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RECEITA ORTODOXA
Economia para pagar juros no 1º semestre é de R$ 46 bi, ou 5,76% do PIB, R$ 13,5 bi acima da meta com o FMI
Governo promove aperto fiscal recorde
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aperto fiscal feito pelo setor
público atingiu valores recordes
no primeiro semestre deste ano,
segundo dados divulgados ontem
pelo Banco Central. Entre janeiro
e junho, União, Estados, municípios e estatais economizaram R$
46,183 bilhões para o pagamento
de juros da dívida.
Esse valor equivale a 5,76% do
PIB (Produto Interno Bruto) acumulado no período. É o maior superávit primário já registrado no
país desde que o BC passou a calcular as estatísticas fiscais, em
1991. O montante economizado
pelo setor público superou em R$
13,583 bilhões a meta acertada
com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A intensidade do aperto fiscal
foi um dos principais fatores para
a redução da dívida pública em
relação ao PIB. Em junho, essa
proporção chegou a 56%, contra
58,7% registrados no final de
2003. A inflação, o crescimento do
PIB e a queda dos juros também
colaboraram para a queda.
Pelo acordo com o FMI, o superávit primário do primeiro semestre deveria ser de pelo menos
R$ 32,6 bilhões. O resultado efetivamente alcançado superou essa
meta em 41,7%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
atribui o superávit primário recorde alcançado pelo governo a
dois motivos. "As despesas foram
relativamente contidas. Houve
também um aumento de receitas,
conseqüência de um nível de atividade mais elevado", diz.
A contenção de despesas se deu,
em boa parte, pela não-liberação
de verbas para projetos do governo. Segundo levantamento feito
pela Folha, a execução orçamentária de 44 programas considerados prioritários ficou abaixo de
1% neste primeiro semestre.
A "folga" de R$ 13,583 bilhões
em relação à meta fixada pelo FMI
equivale a mais do que o dobro
dos R$ 5,360 bilhões previstos pelo Orçamento deste ano para o
Bolsa Família, um dos principais
programas de distribuição de renda do governo federal.
"Essa margem aparentemente
alta está na sazonalidade do período", afirma Lopes. Segundo
ele, é comum que o superávit primário fique acima da meta no primeiro semestre, pois essa folga
serviria para compensar gastos
maiores que o governo costuma
ter no final do ano -como o pagamento do 13º salário do funcionalismo público e mesmo a realização de obras.
A meta acertada com o FMI para o ano é uma economia equivalente a 4,25% do PIB.
Do lado das receitas, o setor público contou com o aumento da
arrecadação de impostos para alcançar o superávit primário recorde. No primeiro semestre, o
governo federal arrecadou R$
155,875 bilhões, volume histórico
para o período.
Além do aumento das receitas e
da contenção de gastos, as contas
públicas também foram favorecidas pela queda dos juros ocorrida
desde o ano passado.
Boa parte do endividamento do
governo é corrigida pela taxa básica da economia (Selic), que, em
2003, chegou a 26,5% ao ano
-hoje está em 16%.
Entre janeiro e junho do ano
passado, os gastos do setor público com juros ficaram em R$
74,269 bilhões (10,27% do PIB).
Neste ano, recuaram para R$
61,829 bilhões (7,71% do PIB).
A expansão da economia e a inflação também ajudaram na redução da relação entre dívida e
PIB. Isso porque, segundo a metodologia do BC, o valor do PIB
utilizado nesse cálculo é corrigido
mensalmente pelo IGP-DI (Índice
Geral de Preços - Disponibilidade
Interna).
Entre janeiro e junho, de acordo
com o BC, a expansão do PIB
-influenciada pela inflação e pelo crescimento real da economia- foi responsável por um recuo de 4,83 pontos percentuais na
relação entre dívida e PIB.
Como a base aumentou (a proporção é dada pela divisão da dívida pelo Produto Interno Bruto),
o percentual diminuiu.
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