São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Petrobras corta refinarias para investir no pré-sal

Reservas são prioritárias para o governo, que quer manter o cronograma original

Elevados investimentos, combinados à escassez de crédito no mundo, levaram estatal a recorrer à CEF para manter operações diárias

Eraldo Peres-2.set.08/Associated Press
O presidente Lula em plataforma da Petrobras no litoral do ES

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da crise no mercado de crédito e dos recentes problemas de caixa da Petrobras, o Palácio do Planalto avalia que a estatal terá condições de manter o cronograma de investimentos na exploração do petróleo do pré-sal nos próximos dois anos. Em contrapartida, porém, haverá um corte em outras áreas nesse período, principalmente em refinarias, para adequar o caixa da empresa a tempos de crise.
A expectativa do governo se baseia num dos cenários de investimentos da estatal elaborado para o desenvolvimento do pré-sal, ao qual a Folha teve acesso.
Nele, os valores de investimentos em 2009 e 2010 não são tão elevados: somam US$ 3,24 bilhões e US$ 3,30 bilhões respectivamente, montante que seria suportável mesmo dentro da nova realidade do mercado financeiro.
A conta começa a ficar mais salgada a partir de 2011, quando a previsão de investimento salta para US$ 5,12 bilhões. No ano seguinte, pula para US$ 11,85 bilhões.
Até lá, porém, o governo acredita que a crise tenha passado e que o acesso ao mercado de crédito internacional esteja normalizado, principalmente para projetos de geração de energia.

US$ 320 bilhões
Esses dados ainda não são definitivos, mas dentro do governo a avaliação é que eles fiquem próximos disso. Nesse cenário obtido pela Folha, o total de investimentos entre 2009 e 2020 na exploração do pré-sal pela Petrobras ficaria acima de US$ 320 bilhões.
Tanto no Palácio do Planalto como na Petrobras, a ordem é priorizar os projetos de exploração do pré-sal, considerado estratégico para desenvolvimento da estatal por conta de sua alta lucratividade. Nessa primeira fase do pré-sal, ressalta um assessor do presidente Lula, "não existe problema de partida", mesmo com a escassez de crédito.
Os investimentos ficam ainda mais pesados a partir de 2014, data anteriormente prevista para o início de uma produção em larga escala comercial do pré-sal. Em 2015, por exemplo, os desembolsos seriam de US$ 36,54 bilhões, atingindo o pico em 2018 (US$ 50,61 bilhões).
Para manter os investimentos previstos no pré-sal intactos, contudo, a Petrobras fará um "alongamento" no seu plano estratégico a ser divulgado até o fim do ano. A primeira vítima dessa revisão, segundo assessores presidenciais, serão duas refinarias "premium" (para produzir gasolina de melhor qualidade para o mercado externo), no Ceará e no Maranhão, projetos que sofrerão alterações no prazo original de implantação.
Pelo cronograma inicial de desenvolvimento do pré-sal, que o governo acredita ser possível manter, em março do próximo ano começa um teste de longa duração no campo de Tupi, com produção de 30 mil barris/dia. Em dezembro de 2010, entraria em operação um sistema-piloto de produção em Tupi, de 100 mil barris/dia.
Dentro da Petrobras, porém, há quem defenda uma mudança nesses prazos para adequá-los à nova realidade da economia, que já se refletiu na empresa por causa das dificuldades em obter financiamentos no mercado externo e tomada de empréstimos em bancos públicos brasileiros.
Segundo análise obtida no governo pela Folha, a necessidade de recorrer a financiamentos da Caixa Econômica Federal para cobrir deficiências de caixa tem origem no ritmo forte de investimentos da estatal nos últimos anos.
Antes da crise, a Petrobras vinha cobrindo facilmente eventuais buracos com recursos obtidos no mercado internacional para compensar a destinação de dinheiro de seu caixa para investimentos.
Agora esse tipo de operação ficou mais complicada e a estatal terá de alongar seu plano de investimentos exatamente para que ele não comprometa e encareça as operações diárias da empresa, como o pagamento de tributos -como o que gerou o recente empréstimo na Caixa Econômica Federal- e de fornecedores.

Indústria naval
A maior preocupação do Palácio do Planalto, no curto prazo, está na obtenção de financiamentos para desenvolver a indústria naval brasileira que dará suporte à exploração do pré-sal.
Nessa primeira etapa, os investimentos na indústria naval serão bem superiores aos necessários para a exploração.
Grosso modo, o cálculo é que de US$ 100 investidos no setor, US$ 70 serão para desenvolver a indústria e US$ 30 para a exploração nos primeiros anos. Depois, essa relação começa a se inverter.
Pelos cálculos iniciais, por exemplo, a meta até 2010 é concluir seis plataformas de grande porte e encomendar outras sete, contratar 28 sondas de perfuração de águas profundas e 49 navios para petróleo e derivados e dois superpetroleiros.
Nos planos do presidente Lula, boa parte desses equipamentos seria produzida com elevado conteúdo nacional para fortalecer a indústria naval brasileira. Para isso, contudo, terá de garantir crédito aos empresários do país diante da secura no mercado de crédito internacional.


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