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COMUNICAÇÃO & MERCADO
As guerras
do automóvel
HELCIO EMERICH
"Cincoenta anos de trapaças, traições e ganância no
mercado". Esse é o lado obscuro da história do automóvel
que, na capa do seu livro
"Car Wars" (Archade Publishing Inc, Nova York, US$
24,60), Jonathan Mantle promete mostrar. O autor é um
jornalista norte-americano
que divide seu tempo entre a
América, Europa e países
asiáticos. Entre outros livros,
escreveu a biografia de Andrew Lloyd Webber (o compositor do musical "Evita"),
assim como a história do
Lloyd's Bank, a lendária instituição financeira britânica.
Há cem anos havia na Terra
não mais do que seis automóveis, todos experimentais. Hoje são cerca de 400 milhões de
veículos e, se eles fossem colocados em fila com os pára-choques encostados uns
nos outros, lado a lado numa
rodovia de seis pistas, cobririam uma distância equivalente a oito vezes a volta ao
mundo.
A indústria automobilística
é o quarto maior negócio do
planeta, emprega quatro milhões de pessoas e, segundo o
jornalista, pode criar impérios, destruir economias, mudar o curso da história.
Mantle não é um eremita da
sociedade motorizada (ele dirige um Volkswagen) nem renega a importância e as conquistas do setor automobilístico. Mas, como diz a orelha
do livro, ao olhar pelo retrovisor o passado e os bastidores
das grandes montadoras multinacionais e analisar o papel
e o poder das figuras que comandaram esses conglomerados na segunda metade deste
século, o autor faz revelações
tão espetaculares que talvez
muitos leitores não acreditarão no que estão lendo.
Só para dar a temperatura
do livro, Jonathan Mantle começa por desmontar a versão
histórica de que o automóvel
mais famoso do mundo, o
"besouro" da Volkswagen (o
Fusca), tenha sido produto do
gênio de Ferdinand Porsche.
Quando foi exibido pela primeira vez no Salão do Automóvel de Berlim, em 39, com o
estapafúrdio nome criado por
Hitler de "Kraft-durch-Freude Wagen" ("Carro da força
através da alegria"), o carrinho não passava de um projeto irresolvido de uma fábrica
inacabada.
Hitler tinha uma antiga admiração pelo engenheiro-chefe de uma montadora de automóveis da então Tcheco-Eslováquia, Hans Ledwinka,
que projetara um robusto carro com motor V-8 traseiro, refrigerado a ar, chamado Tatra (em 33, na sua campanha
eleitoral para a chancelaria
alemã, o futuro ditador nazista percorrera o país num elegante Tatra T-11). Ledwinka
foi convidado pessoalmente
pelo "führer" para desenvolver o desenho de um automóvel pequeno, baseado na concepção mecânica do carro
tcheco.
Hitler recebeu o projeto
(identificado pelo código
V-570) e o repassou a Ferdinand Porsche, que concordou
em assumir a paternidade da
idéia (para o orgulho alemão,
o "carro do povo" jamais poderia ter sido criado por um
estrangeiro). Essa teria sido a
verdadeira origem do Fusca.
Em 1938, com o Tratado de
Munique, a cidade tcheca de
Koprivinica, onde ficava a fábrica Tatra, foi incorporada
ao Terceiro Reich, que se
apossou das instalações, protótipos e patentes da montadora, desativando sua produção de veículos de passeio.
Nas próximas colunas, voltaremos ao livro com mais algumas histórias envolvendo
outras marcas.
Helcio Emerich é jornalista, publicitário e
vice-presidente da agência Almap/BBDO.
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