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entrevista
Fim da recessão é inequívoco, afirma analista
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de alguns índices
desanimadores e do alerta do
NBER (Escritório Nacional
de Pesquisas Econômicas, da
sigla em inglês) -o comitê
responsável por analisar os
ciclos da atividade nos
EUA- de que não se pode
afirmar com certeza que a recessão americana chegou ao
fim, a pesquisadora brasileira Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia em Riverside, defende que não há dúvidas de que
a recuperação está em curso.
"Entretanto, o quão forte ou
lenta será essa retomada depende do comportamento da
demanda nos próximos meses", explica.
Leia a seguir trechos da
entrevista que Chauvet concedeu à Folha por telefone.
FOLHA - A recessão nos EUA acabou mesmo?
MARCELLE CHAUVET - Sim, o
modelo já indicava que a recessão havia terminado em
julho de 2009 -naquele
mês, a probabilidade estava
em apenas 38,5%, e dados
preliminares indicam que
em agosto se encontra bem
mais baixa.
FOLHA - O NBER diz que ainda é
cedo para tirar uma conclusão.
CHAUVET - Embora o NBER
seja considerado um órgão
quase oficial, é constituído
por economistas que usam
modelos. E eles não são os
donos da verdade -produzem um parecer que alguns
especialistas aceitam e outros não. A questão é que o
NBER não quer ficar revisando números, por isso deixa que passe bastante tempo
até emitir uma opinião. O comitê nunca se pronuncia logo depois do início ou do fim
da recessão. Da mesma forma, o seu análogo brasileiro
não se reuniu ainda para discutir a situação do país.
FOLHA - Qual é a chance de a retomada dos EUA ser em forma de
W, ou seja, com uma nova queda
depois da retomada inicial?
CHAUVET - Não há nenhum
indicador mostrando que isso vá acontecer, embora a
possibilidade sempre exista,
claro. Inclusive pelo método
do NBER, todos os indicadores antecedentes atuais
apresentam trajetória bem
similar ao típico das recuperações. Entretanto, o quão
forte ou lenta será essa retomada depende do comportamento da demanda nos próximos meses.
FOLHA - Hoje [ontem] saiu um
dado decepcionante a respeito da
confiança do consumidor. Em
que medida essa índice pode
atrapalhar o restabelecimento da
atividade americana, considerando que os empresários esperam
uma sinalização mais firme dos
rumos da demanda para investir
e contratar mais funcionários?
CHAUVET - Existem estudos
demonstrando que a ligação
entre o sentimento do consumidor e a sua atitude efetiva é fraca. A confiança reflete
apenas um momento, então,
se o desemprego está alto, isso aparece na sondagem.
Além disso, uma das principais pesquisas a respeito do
sentimento é feita por telefone, a outra, por carta... O universo consultado pode não
ser representativo. Deve-se
considerar, ainda, que o PIB
(Produto Interno Bruto)
americano cresceu no último
trimestre devido principalmente ao consumo pessoal.
O que influiu negativamente
foi um aumento nas importações, a queda das despesas
dos governos dos Estados e
municípios e uma desaceleração dos dispêndios do governo federal.
FOLHA - Mas o nível de desemprego a preocupa?
CHAUVET - Esses índices são
defasados: somente se recuperam depois que a recessão
termina. Em alguns Estados
americanos, o desemprego já
começou a cair, em outros
está aumentando devido a algum fator regional.
FOLHA - Quanto as medidas
adotadas pelo presidente Obama
ajudam?
CHAUVET - Os resultados serão aferidos no longo prazo.
Porém, o governo não deve
pensar em outros tipos de
ajuda porque o deficit está
grande demais.
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