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Domésticas vêem restrição à concessão
de direitos
DA REPORTAGEM LOCAL
Emerenciana Lúcia de Oliveira trabalhou 45 dos seus 70
anos para uma família tradicional da zona norte de São Paulo.
Na profissão de doméstica ingressou cedo, aos sete anos,
quando ainda morava com a família em Minas Gerais.
Foi empregada, governanta e
cuidou, como costuma dizer, de
"uma dúzia de irmãos". Há cerca de duas décadas, comanda o
Sindicato dos Trabalhadores
Domésticos do Município de
São Paulo, filiado à CUT.
"Há 30 anos lutamos pelo
FGTS obrigatório e por direitos
que todos os trabalhadores de
outras categorias têm, como a
jornada de trabalho de 44 horas
semanais estabelecida na
Constituição. Não estamos pedindo nada de extraordinário.
Doméstico não é escravo."
Na região metropolitana de
São Paulo, 44% das mensalistas
com registro em carteira trabalham mais que 44 horas semanais, segundo estudo do Dieese.
Cabelos presos, avental azul,
sentada em uma mesa no andar
térreo do sindicato, Oliveira
atende pessoalmente -e diariamente- de 20 a 30 domésticas, babás, faxineiras e diaristas
que buscam informação e querem reclamar direitos não-pagos pelos empregadores.
"Nossa esperança é que a
questão das domésticas se resolva agora. Sabe como é: ano
político, é agora ou nunca", diz
a sindicalista, ao se referir à
proposta em estudo pelo governo federal de estender aos empregados domésticos os demais
direitos já concedidos aos trabalhadores rurais e urbanos.
"Só sei que qualquer proposta vai enfrentar resistência dos
próprios congressistas. Muitos
políticos não têm interesse em
aprovar melhorias porque a
discriminação começa muitas
vezes nas casas deles."
Registro em 48 horas
A lista de queixas trabalhistas que chegam ao sindicato é
encabeçada pela mesma reclamação há anos: a falta de registro em carteira. "O patrão ainda
gosta de levar vantagem em tudo. Mas o fato é: começou a trabalhar tem de registrar em carteira em 48 horas. E tanto faz se
ela trabalha uma vez por semana ou todos os dias. O cargo pode ser de diarista, mas a profissão é uma só: doméstica."
Das 700 mil domésticas (com
e sem carteira, mensalistas e
diaristas) que atuam na Grande
São Paulo, somente 38% contribuem para a Previdência Social, de acordo com o Dieese.
"Se não contribuem para o
INSS, elas não têm direito a
aposentadoria", afirma.
Em São Paulo, a situação salarial, segundo a sindicalista,
ainda é melhor do que nas demais regiões do país. "A média
salarial é de R$ 600 a R$ 700,
por uma jornada de 44 horas
semanais. Sempre alertamos
de que o empregador não pode
pagar menos de R$ 450 [salário
mínimo no Estado]. Mas o que
vale é a livre negociação entre
patrões e empregados. Não há
como fazer acordo coletivo."
Por uma mensalidade de R$
5, o sindicato, que conta hoje
com 300 associados, diz prestar
serviço à categoria. Por R$ 30,
fornece uma cartilha para patrões e empregados.
(CR e FF)
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