São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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INFLEXÃO?

Em depoimento ao Senado, ministro da Fazenda diz que política fiscal não muda, mas que aceita discutir outro tema

Palocci admite debater meta de inflação

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ontem foi a vez de o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) admitir, com mais ênfase, o debate em torno das regras do regime de metas de inflação -citando autores que advogam a adoção de metas menos ambiciosas para ampliar as possibilidades de crescimento econômico. Ressaltou, porém, que a política fiscal não muda.
"Os países em desenvolvimento tendem a conviver com índices um pouco maiores de inflação", disse Palocci, em referência a estudos internacionais. "Essas questões fazem parte do debate estrutural, de longo prazo, do Brasil", complementou.
As declarações foram dadas em sessão de 6 horas e 40 minutos da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na qual Palocci afirmou que as bases da política econômica -com ênfase especial nas metas fiscais- serão mantidas. "A política econômica, em seus pilares fundamentais, não vai mudar, não pode mudar, não deve mudar."
Na semana passada, a comissão ouviu Meirelles, que considerou "legítima" a discussão de uma proposta apresentada pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), pela qual a meta de inflação deste ano, de 5,5%, deveria ser mantida em 2005 e 2006. Na prática, a idéia implicaria elevar a meta do próximo ano, de 4,5% -a meta de 2006 ainda não foi fixada.
Mercadante voltou a insistir ontem na tese, mencionando dados atribuídos ao economista americano Edwin Truman segundo os quais uma inflação entre 5% e 9% anuais é a mais favorável, em termos de crescimento econômico, aos países emergentes. O senador apontou ainda que apenas em 1947 e 1998 o Brasil registrou inflação abaixo dos 5,5%.

Argumento dos críticos
Ao comentar o tema, Palocci chegou a repetir um dos principais argumentos dos críticos do sistema brasileiro de metas: o de que a política de juros acaba impondo sacrifícios inúteis ao combater a inflação errada, ou seja, as elevações de preços causadas por preços administrados (como tarifas de energia elétrica e telefonia, fixadas em contratos) ou por choques externos.
"O debate [sobre o regime de metas] é procedente. É um instrumento que sempre tem de ser aperfeiçoado. Ele tem uma ação efetiva sobre a demanda e que evidentemente não é efetiva sobre preços administrados. Não há política monetária que mude aquele aumento [de preços] determinado no contrato. E não há política monetária que mude uma evolução resultante de uma mudança de preços internacionais", disse.
Palocci relatou ter ouvido, no ano passado, o economista Olivier Blanchard, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), que, em entrevista publicada pela Folha no domingo, criticou a adoção de metas excessivamente rígidas. "O doutor Blanchard falava que é preciso um forte compromisso fiscal e que a meta de inflação entre 5% e 6% estava adequada", afirmou Palocci.
A pouca experiência internacional e brasileira na adoção de metas, segundo o ministro, justifica o debate -o Conselho Monetário Nacional (CMN) voltará a discutir metas de inflação em junho próximo. "A experiência é exitosa, mas precisa ser avaliada, analisada, debatida com transparência para que possamos cada vez mais qualificar os nossos instrumentos", disse o ministro.


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