São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acordo seria bom só para curto prazo

DA SUCURSAL DO RIO

Um possível acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional) às vésperas da eleição presidencial, como alternativa para conter a instabilidade do câmbio, pode ajudar no curto prazo, mas não resolve a crise vivida pelo país.
A opinião é dos economistas Eustáquio Reis, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Fernando Cardim, professor de macroeconomia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Salomão Quadros, chefe do Centro de Estatísticas e Análises Econômicas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), ouvidos ontem pela Folha.
"Ajudar, ajuda, mas não resolve", resume Reis.
Segundo ele, o FMI existe para que os países-membros recorram a ele em situações de crise como a vivida pelo Brasil.
Embora o Ipea seja um órgão do governo (subordinado ao Ministério do Planejamento), Reis não está totalmente de acordo com o que vem sendo feito agora.
Para ele, o governo não deveria ter baixado os juros neste mês e deveria ter obrigado mais incisivamente os bancos a recolher compulsoriamente ao BC parte do dinheiro de suas captações. "Isso aumentaria o custo da especulação", explicou. Reis avalia que, na hipótese de o governo acertar um acordo com o FMI, será exigido algum tipo de restrição fiscal (gastos públicos) e monetária (juros e compulsórios).

Perigoso
"Acho muito perigoso trocar uma tranquilidade momentânea por algo que pode ser muito pior", disse Cardim, da UFRJ, para quem o difícil não será obter o acordo, mas o futuro governo se manter enquadrado nas exigências que o FMI certamente fará.
"O fundo não faz acordos por quatro meses e não cede a pressões de devedores", argumenta.
Para o economista, o problema que será criado com a assinatura de um contrato agora para ser cumprido em sua maior parte no próximo governo poderá ser maior que a atual instabilidade. Por isso, Cardim recomenda que o governo -"muito tímido"- use instrumentos como o aperto monetário via compulsórios.
Em relação à dívida externa das empresas privadas, Cardim recomenda que as empresas mostrem aos credores que, com as atuais taxas de câmbio, ou eles aceitam renegociar os créditos ou terão que repartir massa falida.
Quadros, da FGV, é mais otimista com um acordo, embora ache que, sozinho, ele não resolve o problema. O economista avalia que o recursos ao FMI darão mais munição ao governo para enfrentar o momento de incerteza.
"O acordo pode piorar? Vai jogar contra?", pergunta e ele mesmo responde que não.
Na sua opinião, o Brasil terá que buscar um acordo que não seja de longo prazo, que entre o mínimo necessário no novo governo.



Texto Anterior: Meta de corte de gastos aumenta
Próximo Texto: Análise: Fim de governo limita opções para acerto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.