|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Ministro das Comunicações quer fim da indexação de aumentos; governo teme ruptura de contratos
Reajuste de teles opõe Miro a Dirceu e Palocci
KENNEDY ALENCAR
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros José Dirceu (Casa
Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) travam contra o colega
Miro Teixeira (Comunicações)
uma disputa para definição de
novos critérios das tarifas telefônicas. Lobbies empresariais acirraram os ânimos nos bastidores.
A disputa chegou ao conhecimento do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que deverá tomar
posição definitiva nos próximos
dias. Na terça-feira, ele receberá
representantes das empresas que
criticam Miro.
A posição do ministro, que já
esteve mais forte, pode ser suavizada. Motivo: o governo está
preocupado em não tomar medidas que transmitam imagem de
ruptura de contratos.
Miro defende, desde fevereiro, o
fim da indexação nos novos contratos das operadoras de telefonia
fixa, que entram em vigor em
2006. A posição é contrária à da
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que já havia se
posicionado pela manutenção do
IGP-DI, índice que atualmente
corrige as tarifas.
Ao lado de Miro, estão operadoras telefônicas de longa distância,
como Embratel e Intelig. Isso causou desconforto entre as teles locais (Brasil Telecom, Telemar e
Telefônica). As operadoras locais
exercem monopólio nas suas
áreas de concessão, e as de longa
distância querem chegar a esse
mercado. Ou seja, mudanças no
cenário atual beneficiam mais as
operadoras de longa distância.
O ministro das Comunicações
chegou a conseguir o aval de Lula
para a sua política, apresentada
na minuta de um decreto que está
agora na Casa Civil, depois de já
ter recebido aval jurídico da Advocacia Geral da União.
A reação das teles locais, que argumentam que investiram mais
de R$ 60 bilhões nos últimos cinco anos, bateu em cheio na Casa
Civil e na Fazenda, sensibilizando
Dirceu e Palocci porque tocou numa ferida.
Lula e seus auxiliares avaliam
que a declaração presidencial que
mais teve efeito negativo nos cinco meses de poder foi o questionamento -repetido em privado
e em público- ao poder das chamadas agências reguladoras.
Lula disse que o Brasil havia sido "terceirizado" no governo
FHC e afirmou que mudaria esse
quadro. A Casa Civil, ironicamente, tem um plano para diminuir o
poder das agências.
Agora, há oficialmente uma disputa jurídica, com ambos os lados
apontando eventuais ilegalidades.
Mas a disputa é política e econômica.
Lei
Em tese, a LGT (Lei Geral de Telecomunicações) estabelece que
cabe à Anatel elaborar os novos
contratos. Mas a mesma lei estabelece também que cabe ao Poder
Executivo fixar as políticas para o
setor. Essa foi a brecha encontrada por Miro para contornar a posição da agência -por meio de
um decreto sobre "políticas" de
telecomunicação acabando com a
indexação nos contratos e estabelecendo que os reajustes teriam
por base os custos das empresas.
Quando a minuta do decreto foi
divulgada, já havia um recuo do
governo: tinha ficado para dezembro de 2004 a definição sobre
o procedimento a ser adotado nos
reajustes e havia a possibilidade
de manter a indexação. O prazo
inicial era junho deste ano.
Ainda assim, as empresas reclamaram muito. Após reunião com
a presença de Palocci, foi dada às
teles o direito de fazer contribuições ao texto do decreto.
A Brasil Telecom atacou Miro e
disse que sua política trazia os
"riscos" de afastar "investidores"
e de sucatear o setor. A empresa
vê uso das tarifas como "instrumento político" para, por exemplo, controlar a inflação.
A Telefônica foi na mesma linha. "Consideramos injusta do
ponto de vista econômico -além
de ilegal, do ponto de vista jurídico- a proposta de a partir de
2006 aplicar-se um novo modelo
tarifário."
Texto Anterior: Crise: Sars faz PIB de Hong Kong encolher 0,3% Próximo Texto: Ferrovias: Agência multa concessionária em R$ 1,8 mi Índice
|