São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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TRABALHO
Recessão pode deixar até mais 3,6 milhões sem ocupação este ano; total de 1998 chega a 6,6 milhões
Desemprego cresce 38% no governo FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local


A taxa de desemprego nacional cresceu 38% nos quatro anos do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Passou de 6,5% para 9,0% da População Economicamente Ativa (PEA).
Foram 2,2 milhões de desempregados a mais no país, o equivalente à população do Estado do Mato Grosso. No total, os brasileiros sem ocupação chegaram a 6,6 milhões em 1998 (mais do que o número de cariocas).
Os cenários para o primeiro ano do segundo mandato, entretanto, são ainda piores.
A depender do tamanho da recessão, a taxa de desemprego pode crescer entre 9% e 51%. Em números absolutos, isso significa que o contingente de desempregados pode ser acrescido, em 1999, de 700 mil a 3,6 milhões de pessoas.
Se o PIB (conjunto das riquezas do país) crescer 0,3%, o que é improvável até nas previsões do governo, a taxa de desemprego deve chegar a 9,8% da PEA, ou 7,3 milhões de pessoas.
Em um cenário intermediário (e mais próximo das projeções oficiais), de queda de 1,8% do PIB, a taxa de desemprego chegaria a 11,1%, e o número de desempregados no país saltaria para 8,2 milhões -um acréscimo de 1,6 milhão.
No pior dos cenários, previsto por alguns bancos, com uma diminuição de 3,5% do PIB em 1999, o desemprego explode: a taxa iria a 13,6%. Nada menos do que 10,2 milhões de brasileiros (mais do que a população da maior cidade do país, São Paulo) ficariam sem ocupação.
Essa é a principal conclusão de um estudo encomendado pela Folha ao economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para elaborá-lo, Pochmann se baseou nos únicos dados oficiais de abrangência nacional, contidos na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE).
Os números mais recentes, entretanto, se referem a 1997. O primeiro passo do estudo foi, portanto, fazer uma estimativa de quanto cresceu o desemprego nacional em 1998.
Para isso, Pochmann considerou o aumento das taxas de desemprego mensais nas regiões metropolitanas ao longo do ano passado. Em seguida, ele relacionou os dados de ocupação e desocupação com a variação do PIB na década.
Com essa metodologia, o economista pôde não apenas chegar à taxa nacional de desemprego em 1998, como fazer as três projeções descritas acima para 1999, sempre correlacionando o crescimento do desemprego com o aquecimento ou a recessão econômica.
Os números são realistas. Para efeito de comparação, o número de novos desempregados durante o primeiro governo de FHC chegou a 495 mil. Esses dados são da Fundação Seade, do governo paulista.
Diretor-executivo da fundação, Pedro Paulo Martoni Branco concorda com a projeção de um quadro ainda mais grave para o mercado de trabalho neste ano.
"1999 já é um ano perdido. Não adianta. O recorde de 1998 vai ser batido", diz.
Ele prefere não fazer previsões numéricas, mas afirma que o eventual crescimento do setor exportador da economia brasileira (que foi beneficiado pela desvalorização cambial) não será suficiente para recuperar o estímulo do mercado de trabalho.
"Seriam necessários outros estímulos sobre o mercado consumidor interno para aumentar a produção e o nível de emprego. Isso não vai acontecer", diz.
Martoni Branco explica que a desvalorização do real vai produzir inflação e, por consequência, queda da massa salarial. Isso somado ao aumento do desemprego levará a uma queda do consumo.
Estabelece-se, assim, um círculo vicioso, em que a queda do consumo contribui para o aumento do desemprego.
Para piorar o quadro, o risco de que a inflação volte de maneira descontrolada e a necessidade de atrair o capital financeiro internacional devem impedir o governo de diminuir as taxas de juros (é o que se prevê ao menos no primeiro semestre), o que onera a produção.
O percentual de desvalorização do real, o nível das taxas de juros e, muito importante, o grau da crise de credibilidade que o governo enfrenta é que devem, todos somados, definir o tamanho da recessão no ano que vem e, por consequência direta, o número de desempregados.



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