São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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Inflação e câmbio ainda são temas centrais de debate

DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira está prestes a completar um quarto de século de estagnação, e a falta de crescimento preocupa a maioria dos economistas brasileiros. A exemplo da dívida nos anos 80, e da inflação nos 90, a necessidade de voltar a crescer tornou-se o centro das discussões nos últimos anos.
Mas, ao contrário das duas décadas anteriores, os debates não parecem tão calorosos. Há quem alerte, como o economista Marcos Fernandes, da FGV-SP, de que existe até um consenso perigoso em torno da atual política econômica.
Depois de superar as turbulência dos primeiros meses de governo, a equipe econômica passou a rezar a cartilha das "reformar microeconômicas". O argumento era simples: com a macroeconomia resolvida, era hora de cuidar de reformas para garantir crescimento sustentável do lado real da economia: sistema judiciário eficaz, lei de falências mais moderna, sistema regulatório adequado.
O problema: a maioria dos economistas, apesar de não discordar de que as reformas microeconômicas sejam necessárias e ajudariam, diz que há desafios a serem resolvidos do lado macro.
Ricardo Carneiro, da Unicamp, e Fernando Cardim, da UFRJ, dizem, por exemplo, que a atual política de metas de inflação não tem o desenho adequado para garantir estabilidade e crescimento ao mesmo tempo.
Outro problema é que o Brasil está sempre sujeito a crises externas, e, portanto, a oscilações no câmbio. Taxa de câmbio maior significa preços em alta no mercado interno e, portanto, inflação. Para conter a inflação, juros altos e menos crescimento.
Resumindo: pagamos com crescimento baixo a estabilidade, porque optou-se por não controlar o câmbio. Sem crescer, diz Cardim, não há reforma microeconômica que resolva. "A China não é o que é por causa do sistema judiciário deles, mas porque os investidores fazem fila para investir numa economia que cresce 9% ao ano."
Aloisio Araújo, da FGV-Rio, também avalia que há fragilidades macroeconômicas, como a alta dívida interna. Ele diz, como Rogério Werneck, da PUC-RJ, que o país acaba pagando o preço, no aperto monetário, pela falta de uma política fiscal que tivesse sinalizado, há mais tempo, para uma queda sustentável da dívida. Ambos, no entanto, tendem a atribuir um papel mais importante para as reformas microeconômicas.


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