São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009

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Ata do Copom sinaliza fim do ciclo de redução nos juros

Documento mostra que BC cogitou manter a taxa na reunião da semana passada

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central promete adotar uma linha mais "cautelosa" na condução da política monetária e informa que chegou a considerar a possibilidade de interromper, já na semana passada, a trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic) iniciada em janeiro. No mercado financeiro, as apostas agora são que os juros não voltam a cair tão cedo.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reuniu e decidiu reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual. Foi o quinto corte consecutivo promovido pelo BC, suficiente para deixar a taxa em 8,75% ao ano, a mais baixa desde a criação do comitê, em 1996.
Ontem, foi divulgada a ata dessa reunião. O documento diz que, apesar de o colegiado ter optado pela continuidade da queda dos juros, alguns membros da diretoria do BC -que não são identificados- chegaram a defender a manutenção da taxa nos 9,25% ao ano que vigoravam na ocasião.
A preocupação estava no risco ao controle da inflação associado à queda dos juros já ocorrida neste ano. Entre janeiro e junho, a Selic acumulou queda de 4,5 pontos percentuais, e o BC argumenta que ainda não é possível saber qual será o efeito que essa medida terá sobre a economia como um todo.
Estima-se que o impacto de uma mudança nos juros leve até um ano para ser sentido completamente pela inflação e pelo nível de atividade. Por isso, segundo o BC, há necessidade de maior "cautela", pois o país nunca teve taxas tão baixas e não se sabe como empresas, consumidores e sistema financeiro irão reagir a isso com o passar do tempo.
Mesmo com essa incerteza, o BC entendeu que os indicadores disponíveis no momento mostram uma recuperação gradual da economia, com inflação sob controle -daí o corte dos juros na semana passada. Daqui para a frente, porém, deve prevalecer a maior cautela.
Para Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, a ata divulgada ontem coloca um fim no ciclo de queda dos juros iniciado no começo do ano. "A não ser que haja surpresas, a Selic deve ficar estável pelo menos até meados de 2010."
Teles diz que concorda com a cautela do BC, já que a redução dos juros ocorrida até agora deve ser suficiente para garantir uma recuperação mais gradual da economia. "É preciso mesmo de um tempo para poder avaliar melhor o efeito daquilo que já foi feito."
Já o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, diz que não descarta um novo corte da Selic no final deste ano ou no começo de 2010. "O BC quis passar a mensagem [com a ata do Copom] de que, pelo menos no curto prazo, por uns dois ou três meses, o ciclo de queda está suspenso. Mas não foi contundente em dizer que encerrou totalmente", diz.
Para o economista, as projeções do BC para a inflação estão um pouco exageradas, especialmente por causa das estimativas para reajustes de tarifas públicas. A ata do Copom fala em alta próxima de 4,5% para o IPCA em 2010, enquanto Thadeu Filho projeta 3,4%.


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