São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Comércio global pára de crescer na passagem do ano

Expansão no trimestre encerrado em janeiro foi de 0,2%, contra taxa de 6,9% nos três meses até outubro passado

Números compilados por instituto holandês mostram que força dos emergentes não tem sido suficiente para compensar "freada" dos EUA

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Enquanto se discute se os EUA estão ou não em recessão, o mundo bota o pé no freio do comércio. Um novo estudo mostra que o volume de transações entre países praticamente parou de crescer na virada do ano. O motivo principal é a desaceleração das economias americana e européia.
Segundo os indicadores do Escritório de Análise da Política Econômica, na Holanda, nos três meses até janeiro de 2008, o comércio mundial cresceu apenas 0,2% na comparação com o mesmo período, um ano antes. É uma queda significativa em relação ao trimestre anterior, quando o comércio havia crescido 6,9%, no início da crise imobiliária nos EUA.
Além de confirmar os efeitos globais da crise, os números do instituto mostram que o bom desempenho dos emergentes não está sendo suficiente para compensar a desaceleração americana, como torciam alguns países industrializados. Recentemente, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, disse que confiava na demanda interna dos emergentes para "reequilibrar" a economia mundial.
Para o economista Wim Suyker, um dos coordenadores do estudo, embora sofra influência de fatores sazonais, como o inverno na China, os primeiros números do ano revelam clara tendência de queda no comércio mundial. "Estamos vendo que a desaceleração nos EUA teve reflexos no volume do comércio como um todo", afirmou Suyker à Folha. Ele usou números fornecidos pelos países para chegar ao indicador, que é monitorado pelo FMI.
O instituto prevê que o comércio global em 2008 crescerá 4,5%, depois de detectar expansões bem maiores em 2007 (7,1%) e 2006 (9,8%). Em outra demonstração de que não há imunidade à crise, Suyker disse que, nos cálculos do instituto, o aumento do comércio dos países emergentes deve sofrer nos primeiros meses do ano. A previsão é de um volume de transações até 12% menor.
No fim de 2007, quando já se vislumbrava uma crise grave nos EUA, a OMC (Organização Mundial do Comércio) já dava mostras de que as transações entre os países estava sendo afetada. Depois de prever um crescimento de 6% no comércio, a OMC reconheceu que o índice era alto demais e o revisou para não mais de 5,5%.
Diante da tendência de queda, Suyker diz que já não é improvável uma retração do comércio nos próximos meses. A última vez que isso ocorreu foi em 2001, época da recessão que se seguiu ao estouro da bolha de tecnologia nos EUA e aos ataques do 11 de Setembro.


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