São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Termelétricas oferecem menos energia

Sem gás natural, testes revelam que usinas que declaravam poder gerar até 8.020 MW só conseguiram entregar 4.395,45 MW

Quantidade de energia "virtual" que será retirada do sistema eqüivale a duas vezes a produção das usinas nucleares de Angra 1 e 2

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os novos testes feitos nas usinas termelétricas revelaram uma situação ainda pior do que a verificada em outubro no que diz respeito à real capacidade de geração de energia por meio do uso de gás natural. Essas usinas declaravam poder gerar até 8.020 MW (megawatts), mas, por falta de gás natural, só conseguiram entregar 4.395,45 MW médios: déficit de 3.624,55 MW médios.
A defasagem representa uma quantidade de energia com a qual o país imaginava poder contar, mas que era "virtual", ou seja, existia só nas planilhas de quem planeja o setor e calcula preços e níveis de risco.
A quantidade de energia "virtual" que será retirada do sistema eqüivale a aproximadamente duas vezes a produção das usinas nucleares (Angra 1 e 2, somadas) ou a 7,3% do que foi consumido no país na última quinta-feira (exceto na região Norte).
A quantidade de energia "virtual", que já é grande, pode aumentar ainda mais. Isso porque não foram testadas quatro usinas no Nordeste (Jereissati, Camaçari, Fortaleza e Termobahia). Juntas, essas usinas dizem poder gerar 1.122 MW. Por ora, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) está contabilizando essa energia como existente, embora seja muito provável que não haja gás suficiente para garantir toda a capacidade declarada de geração dessas usinas.

Piora
A situação precária das usinas termelétricas a gás está em evidência desde novembro, quando a Aneel determinou que toda a energia que não pudesse ser de fato gerada fosse retirada do sistema. Na ocasião, com base em observações feitas em outubro, a agência reguladora havia constatado que 2.888 MW médios que constavam do sistema não podiam ser gerados.
A decisão da agência reguladora causou polêmica por dois motivos: 1) a retirada oficial dessa energia do sistema eleva o preço desse insumo no mercado livre, onde grandes indústrias compram energia; 2) sem contar com essa energia, o risco de racionamento aumenta nos próximos anos.
Para tentar minorar o problema, o governo determinou a realização de novos testes, que foram feitos entre os dias 11 e 22 de dezembro. Na ocasião, o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) alegou que os testes de outubro haviam sido feitos em uma conjuntura desfavorável de fornecimento de gás e que não era correto causar aumento de preço no mercado livre por conta disso.
O resultado dos testes, divulgado ontem pela agência reguladora, indicou um cenário ainda pior, um buraco 25% maior do que se imaginava inicialmente. O Ministério de Minas e Energia informou que não comentaria os novos resultados porque não havia sido informado oficialmente.
"Os novos testes mostram um cenário mais realista", disse o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman. Ele considerou positivo o efeito que a retirada da energia do sistema terá no mercado livre de energia: "Vai ser positivo, porque vai estimular que alguns consumidores, que estavam fazendo apenas contratos de curto prazo, passem a fazer contratos de longo prazo, o que dá estímulo à expansão".
Kelman explicou, no entanto, que o impacto nos preços só deverá começar a ser sentido a partir de abril, quando acaba o período chuvoso e os reservatórios das hidrelétricas começam a ser esvaziados.


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