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LUÍS NASSIF
O homem errado
A tragédia da segurança
em São Paulo tem o nome e
o sobrenome do secretário
da Segurança Pública
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MESES ATRÁS , houve reunião
da área de segurança com o
ainda governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin. Algumas
vezes, ao longo de seu governo, Alckmin foi obrigado a arbitrar conflitos
entre o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e
o da Administração Penitenciária,
Nagashi Furukawa. Nessa reunião,
presente também o secretário da
Justiça, Alexandre de Moraes, Alckmin foi duro com Saulo. Chamou-o
de "desagregador".
Desde que entrou no governo, em
2002, Saulo atuou de forma desagregadora, tramando desde o primeiro dia contra Furukawa, um juiz
de sólida reputação e de ações inovadoras na área penitenciária. Contra
ele, Saulo tentou cooptar o secretário da Justiça e o secretário da Educação, Gabriel Chalita, entre outros.
Havia uma diferença fundamental entre ambos. Furukawa queria
que a polícia se concentrasse prioritariamente em prender os chefões
do crime, os criminosos efetivamente perigosos. Saulo dispersava a ação
policial em sua política-de-estatística. Não interessava o grau de periculosidade dos presos, contanto que
melhorasse suas estatísticas. Noventa por cento das prisões eram em
flagrante, denotando baixíssimo resultado das ações de inteligência.
Furukawa pretendia investir na
construção de presídios, permitindo
segregar as lideranças criminosas
dos pequenos meliantes. Mas a explosão de prisões para crimes irrelevantes matava qualquer estratégia
de combate profissional ao crime
organizado. Lotaram-se os presídios, e os bagrinhos aderiram ou ficaram reféns dos tubarões do crime.
Mais que isso. Desde o governo de
Mário Covas, havia uma determinação de que o comandante-geral da
polícia não poderia falar diretamente com o governador, mas teria que
passar, antes, pelo secretário da Segurança. Saulo se prevalecia desse
controle sobre as informações para
boicotar os colegas. Nem sequer há
troca de informações entre a Polícia
Militar e a Civil, para que o poder da
informação não escape das mãos do
secretário.
Se a polícia chega rapidamente,
consegue estancar uma rebelião na
Febem, na área de atuação da Secretaria da Justiça. Nas diversas rebeliões que ocorreram, o policiamento
levava mais de uma hora e meia,
porque Saulo dizia para o comando
que só ele podia autorizar a operação. Quando havia uma rebelião nas
penitenciárias, a polícia ficava sabendo em dez minutos; O secretário
da Administração Penitenciária só
era informado muito tempo depois.
Além de se indispor com colegas,
Saulo se afastou também do Ministério Público, conseguindo quebrar
totalmente o contato entre o órgão e
a polícia, que, aliás, nunca foi muito
bom. Na cúpula do Judiciário paulista, a resistência é a mesma. Na
área federal, jamais participou das
reuniões entre secretários da Segurança de outros Estados, sob a alegação de que "minha polícia" é melhor
do que todas as demais.
Por falta de conhecimento, de
tempo para juntar as informações
necessárias, o governador Cláudio
Lembo, um homem de bem, deu
cheque em branco para o homem
errado. Mas a tragédia da segurança
em São Paulo tem o nome e o sobrenome do secretário da Segurança
Pública.
@ - Luisnassif uol.com.br
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