São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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entrevista

Fim da recessão é inequívoco, afirma analista

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de alguns índices desanimadores e do alerta do NBER (Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas, da sigla em inglês) -o comitê responsável por analisar os ciclos da atividade nos EUA- de que não se pode afirmar com certeza que a recessão americana chegou ao fim, a pesquisadora brasileira Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia em Riverside, defende que não há dúvidas de que a recuperação está em curso.
"Entretanto, o quão forte ou lenta será essa retomada depende do comportamento da demanda nos próximos meses", explica. Leia a seguir trechos da entrevista que Chauvet concedeu à Folha por telefone.

 

FOLHA - A recessão nos EUA acabou mesmo?
MARCELLE CHAUVET -
Sim, o modelo já indicava que a recessão havia terminado em julho de 2009 -naquele mês, a probabilidade estava em apenas 38,5%, e dados preliminares indicam que em agosto se encontra bem mais baixa.

FOLHA - O NBER diz que ainda é cedo para tirar uma conclusão.
CHAUVET -
Embora o NBER seja considerado um órgão quase oficial, é constituído por economistas que usam modelos. E eles não são os donos da verdade -produzem um parecer que alguns especialistas aceitam e outros não. A questão é que o NBER não quer ficar revisando números, por isso deixa que passe bastante tempo até emitir uma opinião. O comitê nunca se pronuncia logo depois do início ou do fim da recessão. Da mesma forma, o seu análogo brasileiro não se reuniu ainda para discutir a situação do país.

FOLHA - Qual é a chance de a retomada dos EUA ser em forma de W, ou seja, com uma nova queda depois da retomada inicial?
CHAUVET -
Não há nenhum indicador mostrando que isso vá acontecer, embora a possibilidade sempre exista, claro. Inclusive pelo método do NBER, todos os indicadores antecedentes atuais apresentam trajetória bem similar ao típico das recuperações. Entretanto, o quão forte ou lenta será essa retomada depende do comportamento da demanda nos próximos meses.

FOLHA - Hoje [ontem] saiu um dado decepcionante a respeito da confiança do consumidor. Em que medida essa índice pode atrapalhar o restabelecimento da atividade americana, considerando que os empresários esperam uma sinalização mais firme dos rumos da demanda para investir e contratar mais funcionários?
CHAUVET -
Existem estudos demonstrando que a ligação entre o sentimento do consumidor e a sua atitude efetiva é fraca. A confiança reflete apenas um momento, então, se o desemprego está alto, isso aparece na sondagem.
Além disso, uma das principais pesquisas a respeito do sentimento é feita por telefone, a outra, por carta... O universo consultado pode não ser representativo. Deve-se considerar, ainda, que o PIB (Produto Interno Bruto) americano cresceu no último trimestre devido principalmente ao consumo pessoal.
O que influiu negativamente foi um aumento nas importações, a queda das despesas dos governos dos Estados e municípios e uma desaceleração dos dispêndios do governo federal.

FOLHA - Mas o nível de desemprego a preocupa?
CHAUVET -
Esses índices são defasados: somente se recuperam depois que a recessão termina. Em alguns Estados americanos, o desemprego já começou a cair, em outros está aumentando devido a algum fator regional.

FOLHA - Quanto as medidas adotadas pelo presidente Obama ajudam?
CHAUVET -
Os resultados serão aferidos no longo prazo. Porém, o governo não deve pensar em outros tipos de ajuda porque o deficit está grande demais.


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