São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2006

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BC surpreende e corta juro em 0,5 ponto

Na última reunião antes do 1º turno das eleições, Copom reduz Selic para 14,25%; expectativa era de redução de 0,25 ponto

Em comunicado sobre a medida, BC informa apenas que avaliou "o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação"

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na última reunião antes do primeiro turno das eleições, o Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) surpreendeu e promoveu um corte de juros superior ao esperado pela maioria do mercado. A Selic, taxa que baliza os juros da economia, caiu 0,5 ponto percentual, para 14,25% ao ano.
Pela pesquisa feita pelo BC com bancos e consultorias, a expectativa era um corte de 0,25 ponto percentual, mas vinham crescendo apostas num corte maior. Apesar da queda, o juro brasileiro ainda está entre os maiores do mundo.
A última vez em que a taxa de juros fixada destoou do ponto médio das previsões dos investidores havia sido em maio de 2005, quando a Selic subiu de 19,5% para 19,75% ao ano, enquanto se apostava na estabilidade na taxa. O próprio BC destacava como meritória a previsibilidade do Copom, mantida nas 12 reuniões anteriores.
No comunicado que acompanhou a divulgação da medida, tomada por unanimidade, o BC disse apenas que avaliou "o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação". Foi a 10ª queda consecutiva da Selic, a taxa do BC, que em julho atingira o menor nível desde sua criação, em 1986.
A permanência do ritmo de alívio monetário contraria a tendência sinalizada anteriormente pelo BC. Nas últimas atas de suas reuniões, o Copom afirmava que o processo de queda dos juros iniciado em setembro de 2005 passaria a ser conduzido com "parcimônia", no documento de maio, e "maior parcimônia", em julho. Nas duas ocasiões, a taxa teve corte de 0,5 ponto.
Não havia, de fato, uma justificativa explícita para a maior parcimônia. Segundo as pesquisas do BC, a projeção do mercado para a inflação medida pelo IPCA neste ano está em 3,68%, muito abaixo da meta oficial de 4,5%; o crescimento esperado do PIB (Produto Interno Bruto) em 2006 recuou, nas últimas semanas, de 3,6% para 3,5%, na expectativa do resultado do segundo trimestre, a ser divulgado hoje.
Espera-se, no mercado, que o indicador revele a desaceleração da economia no período de maio a junho, somando-se a uma série de más notícias econômicas recentes, como o aumento do desemprego e da carga tributária.
Na última ata, o Copom limitou-se a mencionar "as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária", o que, em português, significa o temor de acabar permitindo um crescimento econômico superior às possibilidades do país, com conseqüentes pressões inflacionárias capazes de prejudicar o cumprimento da meta no próximo ano -avalia-se que a Selic atual não terá mais impacto direto em 2006.
Desde o Plano Real, os juros reais nunca caíram consistentemente abaixo dos 10% anuais. Em 2002 e 2004, por exemplo, quando as taxas ficaram perto dos 9%, a inflação se acelerou e obrigou o Banco Central a endurecer novamente a política monetária.
Agora, descontando a expectativa de 4,51% para o IPCA dos próximos 12 meses, a taxa real está em 9,3% anuais, o que mantém o país na liderança do ranking mundial. Para este ano, o mercado só esperava mais uma redução de 0,25 ponto na taxa do BC, na reunião de outubro do Copom, quando a Selic chegaria aos 14,25%.
As novas expectativas dependerão agora da ata da reunião de ontem, a ser divulgada no final da próxima semana.


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