São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Fed corta os juros pela segunda vez em oito dias e sinaliza mais reduções

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de cortar os juros em 0,75 ponto percentual na semana passada, numa reunião extraordinária, o comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central americano) voltou a agir ontem no seu encontro regular, ao reduzir a taxa básica em mais 0,5 ponto, para 3% ao ano -o menor nível desde maio de 2005.
Os analistas prevêem mais reduções de juros no curto prazo. As apostas são que o Fed continuará efetuando cortes de tamanhos menores até que a taxa básica fique entre 2,5% e 2% em junho. "O comitê seguirá monitorando os efeitos dos problemas financeiros e outros sobre as condições econômicas e agirá quando necessário para enfrentar tais riscos", afirmou o comunicado da instituição.
A decisão não foi unânime: um dos dez membros do grupo preferia que não houvesse alteração. "O mercado financeiro continua sob considerável estresse e o crédito ficou mais difícil para algumas empresas e famílias. Além disso, informações recentes indicam um aumento da contração no setor imobiliário assim como um enfraquecimento do mercado de trabalho", explicou o Fed em comunicado, deixando claro que a desaceleração agora preocupa mais do que as possíveis pressões inflacionárias.
Logo em seguida ao anúncio do novo corte de juros, Wall Street reagiu de forma positiva: a Bolsa de Nova York chegou a subir mais de 1%, mas encerrou o dia com baixa de 0,3%, sob o temor de que as agências de classificação de risco iriam rebaixar ainda ontem as notas de empresas de seguro de crédito (leia à pág. B5). A Nasdaq fechou em queda de 0,38%.
Os números do PIB divulgados pela manhã serviram um pouco como resposta aos críticos que acusavam o Fed de estar atuando principalmente devido ao pânico entre os investidores: a economia americana cresceu apenas 0,6% no último trimestre de 2007. "Os indicadores de renda, emprego e produção industrial ainda se mostram contraditórios, mas a tendência para a qual apontam certamente não é boa", comenta Tom Higgins, economista-chefe da consultoria em investimentos Payden & Rygel.
E, se os índices de atividade piorarem, acaba o bom humor do mercado. "Provavelmente enfrentaremos mais turbulências, até porque a redução da taxa básica demora ao menos seis meses para fazer efeito", diz Gary Webb, da gestora de recursos Webb Financial Group.
O Fed deu início à série de cortes em setembro, diante dos sinais de que a crise no mercado de hipotecas de alto risco ("subprime") provocada pelo aumento da inadimplência poderia contaminar outros setores da economia americana.
Reduzindo os juros, a autoridade monetária espera primeiramente aliviar a situação dos mutuários cujas mensalidades subiram demais. Adicionalmente, quer melhorar as condições de empréstimos para empresas e consumidores -estes últimos respondem por cerca de dois terços do PIB dos EUA.

Pacote
O governo George W. Bush também agiu: lançou pacote de estímulo à economia que dá US$ 146 bilhões em isenções tributárias para pessoas jurídicas e restituições para pessoas físicas, o qual foi aprovado pelo Congresso na terça. "Todos estão se esforçando e isso ajuda. Caso de fato entremos em recessão, ela deve ser menos grave e mais curta", diz Richard Golinski, diretor financeiro da consultoria Bingham, Osborn & Scarborough. "Porém, trata-se de uma crise estrutural e essas medidas são só paliativos. Precisamos de regulação e leis rígidas e que o governo e o Fed prestem mais atenção à formação de bolhas como a do segmento imobiliário."


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