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REMÉDIO AMARGO
Gráficos mostram curva exatamente inversa da Selic média e da taxa que mede o desempenho da economia
Estudo demonstra que juro alto retrai PIB
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Um levantamento feito pela
consultoria Global Invest, a pedido da Folha, comprova que a curva de crescimento da economia
movimenta-se em sentido inverso à da taxa de juros. O trabalho
abrangeu os 13 últimos trimestres, iniciados em janeiro de 2000.
De acordo com o analista econômico Nélson Luiz Bastos Carneiro, responsável pelo estudo, as
exceções ficam por conta de efeitos estatísticos ou decorrem da
defasagem natural entre os movimentos dos juros e as reações dos
setores produtivos da economia.
A comparação da taxa média
trimestral dos juros básicos (taxa
Selic) foi feita com a variação trimestral do PIB (Produto Interno
Bruto) em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo
Carneiro, a comparação com o
trimestre anterior é muito de curto prazo e dificulta a análise.
A taxa de crescimento do PIB
manteve-se relativamente alta,
entre 5,25% e 3,98%, no período
entre o primeiro trimestre de
2000 e o primeiro de 2001. No
mesmo período, a taxa de juros
média do trimestre manteve uma
trajetória de queda, passando de
18,97% para 15,39%.
A partir do segundo trimestre
de 2001 a trajetória dos juros se inverteu, alcançando uma média no
período de 16,53%, ao mesmo
tempo em que a taxa do PIB começou a encolher, ficando em
2,08%.
Entre o último trimestre de 2001
e o primeiro do ano passado, em
plena vigência do racionamento
de energia elétrica, a taxa do PIB
atingiu o seu ponto mais baixo
dos últimos três anos, caindo
0,75% no primeiro trimestre e
0,8% no segundo. A taxa de juros
estava em alta, chegando a 19%
nos últimos três meses de 2001 e
mantendo-se praticamente estável (18,86%) ao longo dos primeiros três meses de 2002.
Leve recuperação
Os juros começaram a cair suavemente no segundo trimestre do
ano passado e a economia também apresentou sinais de reação,
com taxas de crescimento que traziam forte efeito estatístico em razão de os trimestres estarem sendo comparados com períodos de
crescimento muito baixo.
Tanto que a tendência de crescimento manteve-se nos últimos
três meses, com o PIB alcançando
a taxa de 3,44%, apesar de os juros
médios do período terem subido
para 21,34%. No primeiro trimestre deste ano, quando os juros
médios dispararam para 25,93%,
nem a base de comparação baixa
(-0,8%) impediu que houvesse
uma desaceleração do crescimento econômico, para 2%.
De acordo com Carneiro, a economia neste ano não deverá crescer mais que 1,5%, a mesma taxa
do ano passado, mesmo assim
graças à agropecuária e às exportações. "A grande crítica que fica
ao governo é a de estar pagando,
pela busca de uma inflação baixa,
o preço da recessão", disse.
Para Carneiro, o governo está,
erradamente, usando juros para
derrubar uma inflação que tem
como principais alimentadores os
preços administrados ou monitorados pelo próprio governo.
O economista Flávio Castelo
Branco, coordenador da Unidade
de Política Econômica da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), disse que, dependendo
da intensidade do aperto monetário (alta dos juros), seus efeitos se
estendem por um tempo maior
porque a resposta da economia à
queda dos juros é lenta.
Segundo ele, se o abrandamento dos juros começar em junho, só
no último trimestre deste ano a
economia mostrará claramente
uma reação à mudança.
O economista Roberto Olinto,
coordenador da equipe do PIB do
IBGE, disse que os juros altos impactam negativamente no crescimento econômico especialmente
de três formas: reduzem o consumo das famílias, por estreitar o
crédito; inibem a construção civil,
pelo mesmo motivo; e fazem as
empresas postergarem suas decisões de investimentos.
No primeiro trimestre deste ano
o consumo das famílias caiu 2,3%,
a construção, 1,7% e os investimentos, 1,5%
Com a falta de investimentos,
segundo ele, as empresas usam
suas capacidades instaladas até o
limite. Quando há a retomada do
crescimento, vem o gargalo à produção e o risco de inflação de demanda (o mercado procura mais
bens do que as empresas podem
ofertar).
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