São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ceagesp completa 40 anos com modelo em xeque

Sistema é fundamental para o país, mas modelo de negócio necessita de mudanças

Maior entreposto do Brasil negocia 60% de todo o abastecimento do país, mas tráfego de 18 mil caminhões por dia emperra a logística


AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) completa hoje 40 anos em meio a um dilema: segue fundamental para o abastecimento do país, mas, parada no tempo, está confinada a um modelo de negócio que necessita de mudanças.
Pela "cidade" de 760 mil metros quadrados, que negociou no ano passado mais de 3 milhões de toneladas de produtos, passam mercadorias que abastecem 64% do Estado e do país.
Apesar de verem esforços para melhorar o entreposto nos últimos anos, analistas apontam que problemas crônicos, como a falta de uma boa logística e até a pressão de sindicatos que operam no local, fizeram com que a Ceagesp não agregue mais valor aos produtos. Ao contrário, acrescenta custos.
Uma alternativa seria implementar também um sistema de negociação virtual, diz João Carlos de Souza Meirelles, ex-secretário de Agricultura de São Paulo, que tinha um projeto de retirar o entreposto de dentro da capital paulista. "O sistema de negociações físicas vem da nossa ancestralidade."
Com uma central virtual, diz, produtos que têm grandes volumes negociados, como a laranja, já iriam da região de produção para as de consumo, sem passar pela capital paulista -reduzindo o número de caminhões na cidade e a perda de qualidade dos produtos.
Hoje, até 18 mil caminhões por dia se engalfinham para entrar e sair do entreposto. Todos os números ligados à Ceagesp, aliás, impressionam pelo gigantismo (veja quadro).
Um empecilho ao modelo virtual é a padronização rigorosa das mercadorias, de maneira que, mesmo sem ver o produto, o comprador saiba exatamente o que está comprando.

Mudança
Há 40 anos, o imenso quarteirão da Vila Leopoldina, na zona oeste da capital -esquina das marginais Tietê e Pinheiros-, era só uma gleba sem valor e distante da cidade. Atendia a duas condições essenciais: era próximo o suficiente da roça paulistana e distante o necessário da cidade.
Com o crescimento da metrópole, a Ceagesp passou a conviver -e agravar- dificuldades urbanas, ligadas especialmente ao trânsito.
João Sampaio, secretário de Agricultura de São Paulo, defende como solução a transferência da Ceagesp para além da faixa do Rodoanel e a construção de entrepostos específicos para flores, frutas, legumes, verduras para a periferia da cidade, mas antes do anel viário.
"Hoje, a estrutura funciona, mas para alguns produtos, como frutas ou pescados. Não dá conta de outros produtos, como cereais, por exemplo", diz.
Há hoje 54 entrepostos no país, e sua importância é incontestável. Localização e modelo de negócios, contudo, são aspectos-chave para diferenciar os mais modernos dos mais atrasados.
Rubens Mandetta, que foi presidente da Ceasa de Campinas e trabalhou por três anos no projeto de transferência da Ceagesp para uma área no Rodoanel, diz que foi uma pena o projeto não ter andado.
Além de agregar os setores de hortifrútis, o planejado entreposto abortado abarcaria também as negociações da zona cerealista, incrustada no centro de São Paulo, retirando ainda outros milhares de caminhões que circulam pela região.
Os projetos esbarram na dificuldade de financiamento. Os estudos para a transferência da Ceagesp para fora da capital indicam um custo de R$ 4 bilhões, cifra muito além da receita anual da empresa, hoje em R$ 114 milhões.
Algirdas Antonio Balsevicius, do Sagasp (sindicato dos atacadistas), diz, no entanto, que o valor da Ceagesp é cinco vezes superior ao da implantação de um novo entreposto, já que está em uma área mais valorizada. Ele diz não ter perdido esperanças. "Estamos começando tudo de novo e, pela quinta vez, se fala em mudar as áreas da Ceagesp e da zona cerealista, agora para uma nova área no Rodoanel. É a última chance, porque as grandes áreas disponíveis estão acabando."

Alternativas
Diante do alto custo de transferir a superestrutura da Ceagesp, há estudos em andamento propondo melhorias. Um prevê transformar armazéns em zonas climatizadas com o objetivo de dar mais 20% de sobrevida aos alimentos.
Outro analisa a construção de dois bolsões de estacionamento no Rodoanel para os caminhões. O recurso evitaria a chegada de todos os veículos à capital ao mesmo tempo e disciplinaria o fluxo de produtos.
Considerados pelo governo de São Paulo uma medida paliativa, os bolsões devem custar cerca de R$ 25 milhões e serão construídos a partir de parcerias com empresas.


Texto Anterior: Acordo para venda da Opel não deve impedir 11 mil demissões
Próximo Texto: Companhia pode sair das mãos do governo federal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.