São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Inflação do aluguel é a maior desde 2004

IGP-M fecha ano em 9,81%, mas tendência é de baixa em razão da queda das commodities; dezembro tem deflação de 0,13%

Redução nos preços das matérias-primas compensa alta do dólar; para FGV, consumidor sentirá efeitos no bolso no 1º trimestre

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que serve como referência para o reajuste de aluguéis e tarifas públicas, encerrou 2008 com uma alta acumulada de 9,81%, maior taxa desde 2004; no entanto, ficou abaixo das expectativas, as quais variaram de 10% a 15% ao longo dos últimos meses.
Para a FGV (Fundação Getulio Vargas), responsável pela medição, a tendência de baixa apresentada pelo indicador a partir de agosto deve continuar 2009 adentro, e os consumidores começarão a sentir no bolso o recuo dos preços em meados do primeiro trimestre.
No acumulado de 12 meses em julho, o IGP-M chegou a 15,15%, quase o dobro dos 8,38% aferidos em janeiro. Depois, passou a cair. O movimento do IGP-M no segundo semestre surpreendeu porque, diferentemente do que acontece normalmente, a valorização de cerca de 50% do dólar ante o real não resultou em pressão inflacionária. "O efeito dessa alta foi compensado pela redução dos preços das commodities no mercado internacional devido à crise", afirma Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV. "A moeda americana não voltará a cair, mas as commodities não voltarão a subir. Não veremos tão cedo se repetir aquele cenário global pujante, com a China comprando todo o minério disponível."
Na avaliação de Quadros, tampouco há o risco de repasse de elevação de custos por parte dos setores da indústria que observaram as suas matérias-primas subirem no primeiro semestre de 2008, pois a demanda externa pelos produtos brasileiros está recuando e a interna deve se desaquecer. "Acho que a inflação será a parte positiva do noticiário em 2009."

Ritmo de queda
Por enquanto, entre as três partes que compõem o IGP-M -atacado, varejo e construção civil-, a desaceleração está mais evidente na primeira.
A carne bovina, por exemplo, teve baixa de 3,03% no atacado em dezembro, contra queda de 0,61% no mês anterior. "Isso em plena entressafra e com a alta do dólar. É sinal de que está sobrando", comenta o economista da FGV.
Devido à dificuldade de exportar, os produtores terão que mirar o consumidor doméstico e, até que consigam ajustar a oferta à demanda, os preços seguirão recuando.
Os fertilizantes, que puxaram a inflação no início do ano, agora igualmente experimentam notável decrescimento. O ácido sulfúrico ainda tem aumento total de 86,15% em 2008, porém recuou 10,19% em dezembro.
As maiores altas no atacado no mês passado foram a do tomate (55,15%) e a do minério de ferro (6,24%).
Assim, o IPA (Índice de Preços por Atacado) encerrou o mês com baixa de 0,42%, levando o IGP-M a registrar deflação de 0,13%, já que possui peso de 60% no indicador.
O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) teve elevação de 0,22%, e o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), de 0,58%. "O que ainda está aparecendo no componente de varejo do índice é o setor de serviços. Esse aumento está relacionado à melhoria de condições de renda no país, portanto deve ser temporário", afirma Quadros. Os serviços de cuidados pessoais, que incluem cabeleireiro, avançaram 0,36% neste mês, em adição aos 0,29% verificados em novembro. O reajuste de quase 12% do salário mínimo no ano que vem deve contribuir para dar um pouco de fôlego a esse segmento.
Os eletrodomésticos e eletroeletrônicos, cuja fabricação envolve componentes importados e sujeitos à variação cambial, subiram 0,31% em dezembro e 0,22% no mês passado. No ano todo, no entanto, têm redução de 4,42%.
O tomate teve a maior alta no varejo em dezembro: 64,8%. As baixas mais pronunciadas foram a do limão, 28,78%, e a do feijão-carioquinha, 19,03%.

Agropecuária
Apesar de afirmar que estão dadas todas as condições para a desaceleração do IPC, a FGV não crava uma projeção para o IGP-M em 2009.
O setor da economia que pode fazer um pouco mais de pressão é o agropecuário. "Deverá ser um ano difícil para os produtores", afirma Quadros. As safras ficarão mais caras por causa da disparada dos fertilizantes, e a perspectiva de menor consumo vai diminuir a sua rentabilidade. "E nem estamos mencionando a dificuldade em obter crédito."


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