São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Consumo cai, e PIB dos EUA recua 0,3%

Terceiro trimestre registra o primeiro recuo desde 1991 no gasto das famílias, motor da maior economia do planeta

Exportações ajudaram a reduzir queda no trimestre, mas alta do dólar agora deve piorar saldo comercial e acelerar o declínio

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A economia americana teve desempenho negativo anualizado de 0,3% no terceiro trimestre deste ano, e o ritmo de consumo no país caiu pela primeira vez em 17 anos.
O recuo do PIB (Produto Interno Bruto) foi o maior para o período desde 2001 (-1,4%), ano dos atentados do 11 de Setembro, fato apontado por especialistas como o início de uma recessão na maior economia do planeta. A definição de recessão é de dois trimestres seguidos de PIB negativo.
No período de julho a setembro, o consumo das famílias, o principal motor da economia americana, caiu 3,1%, tendo contribuição negativa de 2,25 pontos percentuais no PIB. É o primeiro recuo desde 1991 e o maior desde 1980, no governo do democrata Jimmy Carter, quando os EUA adotaram controles à expansão do crédito visando conter a inflação.
Os indicadores, divulgados pelo Departamento de Comércio, também mostraram queda de 6,4% nos gastos das famílias com bens não-duráveis, como vestuário e alimentos. Foi o maior recuo desde 1950.
O resultado do trimestre também foi afetado por cortes nos investimentos das empresas e diminuição no ritmo da construção civil. Uma redução do déficit comercial no período e a manutenção em níveis elevados dos estoques das empresas impediu retração maior.
Sem essas duas variáveis, a economia teria se contraído 1,8%, a maior queda desde 1991. Mas, com o dólar subindo, o déficit comercial deve aumentar, já que as exportações ficarão mais caras.
Apesar da queda no PIB, a Bolsa de Nova York voltou a subir pelo terceiro pregão seguido: 2,11% no índice Dow Jones e 2,58% no S&P 500.
Para o mercado, a principal notícia positiva foi o aumento recorde de emissão, pelas empresas privadas, dos chamados "commercial papers", títulos que elas colocam no mercado para financiar seu dia-a-dia.
Tendo agora o Fed (o BC dos EUA) como principal comprador dos títulos, houve aumento de US$ 100,5 bilhões (ou 6,9%) no saldo das emissões até anteontem, o que elevou o total de papéis no mercado para mais de US$ 1,5 trilhão. Quanto mais dinheiro nesse setor, melhor a fluidez dos negócios.
Nos momentos mais agudos da crise, no final de setembro, as emissões diárias totais de "commercial papers" ficaram abaixo de US$ 6 bilhões.
O mercado também esperava redução do crescimento no terceiro trimestre maior do que o 0,3% registrado, o que animou os investidores.
Mas muitos economistas já trabalham com previsão de queda superior a 2% no PIB do último trimestre. Os mais pessimistas prevêem 4%.

Mais calote
Os consumidores nos EUA, responsáveis por dois terços da expansão do PIB, têm sido atingidos pela combinação de aumento do desemprego, diminuição da poupança aplicada nas Bolsas e aperto no mercado de crédito ao consumo.
Levantamento realizado pela Moody's mostrou alta de 6,3% em julho para 6,8% em agosto no total de dívidas de cartões de crédito que não foram pagas e que os bancos tiveram de assumir como prejuízo. A Moody's estima que esse percentual tende a alcançar mais de 7,5% até o final de 2009.
"Os bancos terão de aumentar ainda mais os provisionamentos para sustentar essas perdas, o que deve ter impacto negativo em seus resultados", diz o economista Keith Leggett, da American Bankers Association -a Febraban americana.
A expectativa é que não apenas os EUA entrem em recessão, mas também grande parte das economias avançadas.
"Precisamos ainda ver se outros países, assim como os EUA, vão lançar novos pacotes de estímulo para impedir o desaquecimento, pois isso não é apenas um problema local, mas global", afirma Max Bublitz, da SCM Advisors.


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