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MERCADO FINANCEIRO
Variáveis externas e internas tornam impraticável determinar um percentual de crescimento anual
Para analistas, meta de expansão é inviável
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Adotar uma meta de crescimento é inviável, sobretudo em um
país com regime de metas de inflação, segundo economistas.
Mas a idéia, que vem sendo estudada pelo governo, segundo o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode ser interessante, se for
vista como um objetivo, um compromisso para criar condições favoráveis ao crescimento econômico -e não como uma meta-,
afirmam analistas.
A palavra meta é muito inadequada, dizem, em uníssono, economistas ouvidos pela Folha.
Crescimento econômico depende
de condições internas e externas,
nem todas controladas por quem
formula a política econômica.
"O máximo que [o governo]
consegue fazer é forjar parte dessas condições que favorecem o
crescimento, ainda que jamais
possam determiná-lo", diz Octavio de Barros, economista-chefe
do Bradesco.
Com a ressalva de que meta de
crescimento é uma "impossibilidade teórica e prática", Barros
afirma que a idéia pode ser levada
adiante como uma referência didática.
"Apenas para acelerar uma
agenda de reformas microeconômicas, o robustecimento da situação fiscal e do crédito bancário,
visando ao investimento."
"Meta é uma palavra muito forte, mas, como objetivo, acho didaticamente interessante", diz Andrei Spacov, economista do Unibanco.
Inflação
Economistas consideram que o
estabelecimento de uma meta de
crescimento estrita e de curto prazo poderia causar problemas ao
Banco Central, que tem metas de
inflação a zelar.
Na hora de compatibilizar as
metas, analistas não têm dúvida
de que a de inflação teria absoluta
prioridade para a autoridade monetária.
"Qualquer governo tem de ter
objetivos factíveis de PIB [Produto Interno Bruto]. Meta de crescimento não teria nada a ver com o
Banco Central, que tem que se
preocupar com a inflação. Ao estabelecer metas de inflação, o
Conselho Monetário Nacional teve que considerar esses objetivos", diz Spacov.
Segundo Barros, por ser inviável uma meta propriamente dita
de crescimento, "nenhum país"
adota esse tipo de mecanismo
anual.
O economista ressalta que alguns bancos centrais, como o Fed
(Federal Reserve, dos Estados
Unidos), perseguem uma política
monetária que reconhece, em alguns momentos, não ser necessário sacrificar o PIB.
"A China tem uma meta de, em
20 anos, quadruplicar o PIB, com
base no ano 2000."
Longo prazo
Uma meta de crescimento de
longo prazo seria mais viável, na
opinião do professor da faculdade
de economia do Ibmec (Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais), Eurilton Alves.
"Uma meta de ano a ano é complicado porque depende de variáveis internas e também do cenário
externo. Pode ter ano em que não
se consiga exportar tanto ou que
ocorra aumento de preço do petróleo. Não há controle sobre isso", diz.
Para Alves, num espaço de tempo mais longo, as variáveis não
são as mesmas do curto prazo.
"Desenvolvimento do nível do
capital humano, por exemplo, só
se fará num horizonte de longo
prazo. Por isso, a meta deveria ser
de dez anos. Do contrário, vai
causar frustração, mesmo que seja apenas um objetivo de crescimento, em vez de meta", afirma.
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