|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novo pacote mostra os limites da ação do governo na área fiscal
Ao contrário de medidas anteriores, desta vez um setor (cigarro) teve de pagar parte da conta dos benefícios a outros
Arrecadação em queda força governo a buscar mais recursos para estimular economia; conta de Mantega não fecha
Moacyr Lopes Junior - 20.mar.09/Folha Imagem
|
|
Veículos para exportação à espera de embarque em cais no porto de Santos, no litoral paulista
JULIANA ROCHA
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os novos cortes de impostos
anunciados ontem marcam
uma nova fase no combate à
crise: acabou o benefício sem
sacrifício. Pela primeira vez
desde a piora no cenário internacional, em outubro, as desonerações serão compensadas
diretamente por aumentos de
impostos.
Segundo estimativa da Receita Federal obtida pela Folha, o governo perderá, sem a
conta de ontem, R$ 10,4 bilhões
em 2009 para pagar as medidas
anticíclicas e de estímulo a setores atingidos pela crise.
A maior parte dos benefícios
foi concentrada em pessoas físicas. A criação das alíquotas de
7,5% e 22,5% do IR da pessoa física custará R$ 5,6 bilhões, e a
redução no imposto cobrado
sobre empréstimos, outros R$
2,5 bilhões.
Desta vez, no entanto, foi
preciso buscar uma fonte de recursos para compensar parte
dos benefícios a montadoras,
construtoras, fabricantes de celulose e até de brinquedos, entre outros. Os cigarros foram
cuidadosamente escolhidos.
Já havia a intenção no governo de aumentar a tributação
sobre cigarros. Junto com os
bancos e bebidas, o tabaco forma a trinca dos setores que a
nova administração da Receita
Federal quer ver pagando mais
impostos e mais fiscalizados.
Com a arrecadação caindo
quase 10% no bimestre em relação a 2008, o anúncio de ontem trouxe o recado de que não
há espaço para abrir mão de receitas sem reduzir ainda mais o
rigor fiscal do governo para pagar os juros da dívida pública.
Conta não fecha
Ao contrário do que anunciou o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, o aumento de
tributos sobre cigarros não será
suficiente para cobrir, neste
ano, as desonerações concedidas para a compra de materiais
de construção e motos e a prorrogação do benefício para automóveis e caminhões por três
meses.
Segundo os cálculos apresentados pela Receita Federal na
noite de ontem, as novas desonerações representam R$ 1,675
bilhão a menos na arrecadação
federal. O aumento de alíquotas de IPI e PIS/Cofins sobre
cigarros deverá responder por
mais R$ 975 milhões na receita
deste ano.
O subsecretário de Tributação substituto, Sandro Serpa,
disse que o aumento de tributos sobre cigarros não tem prazo para acabar. Portanto, em
2010 a receita adicional pode
chegar a R$ 1,5 bilhão, como
anunciou Mantega, já que o tributo maior poderá valer desde
janeiro. Mas, para cobrir os gastos do Orçamento de 2009, a
conta do ministro não fecha.
O governo editou um decreto, que deve sair hoje no "Diário
Oficial" da União, elevando em
23,5% o IPI sobre cigarros. Como são seis faixas de tributação, a cobrança vai variar de R$
0,76 por maço de 20 cigarros a
R$ 1,39 por maço. Na tabela antiga, o imposto variava de R$
0,61 a R$ 1,13. O PIS/Cofins aumentou em cerca de 70%, passando de 6% para 9,8% do preço do maço.
O cálculo das desonerações
apresentadas pela Receita inclui: prorrogação do IPI mais
baixo para automóveis e caminhões (R$ 1,080 bilhão de renúncia fiscal), redução de IPI
para materiais de construção
(R$ 257 milhões), desoneração
para motos (R$ 70 milhões), redução de IR para cinco setores
da área da Sudam, entre eles
papel e celulose (R$ 30 milhões), e o RET (Regime Especial de Tributação) para empresas de construção civil, anunciado com o pacote habitacional (R$ 238 milhões).
A arrecadação federal terá
impacto, ainda, da desoneração
do IPI para automóveis no primeiro trimestre deste ano. Segundo a Receita, o governo deixou de arrecadar R$ 1,4 bilhão
com essa medida, que não está
incluída na conta de novas desonerações.
Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Casas, geladeiras, fogões e empregos Próximo Texto: Frase Índice
|