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MAURICIO TOLMASQUIM
A explosão do mercado de álcool
Dois fatos têm influenciado
o mercado internacional
de álcool: altos preços do petróleo e temas ambientais
O MERCADO DO álcool combustível no Brasil vem atravessando um período de mudanças significativas, devido principalmente a dois fatores: a introdução dos veículos do tipo "flexfuel" e
as perspectivas de exportação desse
combustível renovável.
Com a inovação dos veículos "flexfuel", resolveu-se a principal barreira para a retomada do uso automotivo de álcool hidratado: a garantia de
abastecimento para o consumidor.
Ao permitir que o proprietário migre para a gasolina -em casos de desabastecimentos no mercado de álcool hidratado ou de redução do preço do derivado- e vice-versa, o veículo "flex" harmonizou novamente
os interesses dos usuários, dos usineiros e das montadoras, garantindo abastecimento de combustível ao
consumidor, flexibilidade de mercado ao setor sucroalcooleiro e estabilidade produtiva à indústria automobilística.
No que tange às exportações, dois
fatos têm influenciado o mercado
internacional de álcool: os altos preços do petróleo e as questões ambientais. Os maiores consumidores
de derivados de petróleo, em razão
da alta dos preços, têm buscado opções de abastecimento com outros
combustíveis, notadamente os renováveis.
Já as questões ambientais passaram a se sobrepor às econômicas,
em razão da necessidade de redução
das emissões de gases de efeito estufa de modo a frear o processo de
aquecimento global. Relatório do
IPCC (Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas) divulgado no início de 2007 reforçou as
análises anteriores sobre a relação
das atividades humanas com a aceleração do aquecimento global.
Conseqüentemente, Estados Unidos e UE (União Européia) vêm se
empenhando na substituição de
uma parcela dos combustíveis derivados de petróleo, principalmente
do diesel e da gasolina, no setor de
transporte.
No início de 2007, o presidente
George W. Bush anunciou que os
Estados Unidos deverão substituir
20% de sua gasolina por etanol nos
próximos dez anos. Para ter idéia do
arrojo dessa meta, 20% do mercado
de gasolina correspondem a 140 bilhões de litros, os quais representam
uma demanda quase três vezes superior à produção total de álcool do
mundo, de cerca de 50 bilhões de
litros.
Recentemente, o Conselho Europeu assumiu o compromisso de alcançar até 2020 uma redução de pelo menos 20% das emissões de gases
de efeito estufa em relação a 1990.
Duas metas foram estabelecidas: o
alcance de 20% de participação com
energias renováveis em relação ao
consumo total de energia na União
Européia e de 10% de participação
com biocombustíveis do consumo
de gasolina e diesel para transportes
na União Européia, representando
um volume de aproximadamente 13
bilhões de litros de álcool.
Outro mercado importante é o do
Japão, que vem sinalizando intenção de adicionar até 10% de etanol
na gasolina, equivalente a uma demanda de cerca de 6 bilhões de litros
por ano do combustível renovável.
Caso todas essas metas sejam alcançadas, a demanda por biocombustíveis aumentaria para cerca de
160 bilhões de litros nos próximos
13 anos, sem considerar o crescimento do consumo de combustíveis
em cada mercado.
Como o aumento da demanda por
biocombustíveis decorre principalmente de preocupações ambientais,
pode-se imaginar que as barreiras
de cunho técnico ou mercadológico
podem ser derrubadas por decisões
políticas. É aí que o Brasil pode encontrar sua janela de oportunidade,
exportando combustível, conhecimento e bens de capital para um novo mercado energético mundial, que
se constitui em países em desenvolvimento. Assim como o petróleo alterou o perfil econômico e geopolítico do Oriente Médio, as ações para
enfrentar as mudanças climáticas
também podem exercer um papel
significativo de inserção da economia dos países periféricos na matriz
energética global.
Desafios para os empreendedores
brasileiros e para o governo são muitos, entre os quais o incremento da
produção nacional com responsabilidade sócio-ambiental, a manutenção da competitividade mundial e a
implantação de uma logística de
grande escala para escoamento da
produção até os portos. Mas é inequívoca a idéia de que o know-how
brasileiro na produção e no desenvolvimento do mercado de etanol
nos coloca em um nível acima de
grandes potências energéticas
mundiais.
MAURICIO TOLMASQUIM, 47, foi secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia entre 2003 e 2005 e é presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
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