São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Variáveis externas e internas tornam impraticável determinar um percentual de crescimento anual

Para analistas, meta de expansão é inviável

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Adotar uma meta de crescimento é inviável, sobretudo em um país com regime de metas de inflação, segundo economistas.
Mas a idéia, que vem sendo estudada pelo governo, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode ser interessante, se for vista como um objetivo, um compromisso para criar condições favoráveis ao crescimento econômico -e não como uma meta-, afirmam analistas.
A palavra meta é muito inadequada, dizem, em uníssono, economistas ouvidos pela Folha. Crescimento econômico depende de condições internas e externas, nem todas controladas por quem formula a política econômica.
"O máximo que [o governo] consegue fazer é forjar parte dessas condições que favorecem o crescimento, ainda que jamais possam determiná-lo", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Com a ressalva de que meta de crescimento é uma "impossibilidade teórica e prática", Barros afirma que a idéia pode ser levada adiante como uma referência didática.
"Apenas para acelerar uma agenda de reformas microeconômicas, o robustecimento da situação fiscal e do crédito bancário, visando ao investimento."
"Meta é uma palavra muito forte, mas, como objetivo, acho didaticamente interessante", diz Andrei Spacov, economista do Unibanco.

Inflação
Economistas consideram que o estabelecimento de uma meta de crescimento estrita e de curto prazo poderia causar problemas ao Banco Central, que tem metas de inflação a zelar.
Na hora de compatibilizar as metas, analistas não têm dúvida de que a de inflação teria absoluta prioridade para a autoridade monetária.
"Qualquer governo tem de ter objetivos factíveis de PIB [Produto Interno Bruto]. Meta de crescimento não teria nada a ver com o Banco Central, que tem que se preocupar com a inflação. Ao estabelecer metas de inflação, o Conselho Monetário Nacional teve que considerar esses objetivos", diz Spacov.
Segundo Barros, por ser inviável uma meta propriamente dita de crescimento, "nenhum país" adota esse tipo de mecanismo anual.
O economista ressalta que alguns bancos centrais, como o Fed (Federal Reserve, dos Estados Unidos), perseguem uma política monetária que reconhece, em alguns momentos, não ser necessário sacrificar o PIB.
"A China tem uma meta de, em 20 anos, quadruplicar o PIB, com base no ano 2000."

Longo prazo
Uma meta de crescimento de longo prazo seria mais viável, na opinião do professor da faculdade de economia do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), Eurilton Alves.
"Uma meta de ano a ano é complicado porque depende de variáveis internas e também do cenário externo. Pode ter ano em que não se consiga exportar tanto ou que ocorra aumento de preço do petróleo. Não há controle sobre isso", diz.
Para Alves, num espaço de tempo mais longo, as variáveis não são as mesmas do curto prazo.
"Desenvolvimento do nível do capital humano, por exemplo, só se fará num horizonte de longo prazo. Por isso, a meta deveria ser de dez anos. Do contrário, vai causar frustração, mesmo que seja apenas um objetivo de crescimento, em vez de meta", afirma.


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