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SISTEMA FINANCEIRO
Receita com operações de crédito e aplicações em títulos cai de R$ 19,99 bi, em 2003, para R$ 18,42 bi
Bancos lucram menos com juros neste ano
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro dos maiores bancos do
país ganharam R$ 18,42 bilhões
com juros no primeiro trimestre
deste ano. Apesar da grandeza do
valor, as receitas com juros começam a encolher devido à queda de
mais de 10 pontos percentuais da
Selic, a taxa básica da economia.
No primeiro trimestre do ano
passado, quando a Selic estava em
26,5% ao ano, desaguaram nos
cofres das quatro grandes instituições do país -Banco do Brasil,
Bradesco, Itaú e Unibanco- R$
19,99 bilhões.
Esses recursos são a soma das
receitas obtidas com operações de
crédito (empréstimos a pessoas
físicas e jurídicas) e com aplicações em títulos e valores mobiliários (dos quais mais de 90% são títulos públicos).
Os dados foram levantados pela
ABM Consulting, que analisou os
balanços trimestrais dos quatro
maiores bancos do país, a pedido
da Folha. O levantamento constatou que houve uma queda de
7,8% nas receitas dessas instituições com juros no período.
Para Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting, essa perda de receitas revela que os grandes bancos ainda são muito dependentes da taxa básica de juros,
paga pelo governo.
"O recuo da Selic afetou fortemente a rentabilidade das carteiras de títulos e valores mobiliários", observa Matias. Também
começa a arranhar o resultado da
atividade bancária.
Segundo o estudo, a rentabilidade média da carteira de títulos dos
quatro bancos caiu de 26%, no
primeiro trimestre de 2003, para
17% em igual período deste ano.
Esse recuo, entretanto, não pode
ser compensado pelos ganhos obtidos nos empréstimos concedidos pelos bancos.
Isso porque a rentabilidade da
carteira de crédito aumentou apenas um ponto percentual -de
18% para 19%- na comparação
do primeiro trimestre de 2003
com o deste ano.
"Foi um aumento marginal que
se deve, provavelmente, ao fato de
que os bancos captaram neste ano
a um custo menor do que no início de 2003, e ficaram com uma
margem de ganho maior nas operações de crédito", diz Gustavo
Pedreira, economista da ABM.
Atividade bancária
Para medir se o recuo da Selic já
está tendo impacto sobre os ganhos dos bancos com sua atividade principal, a ABM analisou a
rentabilidade da atividade bancária das quatro instituições. Isso
não é o lucro final do banco
-que continua crescente-, mas
o ganho com sua atividade-fim.
Esse indicador considera as receitas com juros, câmbio e prestação de serviços (taxas) menos as
despesas administrativas e de pessoal. Não entram no cálculo as
operações das coligadas (seguradoras, corretoras e outras empresas do grupo).
O estudo mostra que a rentabilidade da atividade bancária caiu
de 38%, no primeiro trimestre do
ano passado, para 37% neste ano.
"Ainda é cedo para afirmar que
essa é uma tendência, que os bancos fecharão 2004 com uma rentabilidade menor em sua atividade principal", diz Pedreira. Além
disso, o recuo da rentabilidade da
atividade bancária foi pequeno.
Já as receitas com prestação de
serviços dos quatro grandes bancos totalizaram R$ 5,05 bilhões no
primeiro trimestre deste ano contra R$ 4,06 bilhões em 2003. E as
carteiras de títulos (total de aplicações nesses ativos) cresceram,
em média, 8,5%.
O lucro somado das quatro instituições no primeiro trimestre
deste ano foi de R$ 2,38 bilhões
-aproximadamente 24% a mais
do que nos primeiros três meses
de 2003.
Febraban
A Folha procurou os bancos para conferir o impacto da queda
dos juros nos seus balanços, mas
eles preferiram não se manifestar.
No entanto, na análise do resultado consolidado do Bradesco, exposta em sua página na internet, o
banco diz que sua margem financeira sofreu um recuo de 1% no
primeiro trimestre deste ano em
relação a igual período de 2003.
Na comparação com dezembro
passado o retração foi de 8,6%.
Margem financeira, explica Pedreira, da ABM, é o total das receitas obtidas com a intermediação
financeira, menos as despesas
dessa operação e excluídas as provisões para devedores duvidosos.
"É o ganho de operações do banco", declara.
Na análise feita pelo próprio
Bradesco, o banco salienta que "a
variação da margem financeira é
decorrente da redução, em R$ 132
milhões, do resultado das operações que rendem juros".
O Itaú também cita em sua
apresentação dos resultados aos
analistas de mercado que houve
redução de sua margem financeira. Segundo o banco, isso seria reflexo da taxa de juros e de ganhos
menores em operações de tesouraria (aplicações feitas com recursos do próprio banco, em geral
em títulos públicos).
Para o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos
Bancos), Roberto Troster, "o impacto da Selic [nas contas dos
bancos] ainda é pequeno".
No entanto, ele admite que a redução da margem financeira, reportada pelos bancos, é "atípica".
Segundo Troster, os números
do primeiro trimestre não são
conclusivos. "Os bancos ganham
com juros baixos em todo o mundo, pois a demanda por crédito
sobe quando as taxas caem e a
inadimplência diminui", afirma o
economista.
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