São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

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Indianos batem CSN em leilão de siderúrgica

Tata Steel oferece US$ 11,33 bi pelo controle da anglo-holandesa Corus e passa a disputar o 5º lugar no ranking mundial do setor

Resultado é duro golpe para brasileira, 49ª, que tentava maior internacionalização após tentativa frustrada de fusão com norte-americana


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A indiana Tata Steel derrotou ontem a brasileira CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) na disputa pelo controle da anglo-holandesa Corus, com um lance que superou as mais altas previsões do mercado.
Depois de cerca de seis horas de leilão, a Tata ofereceu US$ 11,33 bilhões pela nona maior siderúrgica do mundo, US$ 90 milhões a mais que os US$ 11,24 bilhões propostos pela CSN.
O resultado representa um duro golpe para a empresa brasileira, que tentava impulsionar seu processo de internacionalização depois de uma frustrada tentativa de fusão com a norte-americana Wheeling-Pittsburgh, no ano passado.
O diretor-presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, acompanhou o leilão de seu escritório, em São Paulo. Representantes das duas empresas deram os lances em Londres, na sede do órgão responsável pela supervisão de fusões e aquisições no Reino Unido, chamado de "Takeover Panel". O órgão exigiu a realização do leilão para evitar que a disputa pelo controle da Corus se prolongasse por muito tempo e provocasse instabilidade no mercado.
Apesar de derrotada no leilão, a CSN ganhará com a valorização de suas ações na Corus, da qual possui 3,8%.
Durante o dia de ontem, as ações das três empresas subiram, em uma indicação de que os investidores viam com bons olhos a fusão da Corus com siderúrgicas de países em desenvolvimento que possuem custos de produção mais baixos efontes próprias de minério de ferro -principal matéria-prima do aço. O papel da CSN terminou o dia em alta de 2,46%, acima da valorização de 1,08% da Bovespa. A ação da Tata subiu 1,97% e a da Corus, 0,5%, para 566,5 pence.
Mas é possível que o mercado reaja negativamente hoje, em razão do alto preço que a Tata pagará pela anglo-holandesa. Sua oferta foi de 608 pence por ação, bem acima do fechamento de ontem, que já era considerado elevado por analistas. A CSN chegou até os 603 pence.
Para realizar a compra, a empresa conta com financiamento de um grupo de bancos.
Com a aquisição, a Tata deixará a 56ª colocação no ranking dos maiores fabricantes de aço do mundo para disputar o quinto lugar com a chinesa Baosteel. A Tata-Corus terá produção de 22,6 milhões de toneladas de aço/ano.

Disputa
A disputa pela Corus começou em outubro do ano passado, quando a Tata ofereceu 455 pence por ação da empresa (US$ 8,48 bilhões). Em novembro, a CSN entrou na corrida, com um lance de 475 pence. No dia 10 de dezembro, a indianaelevou sua proposta a 500 pence por ação. Um dia depois, a CSN aumentou sua oferta para 515 pence por ação -aproximadamente US$ 9,6 bilhões.
Qualquer que fosse a vencedora, o negócio teria a particularidade de envolver a compra de uma grande empresa por outra bem menor, originária de um país em desenvolvimento.
Segundo dados de 2005, a Corus está em nono lugar no ranking das maiores siderúrgicas, com produção de 18,2 milhões de toneladas de aço/ano. A CSN ocupa a 49ª colocação, com 5,2 milhões de toneladas, e a Tata, a 56ª, com 4,4 milhões de toneladas.
O leilão de ontem começou com a Tata elevando sua oferta para 520 pence por ação (US$ 9,69 bilhões). As regras previam nove rodadas, entre as quais o preço deveria aumentar no mínimo 5 pence em relação à maior oferta anterior.
A fusão entre a Tata e a Corus trará ganhos operacionais para as duas empresas. No caso da anglo-holandesa, a principal vantagem será a redução de seus custos, graças ao fornecimento de minério de ferro diretamente pela indiana.
Os altos custos da Corus se refletem em suas baixas margens de lucro. A margem Ebitda, que dá a medida da rentabilidade, foi de 10,5% em 2005, bem abaixo dos 46% obtidos pela CSN e dos 43% da Tata obtidos no mesmo período.
A corrida entre a CSN e a Tata fazia parte do processo de consolidação mundial do setor siderúrgico, do qual o maior exemplo foi a fusão da Mittal Steel com a Arcelor.
Fechada em junho do ano passado, a operação envolveu US$ 38,3 bilhões e criou o maior fabricante de aço do mundo. A produção conjunta da Mittal e da Arcelor em 2005 foi de 109,7 milhões de toneladas/ano, o equivalente a 10% do total mundial.


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