São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Bancos podem aumentar juro para compensar medida do BC

A lentidão dos bancos na compra de carteiras de crédito das instituições financeiras de pequeno e médio portes foi a principal razão para o Banco Central ter tomado ontem a decisão de retirar a remuneração de 70% sobre o recolhimento compulsório dos depósitos a prazo. O objetivo do Banco Central é acelerar esse processo para tentar injetar liquidez no mercado.
No último dia 2, o Banco Central decidiu estimular os grandes bancos a adquirirem carteiras de crédito de outras instituições por meio de um desconto no valor do compulsório. O total disponibilizado pelo Banco Central do compulsório para esse fim chega a R$ 30 bilhões, mas os bancos só adquiriram, no máximo, R$ 5 bilhões até agora. Em sua maior parte, as carteiras são de financiamento de veículos e de consignado.
O Banco Central constatou que os bancos mais lentos nesse processo de aquisição de carteiras de crédito são, por incrível que pareça, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. O processo de compra sempre emperra em alguma etapa da burocracia.
Com essa medida de ontem, o Banco Central espera forçar os bancos, tanto públicos como privados, a acelerar esse processo de compra das carteiras de crédito para desempoçar a liquidez no sistema financeiro.
Ao injetar recursos nos bancos pequenos, o Banco Central espera, pouco a pouco, reativar o crédito na economia. O que se observa, hoje, é que os bancos restringiram bastante as operações de crédito depois do agravamento da crise.
O Banco Central sabe, no entanto, que existe um forte risco de, para compensarem essa perda de remuneração de parte do compulsório, os bancos aumentarem o "spread" (diferença entre a taxa que o banco paga para captar recursos e a que repassa ao cliente) cobrado sobre as operações. O BC aposta, no entanto, que o custo de oportunidade vai acabar levando os bancos a comprarem as carteiras de crédito.
Os bancos consideraram a medida de ontem do Banco Central bastante dura e com um caráter punitivo. O argumento dos bancos para não comprarem as carteiras de crédito na velocidade pretendida pelo BC é que muitas dessas operações são de alto risco e exigem uma avaliação complexa para fechar o negócio.
Os bancos estão fazendo as contas e já cogitam a possibilidade de aumento do "spread" para compensar essa decisão do Banco Central.

Juro elevado é trunfo na crise, afirma Ibre

Os elevados juros brasileiros são uma carta na manga do país para driblar a crise global. Com a Selic em 13,75%, o Brasil tem margem para estimular a demanda interna com política monetária -diferentemente de países como os Estados Unidos, que têm juros a 1% ao ano. A análise é de Luiz Schymura, diretor do Ibre/ FGV.
"A elevada taxa de juro real, nesse caso, é um trunfo brasileiro e significa que o tanque está cheio para administrar a demanda agregada no curto e no médio prazo", disse, em carta que será divulgada hoje.
Para Schymura, a decisão do Copom desta semana de encerrar o ciclo de alta dos juros foi acertada em razão das incertezas da economia.
"A manutenção da Selic em 13,75% significa que há um grande espaço para reduções mais à frente, caso os impactos da desaceleração global no Brasil sejam muito severos." Schymura não quis arriscar uma projeção de cortes nos juros. Segundo ele, a queda na Selic dependerá da gravidade da crise internacional e da desaceleração da economia brasileira. "E temos uma inflação para controlar, também."

PROMOÇÃO ANTICRISE
Com custos elevados em 20% pela alta do dólar, Robério Esteves, diretor de operações da importadora M.Cassab, decidiu compensar o repasse no preço de alguns produtos com descontos de até 40% em outros. Segundo Esteves, o varejo teme uma retração no consumo. "Eles estão com receio de se abastecer e não conseguir vender os produtos." Para ele, as distribuidoras devem criar ações de apoio ao varejo e não se intimidarem com a crise. Neste ano, a M.Cassab dobrou o orçamento de merchandising para o Natal, com foco em campanhas de incentivo a vendedores do varejo.

TSUNAMI
Os reflexos da crise chegaram ontem a 70 funcionários do banco suíço UBS, que foram desligados sem justa causa. A eles, devem se juntar outros 260 funcionários, que deverão receber o presente de Natal adiantado até sexta-feira, segundo fontes do próprio banco. O Citibank também está promovendo uma forte reestruturação no Brasil. Os cortes podem chegar a cem.

NA BRASA
O presidente russo Dmitry Medvedev desembarca no Brasil no final de novembro e o presidente Lula irá oferecer a ele um churrasco na Granja do Torto. A Rússia manteve um embargo sanitário contra alguns Estados do Brasil até o ano passado.

AUTOMAÇÃO
A Snack Control acaba de ser vendida para a Bematech, uma das maiores empresas do país no ramo de automação comercial.

NO BOLSO
O gasto médio em cartões de crédito deve marcar R$ 185 por plástico em outubro, segundo a Abecs, que representa o setor.

ENQUANTO ISSO
Enquanto o presidente mundial do Santander, Emílio Botín, apresenta hoje um plano estratégico para o grupo, os bancários farão protestos nos centros administrativos do Santander e do Real em defesa do emprego. Os dois bancos estão em processo de fusão e o Sindicato dos Bancários de SP quer incluir nesse plano garantias do emprego de 54 mil funcionários do grupo.

BULA
Ciro Mortella, da Febrafarma, diz que a crise apertou as contas da indústria farmacêutica. O setor está pagando mais caro pela matéria-prima importada com a alta do dólar, mas não pode reajustar preços pela legislação brasileira. Além do câmbio desfavorável, o setor também teme que a crise dificulte o aumento do orçamento público para a saúde. "A aprovação da CSS fica mais difícil na crise."

SEM CORTES
Sérgio Aredes, do Sindicel, que esteve em Brasília na terça, disse que a tendência no governo para reagir à crise não é de cortar impostos, mas de extensão de prazos de recolhimentos e de injeção de recursos na economia.

YESTERDAY
A música dos Beatles foi cedida para tocar no jogo Rock Band, na primeira negociação da história do quarteto de Liverpool com games, segundo o "Financial Times". De acordo com o jornal, representantes da banda já negociavam há meses com a MTV Games, dona do Rock Band.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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