São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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Brasil passa de vidraça a estilingue para os países ricos

ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

José Sergio Gabrielli, o presidente da Petrobras, foi escolhido por seus pares das empresas do ramo para presidir a "Cúpula da Energia", que faz anualmente seu encontro em Davos.
Passará, pois, a coordenar as reuniões do grupo, que conta com as grandes petrolíferas do planeta, estatais ou privadas.
A escolha de Gabrielli é uma óbvia homenagem à empresa que preside, especialmente em foco depois das descobertas no pré-sal. Mas é também um homenagem ao Brasil, que, neste ano, no encontro do Fórum Econômico Mundial, passou nitidamente da velha condição de vidraça para a de estilingue.
Tanto é assim que Ricardo Villela Marino, executivo-chefe para a América Latina do banco Itaú e eleito um dos jovens líderes globais deste ano pelo Fórum, estufou o peito para dizer que "o Brasil e os bancos brasileiros não são parte do problema, são parte da solução", sendo o mal, como é óbvio, a crise.
Marino lembrou os "bilhões" despejados pelo mundo rico para evitar a quebra de seus bancos e emendou: "Nada disso aconteceu no Brasil".
Logo depois, Gabrielli tomou a palavra para fazer outra comparação representativa da troca de vidraça por estilingue. Afirmou que não era só no setor bancário que o Brasil tinha algo a ensinar ao mundo rico. "Também em matéria de política fiscal sadia estamos melhor que os Estados Unidos" [cujo déficit cresce a cada hora].
O bordão "política fiscal sadia" foi usado pelo mundo rico anos a fio para passar sermões em empresários e autoridades brasileiros. Que Gabrielli o use agora tem sabor de vingança.
Na sua vez, o chanceler Celso Amorim lembrou, por exemplo, dos US$ 20 bilhões que as empresas brasileiras investiram no exterior, quando, em anos anteriores, empresários e autoridades brasileiras usavam Davos para uma espécie de passada de chapéu, implorando por investimentos externos.
O próprio tema do almoço já era uma homenagem ao Brasil, ao tratá-lo como "new power broker", um mediador internacional de peso, em tradução livre. Claro que é preciso alguma ginástica para evitar pessimismo ou números negativos. Pouco antes do almoço, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, havia clamado pela retomada dos créditos por parte do sistema financeiro, "no mundo todo".
Villela Marino, do Itaú, preferiu desconversar. Afirmou que "o crédito não desapareceu; apenas ficou mais focado e mais seletivo". À Folha, depois da sobremesa, contou que continua havendo aumento dos empréstimos no Brasil, mas que a curva é bem inferior à anterior à crise, até setembro.
"O crédito tornou-se mais escasso e mais caro, mas continua crescendo", afirmou.
O moderador do almoço, David Schlesinger, editor-chefe da agência Thomson-Reuters, introduziu uma provocação, ao perguntar a Amorim se o fato de o presidente Lula ter preferido ir ao Fórum Social Mundial, em Belém, em vez de Davos, era um "manifesto".
Amorim, como é óbvio, disse que não, lembrando que Lula, em seus seis anos de mandato, esteve já três vezes em Davos. Brincou: "O problema é que a demanda por Lula é maior que a oferta de Lulas". (CR)


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