São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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EUA prometem revisar proteção ao aço

Casa Branca, porém, não dá detalhes do que fará com medida que impõe que obras do pacote de US$ 819 bi usem produto americano

Lula diz que protecionismo neste momento irá agravar a crise e que países ricos não devem esquecer obrigações com livre comércio no mundo

DA REDAÇÃO
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM

Com as pressões de governos estrangeiros e até de companhias norte-americanas, a Casa Branca afirmou ontem que o presidente Barack Obama irá revisar o "Buy America", o artigo do pacote de US$ 819 bilhões aprovado pelos deputados que exige que o aço usado nas obras do plano tenha sido produzido nos Estados Unidos.
Porém, a Casa Branca não deu detalhes do que Obama fará caso a proposta seja aprovada pelo Senado (onde medidas ainda mais protecionistas são discutidas) nem se o governo era a favor ou contra a medida -o vice-presidente Joe Biden afirmou anteontem que discorda dos que consideram o plano "um arauto do protecionismo".
Em declaração a jornalistas em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse entender "todas as preocupações que foram ouvidas, não apenas nesta sala, mas em jornais produzidos tanto no norte como no sul".
Desde que a Câmara dos Representantes votou na quarta-feira o pacote de estímulo à economia de US$ 819 bilhões (incluindo a ajuda ao setor siderúrgico), surgiram críticas dos governos de Austrália e Canadá e da Comissão Europeia (o braço executivo do bloco de 27 países), além de várias empresas americanas que temem que propostas semelhantes sejam adotadas no exterior.
"Como 95% dos consumidores mundiais vivem foram dos EUA, os trabalhadores americanas seriam os primeiros a sofrer quando o "Buy America" detonar retaliação de outros países", disse Chris Braddock, da Câmara de Comércio dos EUA.
Um dos pontos do documento de 647 páginas proposto pelos deputados democratas (partido de Obama) estabelece que o aço usado nas obras do pacote tenha sido produzido nos Estados Unidos, com algumas poucas exceções, como se não houver quantidade ou qualidade suficiente ou se a inclusão do produto local fizer com que o custo total da obra aumente mais de 25%.
O texto aprovado pelos deputados ainda precisa ser discutido pelo Senado, que negocia uma proposta ainda mais radical: todas as obras do pacote terão que usar equipamentos e produtos fabricados nos EUA.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também criticou ontem a medida que dá preferência, nas compras estatais, a produtos dos EUA -o que prejudica diretamente ao Brasil. "Se isso é verdade [as medidas aprovadas], é um equívoco a gente entender que o protecionismo resolve o problema da crise. O protecionismo neste momento vai agravar a crise."
O presidente disse que os países ricos não devem esquecer sua responsabilidade com o livre comércio. "É importante que os países ricos não esqueçam nunca que foram eles que inventaram essa tal de globalização, a história de que o comércio poderia fluir livremente pelo mundo, na época em que eles estavam crescendo e queriam vender", afirmou.
Neste momento, segundo Lula, "não seria justo esquecer os discursos" por estarem em crise e passar a adotar medidas protecionistas. "Se cada país resolver colocar um muro em volta de si e achar que não precisa de mais nada, a crise vai piorar", concluiu o presidente.
Em 2007, o Brasil exportou US$ 1,296 bilhão em produtos siderúrgicos para os EUA, o que representou 19,6% das vendas externas do setor naquele ano, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia.


Com agências internacionais

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