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INFLEXÃO?
Em depoimento ao Senado, ministro da Fazenda diz que política fiscal não muda, mas que aceita discutir outro tema
Palocci admite debater meta de inflação
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, ontem foi a vez de o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) admitir, com mais ênfase, o debate em
torno das regras do regime de metas de inflação -citando autores
que advogam a adoção de metas
menos ambiciosas para ampliar
as possibilidades de crescimento
econômico. Ressaltou, porém,
que a política fiscal não muda.
"Os países em desenvolvimento
tendem a conviver com índices
um pouco maiores de inflação",
disse Palocci, em referência a estudos internacionais. "Essas
questões fazem parte do debate
estrutural, de longo prazo, do
Brasil", complementou.
As declarações foram dadas em
sessão de 6 horas e 40 minutos da
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na qual Palocci
afirmou que as bases da política
econômica -com ênfase especial
nas metas fiscais- serão mantidas. "A política econômica, em
seus pilares fundamentais, não
vai mudar, não pode mudar, não
deve mudar."
Na semana passada, a comissão
ouviu Meirelles, que considerou
"legítima" a discussão de uma
proposta apresentada pelo líder
do governo no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), pela qual a
meta de inflação deste ano, de
5,5%, deveria ser mantida em
2005 e 2006. Na prática, a idéia
implicaria elevar a meta do próximo ano, de 4,5% -a meta de
2006 ainda não foi fixada.
Mercadante voltou a insistir ontem na tese, mencionando dados
atribuídos ao economista americano Edwin Truman segundo os
quais uma inflação entre 5% e 9%
anuais é a mais favorável, em termos de crescimento econômico,
aos países emergentes. O senador
apontou ainda que apenas em
1947 e 1998 o Brasil registrou inflação abaixo dos 5,5%.
Argumento dos críticos
Ao comentar o tema, Palocci
chegou a repetir um dos principais argumentos dos críticos do
sistema brasileiro de metas: o de
que a política de juros acaba impondo sacrifícios inúteis ao combater a inflação errada, ou seja, as
elevações de preços causadas por
preços administrados (como tarifas de energia elétrica e telefonia,
fixadas em contratos) ou por choques externos.
"O debate [sobre o regime de
metas] é procedente. É um instrumento que sempre tem de ser
aperfeiçoado. Ele tem uma ação
efetiva sobre a demanda e que evidentemente não é efetiva sobre
preços administrados. Não há política monetária que mude aquele
aumento [de preços] determinado no contrato. E não há política
monetária que mude uma evolução resultante de uma mudança
de preços internacionais", disse.
Palocci relatou ter ouvido, no
ano passado, o economista Olivier Blanchard, do MIT (Massachusetts Institute of Technology),
que, em entrevista publicada pela
Folha no domingo, criticou a
adoção de metas excessivamente
rígidas. "O doutor Blanchard falava que é preciso um forte compromisso fiscal e que a meta de inflação entre 5% e 6% estava adequada", afirmou Palocci.
A pouca experiência internacional e brasileira na adoção de metas, segundo o ministro, justifica o
debate -o Conselho Monetário
Nacional (CMN) voltará a discutir
metas de inflação em junho próximo. "A experiência é exitosa,
mas precisa ser avaliada, analisada, debatida com transparência
para que possamos cada vez mais
qualificar os nossos instrumentos", disse o ministro.
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