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Termelétricas oferecem menos energia
Sem gás natural, testes revelam que usinas que declaravam poder gerar até 8.020 MW só conseguiram entregar 4.395,45 MW
Quantidade de energia "virtual" que será retirada do sistema eqüivale a duas vezes a produção das usinas nucleares de Angra 1 e 2
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os novos testes feitos nas
usinas termelétricas revelaram
uma situação ainda pior do que
a verificada em outubro no que
diz respeito à real capacidade
de geração de energia por meio
do uso de gás natural. Essas usinas declaravam poder gerar até
8.020 MW (megawatts), mas,
por falta de gás natural, só conseguiram entregar 4.395,45
MW médios: déficit de 3.624,55
MW médios.
A defasagem representa uma
quantidade de energia com a
qual o país imaginava poder
contar, mas que era "virtual",
ou seja, existia só nas planilhas
de quem planeja o setor e calcula preços e níveis de risco.
A quantidade de energia "virtual" que será retirada do sistema eqüivale a aproximadamente duas vezes a produção das
usinas nucleares (Angra 1 e 2,
somadas) ou a 7,3% do que foi
consumido no país na última
quinta-feira (exceto na região
Norte).
A quantidade de energia "virtual", que já é grande, pode aumentar ainda mais. Isso porque
não foram testadas quatro usinas no Nordeste (Jereissati,
Camaçari, Fortaleza e Termobahia). Juntas, essas usinas dizem poder gerar 1.122 MW. Por
ora, a Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica) está contabilizando essa energia como
existente, embora seja muito
provável que não haja gás suficiente para garantir toda a capacidade declarada de geração
dessas usinas.
Piora
A situação precária das usinas termelétricas a gás está em
evidência desde novembro,
quando a Aneel determinou
que toda a energia que não pudesse ser de fato gerada fosse
retirada do sistema. Na ocasião,
com base em observações feitas
em outubro, a agência reguladora havia constatado que
2.888 MW médios que constavam do sistema não podiam ser
gerados.
A decisão da agência reguladora causou polêmica por dois
motivos: 1) a retirada oficial
dessa energia do sistema eleva
o preço desse insumo no mercado livre, onde grandes indústrias compram energia; 2) sem
contar com essa energia, o risco
de racionamento aumenta nos
próximos anos.
Para tentar minorar o problema, o governo determinou a
realização de novos testes, que
foram feitos entre os dias 11 e
22 de dezembro. Na ocasião, o
ministro Silas Rondeau (Minas
e Energia) alegou que os testes
de outubro haviam sido feitos
em uma conjuntura desfavorável de fornecimento de gás e
que não era correto causar aumento de preço no mercado livre por conta disso.
O resultado dos testes, divulgado ontem pela agência reguladora, indicou um cenário ainda pior, um buraco 25% maior
do que se imaginava inicialmente. O Ministério de Minas e
Energia informou que não comentaria os novos resultados
porque não havia sido informado oficialmente.
"Os novos testes mostram
um cenário mais realista", disse
o diretor-geral da Aneel, Jerson
Kelman. Ele considerou positivo o efeito que a retirada da
energia do sistema terá no mercado livre de energia: "Vai ser
positivo, porque vai estimular
que alguns consumidores, que
estavam fazendo apenas contratos de curto prazo, passem a
fazer contratos de longo prazo,
o que dá estímulo à expansão".
Kelman explicou, no entanto, que o impacto nos preços só
deverá começar a ser sentido a
partir de abril, quando acaba o
período chuvoso e os reservatórios das hidrelétricas começam
a ser esvaziados.
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