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"Vou fazer minhas contas no sindicato e conversamos"
DA REPORTAGEM LOCAL
Após trabalhar durante quatro anos e meio na casa de um
empresário e uma terapeuta no
Alto da Boa Vista (SP), Erinei
de Souza, 28, recebeu R$ 300
no dia do rompimento do contrato. Olhou a patroa nos olhos
e disse: "Não posso aceitar. A
senhora sabe que não é só isso.
Vou fazer minhas contas no
sindicato e conversamos".
Com salário de R$ 650 e jornada de segunda a sexta-feira e
aos domingos, Erinei diz que,
além de cuidar da casa, ajudava
a "olhar" três crianças.
"Depois que engravidei e tive
minha filha, não podia mais fazer jornada aos domingos das
8h às 21h. Quando fui pedir para ficar de segunda a sexta, ela
me demitiu. Não queria ficar
desempregada, mas não teve
mais jeito."
Ao deixar o trabalho após
uma jornada de 13 horas diárias, a doméstica só chegava a
sua casa, no Real Parque Morumbi, por volta das 22h. "Só
passei a folgar durante os feriados depois de ter comprado
uma cartilha no sindicato e ter
mostrado à minha patroa que
eu tinha o direito de folgar como qualquer outro trabalhador. De 2004 a 2006, tenho 30
feriados trabalhados como dias
normais", diz Erinei, mostrando um papel com cada uma das
datas que serão contabilizadas
na sua rescisão de contrato.
"Não reclamava da jornada
nem do trabalho. O que mais
me magoou foi que um dia eu
sentei na sala de jantar porque
minha patroa não queria comer
sozinha. Quando o marido dela
chegou, pediu para eu sair. Na
cozinha, ela me pediu desculpas e disse: "Não leve a mal, ele é
um pouco racista, mas é boa
pessoa". Fiquei chocada. A discriminação existe e está bem
perto de todos nós."
(CR)
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