar em termos de respostas", diz Barontini. O estudo que recebeu mais adesão foi o que consultou as maiores empresas do índice global FTSE 100, que reúne a centena de ações mais representativa da Bolsa de Londres. Ao todo, 18 compilações foram feitas em 2007.
A conclusão qualitativa do relatório aparece quando alguns números mais específicos são tabulados. Só 33% das empresas que responderam desenvolveram algum produto ou serviço relacionado especificamente à mudança climática. O setor que respondeu mais vezes "sim" a essa pergunta que constava no questionário voluntário foi o bancário.
"O problema desse setor é que há uma atenção praticamente nula sobre as carteiras de projetos, que podem ser de alta intensidade de emissões."
No cenário nacional, o número de empresas que divulgaram seus dados sobre gases de efeito estufa também está baixo ante outros estudos. Só 59% o fizeram.
Entre os 18 relatórios, só em três a transparência sobre as emissões foi menor: Ásia (49%), Índia (39%) e África do Sul (56%). O estudo mais transparente, com folga, foi o feito no Japão. Lá, 95% das empresas divulgaram suas emissões de forma pública.

Carona ambiental
O número elevado de empresas que já reportaram suas emissões, e também que implementaram programas de redução com emissões de metas (52%), merece duas ressalvas, segundo Barontini.
Para o consultor, muitas vezes, os inventários apresentados são parciais e desvinculados de uma visão de cadeia que permita mapear as emissões.
"Muitas empresas, também, reportam ter programas de eficiência energética e uso melhor de recursos naturais. Mas muitos programas não foram desenvolvidos visando a redução de gases de efeito estufa."
Essa atitude, entretanto, como lembra o autor do relatório, não inviabiliza essas medidas, que foram contabilizadas na pesquisa para efeito de cálculo. "O ganho é indireto [das reduções], mas claro que ele existe."
A falta de ações e de monitoramento em relação às mudanças climáticas por parte das empresas está atrelada também ao número baixo de empresas que já alocaram a responsabilidade pelo tema ao nível de conselho ou administração sênior.
Apesar de 100% das empresas brasileiras terem declarado que a mudança do clima representa riscos e oportunidades, o assunto acaba ficando em escalões intermediários, diz o estudo. Ele já "subiu" para os conselhos em apenas 59% das instituições consultadas. Os grupos de empresas de Japão, Austrália e Nova Zelândia lideram esse quesito, com 93%.


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