São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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Recessão é um "desastre" para famílias, diz Obama

Alta do estoque na indústria evitou tombo maior no PIB, que chegaria a 5,1% no 4º tri

Economia norte-americana fecha ano com expansão de 1,3%, menor variação desde 2001; projeções indicam retração de 2% neste ano

Jason Reed/Reuters
O presidente dos EUA Barack Obama, e o vice, John Biden, no lançamento de 'força-tarefa' em prol de medidas para a classe média

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A economia norte-americana sofreu entre outubro e dezembro passados o maior recuo em mais de um quarto de século. Com praticamente todos os setores em queda livre, o PIB (Produto Interno Bruto) do país encolheu 3,8% no último trimestre do ano passado -taxa anualizada.
O tombo só não foi maior porque houve um aumento nos estoques das indústrias. Aparentemente, o corte na produção das fábricas não pôde acompanhar a rapidez com que o comércio reduziu os pedidos. Retirando o estoque industrial encalhado da conta do PIB, a contração teria sido de 5,1%.
O consumo das famílias foi o grande responsável pelo recuo, atingindo um recorde negativo na série histórica dessas estatísticas, iniciadas em 1947.
O período entre outubro e dezembro marcou o segundo trimestre consecutivo de queda no PIB, fato que convencionalmente caracteriza uma recessão. No terceiro trimestre, o PIB havia recuado 0,5%.
"É a continuação de um desastre para as famílias norte-americanas", afirmou pela manhã, na Casa Branca, o presidente Barack Obama, quando anunciou novo plano de "resgate" à classe média (leia texto ao lado). "A recessão está se aprofundando, e a urgência para combater a crise, crescendo."
Em 2008, o crescimento do PIB norte-americano foi de 1,3% (o menor desde 2001), ante 2% em 2007. Várias projeções indicam que haverá retração de cerca de 2% neste ano.
A queda no ritmo da economia dos EUA no quarto trimestre foi a maior desde 1982, quando o PIB recuou a uma taxa anualizada de 6,4% nos primeiros três meses daquele ano. Na época, o Fed (banco central dos EUA) lutava contra o descontrole da inflação e limitou a capacidade dos bancos de emprestarem.
Desta vez, o problema é outro. Em termos anualizados, o ritmo dos preços nos EUA caiu para 0,1% no último trimestre de 2008 (o menor desde 1954), refletindo o esfriamento geral de quase todos os setores.
O consumo das famílias, que responde por dois terços do PIB norte-americano, caiu 3,5% no último trimestre, depois de já haver tombado 3,8% nos três meses anteriores. Foi a primeira vez em que houve uma queda seguida superior a 3% desde que essas estatísticas começaram, em 1947. O fato torna muito improvável uma rápida recuperação econômica.
Os gastos das famílias com bens duráveis, como automóveis, geladeiras e móveis, caíram 22,4% -maior tombo desde 1987.
A queda no consumo é reflexo direto do travamento do mercado de crédito e da diminuição de sua oferta pelos bancos aos altamente endividados norte-americanos.
Reflete ainda o temor do desemprego. Ele já atingiu 7,2% (2,6 milhões foram demitidos em 2008, 524 mil apenas em dezembro), contra 4,9% há um ano. Só nesta semana, empresas gigantes nos EUA anunciaram demissões de quase 70 mil trabalhadores.
Com o desemprego em alta, o custo para os empregadores com funcionários subiu apenas 2,6% no ano passado, o menor incremento desde 1982, quando passou a ser calculado.
Os investimentos das empresas em máquinas, computadores e material de escritório, outro importante "motor" do PIB, recuaram 19,1% em termos anualizados. Foi a maior queda geral desde 1975 e a mais alta para os setores de equipamentos para escritórios e softwares em meio século.

Comércio exterior
Uma das poucas áreas que ainda brilharam no terceiro trimestre em termos de crescimento, as exportações agora também estão em queda. Recuaram 19,7% no quarto trimestre, assim como as importações, que caíram 15,7%, sob reflexo da fraca demanda.
Josh Bivens, economista do Economic Policy Institute, diz que a queda nas exportações é mais um desalento. "Elas vinham sendo fundamentais para manter a economia, mas agora houve um colapso."
Michael Feroli, economista do JPMorgan Chase, afirma que o resultado do PIB torna urgente a aprovação final pelo Senado do pacote de US$ 819 bilhões do governo Obama. "O fato é que temos agora uma evidência de que tudo está piorando. Precisamos muito de algo para se contrapor a isso", disse.


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