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TROCA DE COMANDO
Appy será o secretário-executivo e Kawall vai para o Tesouro; ministro diz que BC não é sua atribuição
Mercado recebe bem indicações de Mantega
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega (Fazenda) divulgou ontem o nome
de seus dois principais auxiliares:
Bernard Appy, 44, será o secretário-executivo e Carlos Kawall, 44,
ocupará a Secretaria do Tesouro
Nacional. Analistas do mercado
financeiro receberam bem as escolhas (leia texto à pág. B4).
Com a indicação de Kawall,
Mantega procurou reforçar seu
discurso de compromisso com as
metas de ajuste fiscal e deu um
passo para diluir parte das dúvidas que ainda persistem no mercado sobre a sua atuação à frente
do ministério. Ele é um nome respeitado e com credibilidade perante a comunidade financeira.
Economista-chefe do Citibank
por oito anos, ele é visto por amigos como uma pessoa "avessa a
aventuras" e comunga da tese de
que é necessário equilibrar as
contas públicas e reduzir a dívida
do governo. No entanto, também
é visto com um viés mais desenvolvimentista do que seu antecessor, Joaquim Levy, que está indo
para o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Kawall e Appy foram os dois
primeiros nomes da nova equipe
econômica anunciados pelo novo
ministro. Appy, que até ontem estava à frente da Secretaria de Política Econômica (SPE) do ministério, retornará para o cargo que
ocupou entre janeiro de 2003 a
maio do ano passado.
Segundo Mantega, ele e Appy
têm um bom relacionamento,
que começou antes mesmo de
ocuparem cargos públicos. A relação foi reforçada quando Mantega assumiu o Ministério do Planejamento no início do governo
Lula. Como Appy era o secretário-executivo da Fazenda, os dois
tinham contato direto.
Economista formado pela Universidade de São Paulo, Appy trabalhou na LCA Consultores antes
de ir para o governo. Realizou vários trabalhos sobre finanças públicas e sistema financeiro. Também desenvolveu estudos sobre
competitividade e prestou assessoria técnica em disputas judiciais
relacionadas à concorrência.
Até Mantega encontrar um novo nome para a SPE, o cargo será
ocupado interinamente pelo secretário-adjunto Otávio Ribeiro
Damásio. Mantega disse que pretende concluir a formação da sua
equipe na semana que vem. Segundo ele, ainda é preciso conversar com os demais secretários para saber quem pretende ficar.
Nessa lista estão os secretários
da Receita Federal, Jorge Rachid,
de Assuntos Internacionais, Luiz
Pereira, e o procurador-geral da
Fazenda Nacional (PGFN), Manoel Felipe Brandão. É provável
ainda que Mantega conte na sua
equipe com a economista Solange
de Paiva Vieira, que foi secretária
de Previdência Complementar
(SPC) do Ministério da Previdência no governo Fernando Henrique Cardoso.
Paiva, que assessorava o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, esteve
reunida com Mantega no início
da noite da última quarta-feira.
Segundo a Folha apurou, ela já estava negociando com o ex-secretário-executivo da Fazenda Murilo Portugal sua ida para o ministério. Nesta semana, Mantega disse
que gostaria de tê-la na equipe.
Appy assumirá sua nova função
imediatamente. Já Carlos Kawall
irá para o ministério somente na
segunda-feira. Primeiro, terá que
se desvincular do BNDES, onde é
diretor na área financeira e de
mercado de capitais.
O economista foi convidado para o BNDES por Mantega e lá estabeleceram uma parceria que
"funcionou", segundo contam
pessoas próximas ao ministro. Ao
anunciar seu nome para a Secretaria do Tesouro, Mantega ressaltou as qualidades do economista e
também o fato de ele ter experiência nas áreas pública e privada.
"[Kawall] está muito preparado
para o cargo. Trabalhou no Citibank e também no Banespa e na
Eletropaulo. Tem experiência pública e privada", disse o ministro.
Formado pela Universidade de
São Paulo, em 1982, Kawall fez
mestrado e doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp)
onde defendeu teses sobre política industrial e mercado de crédito
de longo prazo no Brasil. Ele também dá aula na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na
área de finanças públicas.
Além de ser bem aceito no mercado financeiro, Kawall deverá ser
uma peça importante para "acertar" o relacionamento entre a Fazenda e o Banco Central. Mantega
tem dado sinais de que não pretende "provocar brigas" ou "acirrar ânimos". Ao contrário, pessoas que já trabalharam com ele
afirmam que o ministro sabe
atuar em equipe.
No entanto, ele teria achado
"pouco educada" a estratégia
acertada entre o presidente do
BC, Henrique Meirelles, e o ex-ministro Antonio Palocci Filho de
vincular a presidência do BC diretamente ao presidente da República, como se, na prática, ele não
tivesse que passar pela Fazenda.
Isso foi interpretado como uma
tentativa de se impor. Ainda assim, ontem, ao ser questionado
sobre a equipe do BC, Mantega
respondeu imediatamente: "O BC
não é minha atribuição".
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