|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acordo seria bom só para curto prazo
DA SUCURSAL DO RIO
Um possível acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional) às vésperas da eleição presidencial, como alternativa para conter a instabilidade do câmbio, pode ajudar no curto prazo, mas não resolve a crise vivida pelo país.
A opinião é dos economistas Eustáquio Reis, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Fernando Cardim,
professor de macroeconomia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Salomão Quadros, chefe do Centro de Estatísticas e Análises Econômicas da
FGV (Fundação Getúlio Vargas), ouvidos ontem pela Folha.
"Ajudar, ajuda, mas não resolve", resume Reis.
Segundo ele, o FMI existe para que os países-membros recorram a ele em situações de crise como a vivida pelo Brasil.
Embora o Ipea seja um órgão do
governo (subordinado ao Ministério do Planejamento), Reis não
está totalmente de acordo com o
que vem sendo feito agora.
Para ele, o governo não deveria
ter baixado os juros neste mês e
deveria ter obrigado mais incisivamente os bancos a recolher
compulsoriamente ao BC parte
do dinheiro de suas captações.
"Isso aumentaria o custo da especulação", explicou. Reis avalia
que, na hipótese de o governo
acertar um acordo com o FMI, será exigido algum tipo de restrição
fiscal (gastos públicos) e monetária (juros e compulsórios).
Perigoso
"Acho muito perigoso trocar
uma tranquilidade momentânea
por algo que pode ser muito
pior", disse Cardim, da UFRJ, para quem o difícil não será obter o
acordo, mas o futuro governo se
manter enquadrado nas exigências que o FMI certamente fará.
"O fundo não faz acordos por
quatro meses e não cede a pressões de devedores", argumenta.
Para o economista, o problema
que será criado com a assinatura
de um contrato agora para ser
cumprido em sua maior parte no
próximo governo poderá ser
maior que a atual instabilidade.
Por isso, Cardim recomenda que
o governo -"muito tímido"-
use instrumentos como o aperto
monetário via compulsórios.
Em relação à dívida externa das
empresas privadas, Cardim recomenda que as empresas mostrem
aos credores que, com as atuais
taxas de câmbio, ou eles aceitam
renegociar os créditos ou terão
que repartir massa falida.
Quadros, da FGV, é mais otimista com um acordo, embora
ache que, sozinho, ele não resolve
o problema. O economista avalia
que o recursos ao FMI darão mais
munição ao governo para enfrentar o momento de incerteza.
"O acordo pode piorar? Vai jogar contra?", pergunta e ele mesmo responde que não.
Na sua opinião, o Brasil terá que
buscar um acordo que não seja de
longo prazo, que entre o mínimo
necessário no novo governo.
Texto Anterior: Meta de corte de gastos aumenta Próximo Texto: Análise: Fim de governo limita opções para acerto Índice
|