São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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análise

BC endurece sem o apoio da Fazenda

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central decidiu partir para o enfrentamento com os grandes bancos privados. Abandonou os incentivos para que comprem as carteiras de crédito dos bancos menores e decidiu penalizá-los financeiramente. A estratégia é ousada e não foi consenso no governo.
O prejuízo para quem preferir deixar dinheiro depositado no BC na forma de compulsórios pode chegar a mais de 10%.
A partir de 14 de novembro, a remuneração dos bancos sobre os depósitos a prazo, cujo principal instrumento é o CDB, será o equivalente a 89,56% da taxa básica de juros Selic. Até agora, rendiam 100% da Selic aos bancos.
A idéia é que, ao receber menos pelos depósitos à prazo, os bancos vão preferir fazer operações mais rentáveis como adquirir carteiras de crédito das instituições de menor porte que estão sem dinheiro em caixa para suas operações diárias. É um "desincentivo", segundo a Folha ouviu de um membro do governo.
A aposta do BC, no entanto, tem um risco. No limite, os grandes bancos podem até preferir ficar com os R$ 28 bilhões que o governo estima liberar com essa medida e repassar o custo da punição aos clientes. Se o sistema financeiro decidir pagar menos pelos CDBs que emite e achar compradores para esses títulos, terá resolvido seu problema. Pagará menos na captação junto aos clientes e também receberá menos do governo.
Politicamente, o BC parece estar no caminho certo. Cumpre o que o presidente Lula vinha pedindo, já que ele criticou os grandes bancos por não emprestarem o dinheiro liberado pelo governo. Lula chegou a dizer que o BC tomaria de volta os recursos que ficassem parados.
Mas o BC se aventurou em mais um vôo solo. Levou adiante a punição aos bancos sem respaldo integral da Fazenda. A equipe do ministro Guido Mantega considerava a punição uma medida para ser tomada mais adiante, caso não houvesse avanço.
A circular do Banco Central reduzindo os ganhos dos bancos já estava pronta na terça-feira.


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