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ENTREVISTA: FABIO BARBOSA
Crédito cresce de maneira ordenada no país
Para presidente da Febraban, pressão salarial pode dificultar freada da inflação
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente da Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos) e do Santander no Brasil,
Fabio Barbosa, 53, afirma que
os bancos brasileiros estão preparados para trabalhar com volumes crescentes de empréstimos e juros decrescentes.
O que é necessário, a seu ver,
é melhorar o sistema de informação sobre as pessoas para os
bancos terem mais segurança
ao concederem empréstimos.
Por isso, considera importante
a aprovação do cadastro positivo de crédito (informações
compartilhadas sobre bons pagadores) pelo Congresso. "Os
bancos teriam mais possibilidades de ampliar a inserção social das camadas que ainda não
estão consumindo ou tomando
dinheiro emprestado", diz.
Sobre a redução recente dos
índices de inflação, Barbosa
afirma que esse fato é extremamente positivo, mas ele acha
que é cedo para apostar todas
as fichas nessa queda. O grande
problema, segundo ele, será a
pressão dos salários.
FOLHA - A crise global vai afetar o
Brasil?
FABIO BARBOSA - Sempre acaba
afetando um pouco, mas acho
que o grande determinante será a economia chinesa. Ela tem
um peso muito grande na economia mundial e continua
crescendo num ritmo forte. Há
30 anos que a economia cresce
a uma média de 10% ao ano e há
29 anos nós dizemos que esse
ritmo de expansão não é sustentável. Muita gente acha que
a China vive muito das exportações para os EUA, o que não se
comprova pelos números. A
China vai produzir, neste ano,
por volta de 8 milhões de automóveis e não exporta carros para os mercados americano e europeu. É só mercado interno.
Nós temos dificuldades em
compreender a extensão do
mercado interno chinês. A desaceleração que se fala da China é que o crescimento vai cair
de 11,9%, que foi a expansão em
2007, para 9,5%, neste ano. Ou
seja, na média dos 10%.
FOLHA - Não é uma contradição o
Banco Central continuar subindo os
juros se a inflação está em queda?
BARBOSA - Olha, esse é um assunto delicado. A inflação está
mostrando sinais de desaceleração, o que é muito bom. Estamos vivendo agora uma época
de reajustes salariais e é importante que eles não contaminem
a economia e dificultem esse
processo de desaceleração de
preços. Por isso, é positivo o fato de o governo estar atento e
segurar um pouco a economia,
para que não haja repasse de
custos para os preços finais.
FOLHA - Mas a alta dos juros não
pode frear o crescimento?
BARBOSA - Não corremos o risco de vôo de galinha. O governo
está atento a isso, até porque o
BC agiu de forma firme, na hora
em que precisou agir. As contas
públicas estão sendo gerenciadas já há bastante tempo de forma responsável. Esse risco não
existe. O preço da previsibilidade é a eterna vigilância.
FOLHA - Os números da economia
do Brasil são bastante positivos,
mas os juros no país ainda são incompatíveis para um país que quer
fazer parte do Primeiro Mundo. Por
que juros tão altos?
BARBOSA - Já vi vários estudos
de pessoas que se dedicaram ao
assunto muito mais do que eu e
não foram capazes de explicar
por que a economia brasileira
só se equilibra numa taxa de juros mais elevada de que as dos
demais países. O fato é que,
quando a taxa começa a cair e
atinge patamares internacionais, a economia tende a ficar
muito aquecida, em descompasso com a sua capacidade de
produção, e, nessa hora, os juros voltam a subir. Mas, ainda
assim, os juros hoje estão muito
mais baixos do que que já estiveram no passado. Trabalhar
com juro real de um dígito é
uma grande novidade para o
Brasil. Estamos na direção certa, mas ainda precisamos mais
para que possamos manter o
ritmo de crescimento da economia acima de 5%.
FOLHA - Os bancos estão preparados para uma queda dos juros?
BARBOSA - Essa pergunta já
vem sendo feita desde a época
do Plano Real. Na época do Plano Real, algumas instituições
tiveram dificuldade, mas a resposta para essa pergunta é que
os bancos estão preparados para trabalhar com volumes crescentes de empréstimos e taxas
de juros decrescentes.
O que é necessário, na medida em que você trabalha com
juros mais baixos, na medida
em que você vai atingindo outras camadas da população, é
que as instituições tenham um
sistema de informação melhor,
e é por isso que eu insisto na
importância de instrumentos
como o cadastro positivo. Daria
para os bancos oferecerem ainda mais possibilidades de promover a inserção social dessas
camadas que ainda não estão
consumindo ou tomando dinheiro emprestado.
FOLHA - Mas os bancos ainda ganham muito com os juros?
BARBOSA - Os bancos estão cada vez mais ampliando suas
carteiras de crédito para compensar a queda nas aplicações
em títulos públicos. E é esse
crescimento do crédito que
tem viabilizado essa expansão
da economia, além de também
estar aumentando a rentabilidade dos bancos. A instituição
está cumprindo o seu papel. O
banco existe para três razões.
Para proteger e rentabilizar a
poupança das pessoas; para financiar o consumo e o investimento; e para prestar os serviços de pagamentos e recebimentos da sociedade. E os bancos estão fazendo isso.
FOLHA - A rentabilidade dos bancos brasileiros foi duas vezes maior
do que a dos americanos neste ano.
Só a crise financeira explica essa diferença?
BARBOSA - Os bancos americanos, assim como muitos da Europa, vêm apresentando problemas desde meados do ano
passado. São problemas sérios
e felizmente o sistema bancário
brasileiro não está passando
por isso. A rentabilidade maior
dos bancos brasileiros é, portanto, uma boa notícia. Não deveria merecer preocupação. Na
medida em que os bancos têm
problema de rentabilidade, até
de perda, eles começam a reconsiderar um pouco seus planos de expansão dos empréstimos. Emprestam menos. Ao
emprestarem menos, isso condiciona um crescimento menor
da economia. Esse é o primeiro
preço que a sociedade paga. O
banco tem menos apetite para
crédito e isso segura o crescimento econômico. Isso já está
acontecendo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
O efeito multiplicador de
uma crise bancária é muito
maior do que o efeito multiplicador de uma crise provocada
por um setor industrial ou
qualquer outra atividade de
serviço. É por isso que, em muitos casos, o governo tem que
socorrer algumas instituições
financeiras, como ocorreu recentemente no Reino Unido.
Quer dizer, acaba se usando dinheiro público para isso. É por
isso que deveríamos buscar
sempre as condições para que o
sistema financeiro continue
forte. Sistema financeiro fraco
implica um problema para o
crescimento da economia.
FOLHA - O sr. vê com preocupação
esse crescimento do crédito no Brasil ao ritmo de 30%?
BARBOSA - Não. O crédito vem
crescendo de maneira ordenada, em cima de operações de
crédito consignado, que acho
que foi a modalidade que mais
se expandiu, e de financiamento de veículos, que são feitos a
prazos compatíveis de 36, 48
meses. As operações de veículos que são feitas com prazo
acima disso são pouquíssimas,
não são representativas. O crédito imobiliário também está
se expandindo, após a melhora
do arcabouço jurídico. Eu não
vejo preocupação maior. O que
acho necessário é a aprovação
do cadastro positivo pelo Congresso. O que é cadastro positivo? Cadastro positivo é um projeto que vem sendo trabalhado
para permitir que o sistema financeiro tenha melhores informações sobre o cliente para poder tomar decisões melhores
sobre os empréstimos.
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