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"Superelétrica" terá mais de um terço do mercado brasileiro
Com apoio do Planalto, Camargo Corrêa pretende comprar o controle da Eletropaulo, da AES Sul e da Neoenergia
Governo atua para formar grandes empresas de capital nacional, tendo o BNDES como o principal financiador dessas operações no país
LEONARDO SOUZA
LEILA COIMBRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A empreiteira Camargo Corrêa recebeu o aval do Palácio do
Planalto para constituir uma
superelétrica na área de distribuição de energia.
A construtora assumiu no
ano passado o comando da
CPFL e conta agora com o
apoio do governo para comprar
o controle da Eletropaulo e da
AES Sul, além de adquirir da
Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e
do BB a sua participação no
grupo Neoenergia.
Se concretizadas as duas operações, a empreiteira terá nas
mãos uma gigante que abastecerá mais de um terço do mercado nacional, incluindo praticamente todo o Estado de São
Paulo -o mais rico do país- e
três Estados do Nordeste, região atualmente com o maior
potencial de crescimento.
Segundo pessoas próximas às
transações ouvidas pela Folha,
o presidente da Previ, Sérgio
Rosa, abriu negociação com a
Camargo Corrêa por interferência direta do Planalto.
Como a Previ possui participação relevante tanto na CPFL
(31% das ações ordinárias, sendo 23% delas ligadas ao bloco
de controle) quanto na Neoenergia (49% do capital total),
há conflito de interesses.
Hoje os representantes da
Previ precisam sair das salas de
decisões da CPFL quando são
discutidos detalhes sobre as
negociações em curso para
aquisições de outras distribuidoras de energia.
A fusão com a CPFL resolveria o conflito, porém a Previ
passaria a ser minoritária na
nova empresa, perdendo a gestão da Neoenergia. Marcelo
Corrêa, atual presidente do
grupo, é indicação do fundo de
pensão do BB.
Grupos nacionais
Não é a primeira vez que o
governo atua para formar grandes empresas de capital nacional, tendo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) como o
principal financiador dessas
operações.
Entre 2008 e 2009, o banco
estatal injetou quase R$ 7 bilhões para viabilizar a incorporação da Brasil Telecom pela
Oi. Em 2007, o BNDES comprou cerca de R$ 4 bilhões em
ações (a valores de 2009) dos
frigoríficos JBS e Bertin, o que
possibilitou a fusão dos dois
grupos no ano passado.
No caso da BrT-Oi, o presidente Lula ainda teve que editar um decreto sob medida para
permitir a união das duas
empresas.
O setor elétrico está na esfera
de influência direta da ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil),
candidata à sucessão presidencial. Ela comandou a pasta de
Minas e Energia no primeiro
mandato do presidente Lula.
Todos os grandes temas da área
passam por sua mesa.
Concentração
A formação da superelétrica
não enfrentará impedimento
legal. Em 2008, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) derrubou a última barreira
regulatória contra concentrações no setor. A operação, contudo, teria de passar também
pelos órgãos brasileiros de defesa da concorrência.
Até então, a legislação limitava a participação dos investidores nas concessionárias da seguinte forma: até 20% no mercado nacional e até 25% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Norte e no Nordeste
a limitação era de 35%.
Segundo Jerson Kelmann,
ex-diretor-geral da Aneel, a resolução 299, de 8 de janeiro daquele ano, extinguiu os tetos
existentes.
As negociações para a fusão
com a Neoenergia estão bem
avançadas. O outro sócio da
empresa, a espanhola Iberdrola, sofreu bastante com a crise
financeira internacional e está
bastante descapitalizado. Assim, dificilmente teria condições e interesse em comprar as
participações da Previ e do
Banco do Brasil.
No caso da Eletropaulo e da
AES Sul, entretanto, a Camargo
Corrêa ainda precisa superar
alguns obstáculos.
As duas distribuidoras estão
sob o guarda-chuva da empresa
AES Brasiliana, que existe só no
papel. O BNDES tem 53,85%
dessa empresa, mas a operação
das duas concessionárias (e
também da geradora AES Tietê) é da americana AES.
Para vender sua participação
na Brasiliana, o BNDES contratou o Citibank para elaborar a
modelagem da operação. Pela
legislação atual, o BNDES não
pode negociar diretamente
com nenhuma companhia interessada. A oferta das ações tem
que ser feita em leilão.
Além disso, a AES tem direito
de preferência na parte do banco e, neste momento, está capitalizada -a matriz recebeu
uma injeção de US$ 2 bilhões
do fundo soberano chinês, que
adquiriu 15% da AES Corp.
Com o apoio do governo,
contudo, a Camargo Corrêa espera entrar num acordo com os
norte-americanos para que
eles aceitem ceder o controle
das duas distribuidoras. No
passado, a AES chegou a anunciar que tinha a intenção de sair
do país. Mas agora o discurso da
empresa é o de permanecer ou
mesmo de aumentar a sua presença no Brasil.
O interesse da Camargo se
concentra na distribuição. No
caso de uma união entre CPFL,
Eletropaulo e Neoenergia, a
maior sinergia estaria na ligação entre as duas primeiras,
principalmente devido à proximidade geográfica, o que facilitaria o deslocamento de equipes para a manutenção das redes, por exemplo.
A CPFL está presente na
grande maioria dos municípios
do interior paulista. Já a Eletropaulo congrega a região metropolitana.
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