|
Próximo Texto | Índice
MERCADO ABERTO
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Bancos podem aumentar juro para compensar medida do BC
A lentidão dos bancos na
compra de carteiras de crédito
das instituições financeiras de
pequeno e médio portes foi a
principal razão para o Banco
Central ter tomado ontem a decisão de retirar a remuneração
de 70% sobre o recolhimento
compulsório dos depósitos a
prazo. O objetivo do Banco
Central é acelerar esse processo para tentar injetar liquidez
no mercado.
No último dia 2, o Banco
Central decidiu estimular os
grandes bancos a adquirirem
carteiras de crédito de outras
instituições por meio de um
desconto no valor do compulsório. O total disponibilizado
pelo Banco Central do compulsório para esse fim chega a
R$ 30 bilhões, mas os bancos só
adquiriram, no máximo, R$ 5
bilhões até agora. Em sua maior
parte, as carteiras são de financiamento de veículos e de consignado.
O Banco Central constatou
que os bancos mais lentos nesse processo de aquisição de carteiras de crédito são, por incrível que pareça, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. O processo de compra sempre emperra em alguma etapa
da burocracia.
Com essa medida de ontem,
o Banco Central espera forçar
os bancos, tanto públicos como
privados, a acelerar esse processo de compra das carteiras
de crédito para desempoçar a
liquidez no sistema financeiro.
Ao injetar recursos nos bancos pequenos, o Banco Central
espera, pouco a pouco, reativar
o crédito na economia. O que se
observa, hoje, é que os bancos
restringiram bastante as operações de crédito depois do agravamento da crise.
O Banco Central sabe, no entanto, que existe um forte risco
de, para compensarem essa
perda de remuneração de parte
do compulsório, os bancos aumentarem o "spread" (diferença entre a taxa que o banco paga
para captar recursos e a que repassa ao cliente) cobrado sobre
as operações. O BC aposta, no
entanto, que o custo de oportunidade vai acabar levando os
bancos a comprarem as carteiras de crédito.
Os bancos consideraram a
medida de ontem do Banco
Central bastante dura e com
um caráter punitivo. O argumento dos bancos para não
comprarem as carteiras de crédito na velocidade pretendida
pelo BC é que muitas dessas
operações são de alto risco e
exigem uma avaliação complexa para fechar o negócio.
Os bancos estão fazendo as
contas e já cogitam a possibilidade de aumento do "spread"
para compensar essa decisão
do Banco Central.
Juro elevado é trunfo na crise, afirma Ibre
Os elevados juros brasileiros são uma carta na manga
do país para driblar a crise
global. Com a Selic em
13,75%, o Brasil tem margem
para estimular a demanda interna com política monetária
-diferentemente de países
como os Estados Unidos, que
têm juros a 1% ao ano. A análise é de Luiz Schymura, diretor do Ibre/ FGV.
"A elevada taxa de juro
real, nesse caso, é um trunfo
brasileiro e significa que o
tanque está cheio para administrar a demanda agregada
no curto e no médio prazo",
disse, em carta que será divulgada hoje.
Para Schymura, a decisão
do Copom desta semana de
encerrar o ciclo de alta dos
juros foi acertada em razão
das incertezas da economia.
"A manutenção da Selic
em 13,75% significa que há
um grande espaço para reduções mais à frente, caso os
impactos da desaceleração
global no Brasil sejam muito
severos." Schymura não quis
arriscar uma projeção de
cortes nos juros. Segundo
ele, a queda na Selic dependerá da gravidade da crise internacional e da desaceleração da economia brasileira.
"E temos uma inflação para
controlar, também."
PROMOÇÃO ANTICRISE
Com custos elevados em 20% pela alta do dólar, Robério
Esteves, diretor de operações da importadora M.Cassab, decidiu compensar o repasse no preço de alguns produtos com
descontos de até 40% em outros. Segundo Esteves, o varejo
teme uma retração no consumo. "Eles estão com receio de
se abastecer e não conseguir vender os produtos." Para ele,
as distribuidoras devem criar ações de apoio ao varejo e não
se intimidarem com a crise. Neste ano, a M.Cassab dobrou o
orçamento de merchandising para o Natal, com foco em
campanhas de incentivo a vendedores do varejo.
TSUNAMI
Os reflexos da crise chegaram ontem a 70 funcionários do banco suíço UBS, que
foram desligados sem justa
causa. A eles, devem se juntar outros 260 funcionários,
que deverão receber o presente de Natal adiantado até
sexta-feira, segundo fontes
do próprio banco. O Citibank também está promovendo uma forte reestruturação no Brasil. Os cortes
podem chegar a cem.
NA BRASA
O presidente russo
Dmitry Medvedev desembarca no Brasil no final de
novembro e o presidente
Lula irá oferecer a ele um
churrasco na Granja do Torto. A Rússia manteve um
embargo sanitário contra alguns Estados do Brasil até o
ano passado.
AUTOMAÇÃO
A Snack Control acaba de
ser vendida para a Bematech, uma das maiores empresas do país no ramo de
automação comercial.
NO BOLSO
O gasto médio em cartões
de crédito deve marcar
R$ 185 por plástico em outubro, segundo a Abecs, que
representa o setor.
ENQUANTO ISSO
Enquanto o presidente
mundial do Santander, Emílio Botín, apresenta hoje um
plano estratégico para o grupo, os bancários farão protestos nos centros administrativos do Santander e do
Real em defesa do emprego.
Os dois bancos estão em
processo de fusão e o Sindicato dos Bancários de SP
quer incluir nesse plano garantias do emprego de 54
mil funcionários do grupo.
BULA
Ciro Mortella, da Febrafarma, diz que a crise apertou as contas da indústria
farmacêutica. O setor está
pagando mais caro pela matéria-prima importada com
a alta do dólar, mas não pode
reajustar preços pela legislação brasileira. Além do câmbio desfavorável, o setor
também teme que a crise dificulte o aumento do orçamento público para a saúde.
"A aprovação da CSS fica
mais difícil na crise."
SEM CORTES
Sérgio Aredes, do Sindicel,
que esteve em Brasília na terça, disse que a tendência no
governo para reagir à crise
não é de cortar impostos,
mas de extensão de prazos de
recolhimentos e de injeção
de recursos na economia.
YESTERDAY
A música dos Beatles foi cedida para tocar no jogo
Rock Band, na primeira negociação da história do
quarteto de Liverpool com games, segundo o "Financial Times". De acordo com o jornal, representantes
da banda já negociavam há meses com a MTV Games,
dona do Rock Band.
com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI
Próximo Texto: Governo eleva pressão sobre banco grande Índice
|