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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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REMÉDIO AMARGO

Gráficos mostram curva exatamente inversa da Selic média e da taxa que mede o desempenho da economia

Estudo demonstra que juro alto retrai PIB

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Um levantamento feito pela consultoria Global Invest, a pedido da Folha, comprova que a curva de crescimento da economia movimenta-se em sentido inverso à da taxa de juros. O trabalho abrangeu os 13 últimos trimestres, iniciados em janeiro de 2000.
De acordo com o analista econômico Nélson Luiz Bastos Carneiro, responsável pelo estudo, as exceções ficam por conta de efeitos estatísticos ou decorrem da defasagem natural entre os movimentos dos juros e as reações dos setores produtivos da economia.
A comparação da taxa média trimestral dos juros básicos (taxa Selic) foi feita com a variação trimestral do PIB (Produto Interno Bruto) em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo Carneiro, a comparação com o trimestre anterior é muito de curto prazo e dificulta a análise.
A taxa de crescimento do PIB manteve-se relativamente alta, entre 5,25% e 3,98%, no período entre o primeiro trimestre de 2000 e o primeiro de 2001. No mesmo período, a taxa de juros média do trimestre manteve uma trajetória de queda, passando de 18,97% para 15,39%.
A partir do segundo trimestre de 2001 a trajetória dos juros se inverteu, alcançando uma média no período de 16,53%, ao mesmo tempo em que a taxa do PIB começou a encolher, ficando em 2,08%.
Entre o último trimestre de 2001 e o primeiro do ano passado, em plena vigência do racionamento de energia elétrica, a taxa do PIB atingiu o seu ponto mais baixo dos últimos três anos, caindo 0,75% no primeiro trimestre e 0,8% no segundo. A taxa de juros estava em alta, chegando a 19% nos últimos três meses de 2001 e mantendo-se praticamente estável (18,86%) ao longo dos primeiros três meses de 2002.

Leve recuperação
Os juros começaram a cair suavemente no segundo trimestre do ano passado e a economia também apresentou sinais de reação, com taxas de crescimento que traziam forte efeito estatístico em razão de os trimestres estarem sendo comparados com períodos de crescimento muito baixo.
Tanto que a tendência de crescimento manteve-se nos últimos três meses, com o PIB alcançando a taxa de 3,44%, apesar de os juros médios do período terem subido para 21,34%. No primeiro trimestre deste ano, quando os juros médios dispararam para 25,93%, nem a base de comparação baixa (-0,8%) impediu que houvesse uma desaceleração do crescimento econômico, para 2%.
De acordo com Carneiro, a economia neste ano não deverá crescer mais que 1,5%, a mesma taxa do ano passado, mesmo assim graças à agropecuária e às exportações. "A grande crítica que fica ao governo é a de estar pagando, pela busca de uma inflação baixa, o preço da recessão", disse.
Para Carneiro, o governo está, erradamente, usando juros para derrubar uma inflação que tem como principais alimentadores os preços administrados ou monitorados pelo próprio governo.
O economista Flávio Castelo Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), disse que, dependendo da intensidade do aperto monetário (alta dos juros), seus efeitos se estendem por um tempo maior porque a resposta da economia à queda dos juros é lenta.
Segundo ele, se o abrandamento dos juros começar em junho, só no último trimestre deste ano a economia mostrará claramente uma reação à mudança.
O economista Roberto Olinto, coordenador da equipe do PIB do IBGE, disse que os juros altos impactam negativamente no crescimento econômico especialmente de três formas: reduzem o consumo das famílias, por estreitar o crédito; inibem a construção civil, pelo mesmo motivo; e fazem as empresas postergarem suas decisões de investimentos.
No primeiro trimestre deste ano o consumo das famílias caiu 2,3%, a construção, 1,7% e os investimentos, 1,5%
Com a falta de investimentos, segundo ele, as empresas usam suas capacidades instaladas até o limite. Quando há a retomada do crescimento, vem o gargalo à produção e o risco de inflação de demanda (o mercado procura mais bens do que as empresas podem ofertar).


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