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OPINIÃO ECONÔMICA
Por uma verdadeira reforma tributária
CARLOS EDUARDO CADOCA
Após a ressaca do Carnaval, o
brasileiro deve voltar as
atenções para um assunto polêmico, politicamente difícil de
"costurar", que mexe com a rotina econômica do país e a vida de
todo cidadão: a reforma tributária. O tema é de interesse geral e
não poderia ser diferente. O sistema tributário atual, com sua parafernália de regras esdrúxulas,
além de não conseguir acompanhar as transformações do mundo globalizado, inibe a atuação
dos agentes produtivos e deixa a
classe média mais pobre.
O imposto nosso de cada dia é
um vilão discreto. Está presente
em cada gesto de consumo e, embora passe quase sem ser notado
perante os olhos do consumidor
comum, chega à mesa do brasileiro com um peso inimaginável.
Embutido em todos os preços,
provoca impactos na indústria e
faz estragos no orçamento doméstico. Restringe o poder aquisitivo dos trabalhadores e atrasa o
desenvolvimento nacional.
Nos últimos anos, a carga tributária brasileira vem se caracterizando por elevações ininterruptas. Em 1989, representava 21,9%
do PIB, e, em 2002, segundo dados do IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário),
chegou a 36,45% da produção nacional. Isso significa que um terço
de tudo o que foi produzido pela
sociedade no ano passado foi
apropriado pelo poder público.
Não é a maior taxa do mundo. A
Suécia se aproxima dos 50% e a
Alemanha também está à frente
do Brasil. Entretanto essas nações
registram uma renda per capita
anual acima de US$ 20 mil, contra
menos de US$ 3.000 por aqui.
Além disso, vale lembrar que
aqueles países oferecem serviços
públicos compatíveis com os dispêndios do contribuinte.
No caso do Brasil, são publicamente sabidas as condições dos
serviços prestados pelo Estado, o
que leva a concluir que os recursos que poderiam ser utilizados
na produção, para a geração de
renda e emprego e para a melhoria dos serviços prestados pelo Estado são dirigidos para o cumprimento de metas fiscais dos entes
federados. Nos últimos anos, a
prática danosa de aumentar receitas a qualquer custo para cobrir os
déficits orçamentários, em detrimento da produção, vem sendo
adotada rotineiramente pelo poder público.
Realizar uma profunda reforma
no sistema tributário nacional e
corrigir suas graves distorções são
aspirações antigas da sociedade
brasileira, que, neste momento,
analisa com ansiedade o retorno
do tema aos principais jornais do
país, reabrindo as discussões sobre o modelo tributário a ser adotado.
Entretanto, mesmo com a urgência do tema, o debate sobre a
reforma tributária novamente se
perde em propostas que não atendem os interesses da sociedade.
Perde-se tempo discutindo o fim
da cumulatividade do PIS e da
Cofins -e sua transformação em
Imposto sobre Valor Agregado-
e a elevação da alíquota do Imposto de Renda. Propõem-se tributos que serviriam de estímulo à
prática da sonegação, justamente
a principal anomalia da economia
brasileira que a reforma tributária
deveria combater.
Em vez de serem discutidas sistemáticas que vão piorar o atual
sistema, o governo e o Congresso
deveriam prestar atenção a uma
proposta que tramita na Câmara
dos Deputados há quase dois
anos e que está pronta para ser
votada. Refiro-me à PEC (proposta de emenda à constituição) nš
474/01, de autoria do ex-deputado
Marcos Cintra.
Visando implantar o Imposto
Único Federal (IUF) no país, a
proposta foi debatida à exaustão
por uma Comissão Especial destinada a apreciá-la e teve seu parecer, o qual tive a honra de relatar,
aprovado por unanimidade pelos
seus integrantes. No momento, a
proposta aguarda ser apreciada
pelo plenário da Câmara dos Deputados.
O IUF eliminaria 11 tributos federais (Imposto de Renda da pessoa física e jurídica, IPI, Cofins,
CPMF, CSLL, IOF, entre outros) e
incidiria sobre as movimentações
financeiras, semelhante ao CPMF.
Com uma alíquota de 1,7% no
crédito e no débito, totalizando
3,4%, o IUF preservaria o atual nível de arrecadação, sem prejuízos
aos cofres públicos. Eliminam-se,
assim, não só os tributos, mas um
sistema complexo, ineficiente, injusto e incentivador da sonegação.
Ressalta-se que o projeto altera
apenas as fontes de arrecadação.
As transferências financeiras para
os Estados, municípios e Previdência Social continuarão existindo. Estados e municípios ingressariam, ou não, após avaliação
dos resultados obtidos pela União
e por consulta pública. Essa transição gradual visa implantar um
novo sistema tributário seguro e
confiável.
O IUF significaria a simplificação do sistema de impostos e a
distribuição da carga tributária
com maior justiça social, aliviando a excessiva incidência sobre os
assalariados e sobre as empresas
organizadas.
A Secretaria da Receita Federal
manifestou-se tempos atrás comparando os impostos sobre valor
agregado e os incidentes sobre a
movimentação financeira. Diz a
Receita Federal: "Analisando um
pouco mais de perto a realidade
tributária do país, é questionável
se um imposto sobre o valor agregado, com multiplicidade de alíquotas, legislação complexa, alto
custo de administração e cumprimento, base erodida por diversas
isenções e benefícios fiscais, impõe realmente menor custo à eficiência econômica do país do que
um tributo do tipo CPMF, com
base ampla, baixa alíquota e custo
praticamente nulo de administração e cumprimento".
Os números falam por si mesmos: com uma alíquota de 0,38%
e incidindo somente no débito, a
CPMF arrecadou, em 2002, mais
de R$ 20 bilhões. Por ser um tributo de baixa sonegação, o IUF
ampliaria a base tributária atual,
elevando o número de contribuintes, e promoveria a desoneração do setor produtivo e a formalização de milhares de empresas
que se encontram na ilegalidade.
É mais do que uma proposta, é a
reforma desejada por todos os
brasileiros.
Em recente pesquisa, o Instituto
Datafolha comprovou a aceitação
da proposta no brasileiros. Entre
os 40% da população que conhecem o projeto, 70% aprovam a
idéia.
As nossas autoridades devem
entender que a sociedade não pretende se isentar da obrigação de
pagar tributos, mas exige um sistema que respeite a capacidade
contributiva do cidadão e que o
Estado ofereça serviços públicos
de qualidade. Princípios esses plenamente atendidos pelo Imposto
Único Federal.
Carlos Eduardo Cadoca, deputado federal (PMDB-PE), é relator da PEC do Imposto Único Federal na Câmara dos Deputados e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.
E-mail - dep.carloseduardocadoca@camara.gov.br
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