São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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"Vou fazer minhas contas no sindicato e conversamos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Após trabalhar durante quatro anos e meio na casa de um empresário e uma terapeuta no Alto da Boa Vista (SP), Erinei de Souza, 28, recebeu R$ 300 no dia do rompimento do contrato. Olhou a patroa nos olhos e disse: "Não posso aceitar. A senhora sabe que não é só isso. Vou fazer minhas contas no sindicato e conversamos".
Com salário de R$ 650 e jornada de segunda a sexta-feira e aos domingos, Erinei diz que, além de cuidar da casa, ajudava a "olhar" três crianças.
"Depois que engravidei e tive minha filha, não podia mais fazer jornada aos domingos das 8h às 21h. Quando fui pedir para ficar de segunda a sexta, ela me demitiu. Não queria ficar desempregada, mas não teve mais jeito."
Ao deixar o trabalho após uma jornada de 13 horas diárias, a doméstica só chegava a sua casa, no Real Parque Morumbi, por volta das 22h. "Só passei a folgar durante os feriados depois de ter comprado uma cartilha no sindicato e ter mostrado à minha patroa que eu tinha o direito de folgar como qualquer outro trabalhador. De 2004 a 2006, tenho 30 feriados trabalhados como dias normais", diz Erinei, mostrando um papel com cada uma das datas que serão contabilizadas na sua rescisão de contrato.
"Não reclamava da jornada nem do trabalho. O que mais me magoou foi que um dia eu sentei na sala de jantar porque minha patroa não queria comer sozinha. Quando o marido dela chegou, pediu para eu sair. Na cozinha, ela me pediu desculpas e disse: "Não leve a mal, ele é um pouco racista, mas é boa pessoa". Fiquei chocada. A discriminação existe e está bem perto de todos nós." (CR)



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