São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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SISTEMA FINANCEIRO

Receita com operações de crédito e aplicações em títulos cai de R$ 19,99 bi, em 2003, para R$ 18,42 bi

Bancos lucram menos com juros neste ano

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro dos maiores bancos do país ganharam R$ 18,42 bilhões com juros no primeiro trimestre deste ano. Apesar da grandeza do valor, as receitas com juros começam a encolher devido à queda de mais de 10 pontos percentuais da Selic, a taxa básica da economia.
No primeiro trimestre do ano passado, quando a Selic estava em 26,5% ao ano, desaguaram nos cofres das quatro grandes instituições do país -Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Unibanco- R$ 19,99 bilhões.
Esses recursos são a soma das receitas obtidas com operações de crédito (empréstimos a pessoas físicas e jurídicas) e com aplicações em títulos e valores mobiliários (dos quais mais de 90% são títulos públicos).
Os dados foram levantados pela ABM Consulting, que analisou os balanços trimestrais dos quatro maiores bancos do país, a pedido da Folha. O levantamento constatou que houve uma queda de 7,8% nas receitas dessas instituições com juros no período.
Para Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting, essa perda de receitas revela que os grandes bancos ainda são muito dependentes da taxa básica de juros, paga pelo governo.
"O recuo da Selic afetou fortemente a rentabilidade das carteiras de títulos e valores mobiliários", observa Matias. Também começa a arranhar o resultado da atividade bancária.
Segundo o estudo, a rentabilidade média da carteira de títulos dos quatro bancos caiu de 26%, no primeiro trimestre de 2003, para 17% em igual período deste ano. Esse recuo, entretanto, não pode ser compensado pelos ganhos obtidos nos empréstimos concedidos pelos bancos.
Isso porque a rentabilidade da carteira de crédito aumentou apenas um ponto percentual -de 18% para 19%- na comparação do primeiro trimestre de 2003 com o deste ano.
"Foi um aumento marginal que se deve, provavelmente, ao fato de que os bancos captaram neste ano a um custo menor do que no início de 2003, e ficaram com uma margem de ganho maior nas operações de crédito", diz Gustavo Pedreira, economista da ABM.

Atividade bancária
Para medir se o recuo da Selic já está tendo impacto sobre os ganhos dos bancos com sua atividade principal, a ABM analisou a rentabilidade da atividade bancária das quatro instituições. Isso não é o lucro final do banco -que continua crescente-, mas o ganho com sua atividade-fim.
Esse indicador considera as receitas com juros, câmbio e prestação de serviços (taxas) menos as despesas administrativas e de pessoal. Não entram no cálculo as operações das coligadas (seguradoras, corretoras e outras empresas do grupo).
O estudo mostra que a rentabilidade da atividade bancária caiu de 38%, no primeiro trimestre do ano passado, para 37% neste ano. "Ainda é cedo para afirmar que essa é uma tendência, que os bancos fecharão 2004 com uma rentabilidade menor em sua atividade principal", diz Pedreira. Além disso, o recuo da rentabilidade da atividade bancária foi pequeno.
Já as receitas com prestação de serviços dos quatro grandes bancos totalizaram R$ 5,05 bilhões no primeiro trimestre deste ano contra R$ 4,06 bilhões em 2003. E as carteiras de títulos (total de aplicações nesses ativos) cresceram, em média, 8,5%.
O lucro somado das quatro instituições no primeiro trimestre deste ano foi de R$ 2,38 bilhões -aproximadamente 24% a mais do que nos primeiros três meses de 2003.

Febraban
A Folha procurou os bancos para conferir o impacto da queda dos juros nos seus balanços, mas eles preferiram não se manifestar. No entanto, na análise do resultado consolidado do Bradesco, exposta em sua página na internet, o banco diz que sua margem financeira sofreu um recuo de 1% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2003. Na comparação com dezembro passado o retração foi de 8,6%.
Margem financeira, explica Pedreira, da ABM, é o total das receitas obtidas com a intermediação financeira, menos as despesas dessa operação e excluídas as provisões para devedores duvidosos. "É o ganho de operações do banco", declara.
Na análise feita pelo próprio Bradesco, o banco salienta que "a variação da margem financeira é decorrente da redução, em R$ 132 milhões, do resultado das operações que rendem juros".
O Itaú também cita em sua apresentação dos resultados aos analistas de mercado que houve redução de sua margem financeira. Segundo o banco, isso seria reflexo da taxa de juros e de ganhos menores em operações de tesouraria (aplicações feitas com recursos do próprio banco, em geral em títulos públicos).
Para o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Roberto Troster, "o impacto da Selic [nas contas dos bancos] ainda é pequeno".
No entanto, ele admite que a redução da margem financeira, reportada pelos bancos, é "atípica".
Segundo Troster, os números do primeiro trimestre não são conclusivos. "Os bancos ganham com juros baixos em todo o mundo, pois a demanda por crédito sobe quando as taxas caem e a inadimplência diminui", afirma o economista.


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