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Anatel mantém leilão de internet sem fio
Agência reguladora e provedores de acesso afirmam que regras de licitação garantem competitividade; teles vão à Justiça
Edital impede que empresas de telefonia fixa comprem faixas de freqüência para banda larga dentro de suas áreas de concessão
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) negou o
pedido das concessionárias de
telefonia fixa local para mudar
as regras do edital para licitação de faixas de freqüência para
fornecimento de acesso à internet em banda larga sem fio. A
princípio, o leilão acontece na
segunda-feira.
Diante da decisão da agência,
as teles entraram na Justiça para tentar impedir a realização
do leilão (leia texto abaixo).
O edital da Anatel abriu uma
guerra entre as gigantes da telefonia fixa local (originárias das
estatais, privatizadas em 1998)
e centenas de empresas provedoras de acesso à internet, de
TV por assinatura e de outros
serviços de telecomunicações
que pressionam por mais competição no mercado.
Para evitar maior concentração, o edital da Anatel proibiu
as teles de comprarem freqüências para o serviço sem fio
dentro de suas áreas de concessão de telefonia fixa. Com isso,
a Telefônica, por exemplo, está
impedida de comprar licenças
no Estado de São Paulo, mas está livre para atuar em outros
Estados.
O leilão desperta grande interesse porque se acredita que
o futuro das telecomunicações
esteja nas transmissões sem fio
-mais rápidas e mais baratas.
"Depois de oito anos de privatização da telefonia fixa, as
ex-estatais continuam com
monopólio de mercado", afirma o presidente da Telcomp
(Associação Brasileira das
Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas), Luiz Cuza.
Anteontem, a Anatel divulgou números que corroboram
essa visão: a Telemar tem
93,54% do mercado de telefonia fixa local dentro dos 16 Estados que compõem sua área de
concessão, a Telefônica domina 94,64% do mercado no Estado de São Paulo e a Brasil Telecom tem 93,1% das ligações locais em sua área.
As teles, dentro de suas áreas
de concessão, também dominam a oferta de acesso fixo à internet em banda larga, usando
sua infra-estrutura de linhas fixas. Segundo a diretora da TVA
(empresa de TV por assinatura
do grupo Abril), Leila Lória, a
participação das concessionárias nesse mercado é de 80%.
""Se elas forem autorizadas a ter
licenças para os serviços sem
fio dentro de suas áreas de concessão, o monopólio será replicado", afirma a executiva.
A Anatel faz a mesma análise.
"Essa tecnologia [sem fio] é excelente para gerar competição.
Se a concessionária quiser
comprar faixas de freqüência
na área de outras, está permitido. Agora, na sua área, ela teria
exclusividade no fio e no ar. É
óbvio que a agência tem que
propor uma outra solução", diz
Pedro Jaime Ziller, diretor da
Anatel que analisou o pedido
das teles. "Queremos competição imediatamente. Não temos
ainda competição eficaz no
acesso [a internet em banda
larga]", complementa.
Cidades pequenas
Pelo menos três entidades
que representam os provedores de acesso à internet se manifestaram a favor da restrição
à entrada das teles nos serviços
sem fio: Abranet, Associação
Internet Brasil e Global Info.
As três sustentam que a entrada das teles nesse mercado,
dentro de suas áreas de concessão, inviabilizará a participação
de novos competidores e a sobrevivência de pequenas empresas que já prestam o serviço
aproveitando faixas de freqüências de uso livre.
Segundo o vice-presidente da
Global Info, André Rodrigues,
estima-se que existam cerca de
4.000 pequenos provedores de
acesso à internet sem fio no
país. Eles fazem a conexão
usando as faixas de 2,4 GHz e
5,8 GHz, que são de uso livre.
Grande parte desses pequenos
operadores não tem a licença
de serviço de comunicação
multimídia para operar.
O ministro Hélio Costa tem
dito que sua preocupação é
com o fornecimento do serviço
de acesso à internet em banda
larga em pequenas cidades. Para ele, é importante evitar que
aconteça o que ocorreu com os
celulares, que não pegam em
muitas cidades do interior.
André Rodrigues, vice-presidente da Global Info, diz que
existem provedores de acesso
em banda larga, sem fio, em cidades de até 20 mil habitantes.
Sua empresa, Piernet, com sede
em Carpina (70 mil habitantes), no interior de Pernambuco, tem mil clientes. Segundo
ele, os empresários locais podem fazer a inclusão digital
pretendida pelo ministro.
Para os provedores de acesso
à internet, Costa demonstra
desconhecimento do mercado
brasileiro, quando diz que apenas cerca de 80 cidades possuem acesso à internet em banda larga.
Segundo o empresário Basílio Perez, da Bignet, empresa da
Baixada Santista, existem catalogadas pelo menos 1.606 cidades com atendimento de banda
larga. Perez diz que o temor das
empresas de internet é que as
teles queiram entrar no leilão
para engavetar as licenças e impedir a concorrência.
A Global Info, uma das entidades representativas dos provedores de internet, entrou
com mandado de segurança no
STJ (Superior Tribunal de Justiça), contra Hélio Costa, sob a
alegação de que ele não tem poder legal para intervir no órgão
regulador, como ameaçou na
semana passada.
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