São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

IPCA deve fechar ano que vem em 9,5% no ano, três pontos percentuais acima do teto da meta acertada

BC sobe previsão de inflação para 2003

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A economia brasileira deve crescer 2,8% no ano que vem, o primeiro do mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, segundo estimativa feita pelo Banco Central. Já a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), chegaria a 9,5% nas contas do BC -três pontos percentuais acima do teto da meta fixada.
As projeções constam do Relatório de Inflação, documento que, elaborado pelo BC a cada três meses, analisa o comportamento dos preços e traça perspectivas para a economia.
Os números oficiais são um pouco mais otimistas do que as projeções do mercado. A expectativa dos bancos é de uma inflação de 11% e de um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1,94%, segundo pesquisa diária feita pelo BC.
Neste ano, a inflação vai ficar em 12,4%, de acordo com o BC -entre janeiro e novembro, a alta acumulada já chegou a 10,2%. Isso significa que, nos dois anos, as metas fixadas pelo atual governo não serão cumpridas.
Desde 1999 o governo adota o sistema de metas para a inflação. Daquele ano para cá, os objetivos fixados só foram cumpridos em 1999 e em 2000. A meta deste ano prevê uma alta de, no máximo, 5,5% para o IPCA. Para 2003, o teto é de 6,5%.
"Não dá para prever números melhores. Essa é a realidade", afirma o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn. A forte desvalorização do real é apontada como um dos responsáveis pela alta dos preços.
A inflação de 9,5% projetada para o ano que vem pressupõe que os juros básicos da economia serão mantidos nos atuais 25% ao ano durante todo o ano de 2003. Outro pressuposto é que a cotação do dólar se estabilize em R$ 3,55 de agora em diante.
Num cenário alternativo, o BC calculou qual seria a inflação de 2003 caso o dólar recuasse para R$ 3,20 até o final do ano que vem. Nesse caso, o IPCA registraria uma alta de 7,3% -ainda acima, portanto, da meta estipulada pela atual equipe econômica.
A alta do dólar leva a reajustes nos preços de produtos importados ou de bens que contenham componentes produzidos fora do país. Além disso, a moeda dos EUA interfere no preço dos combustíveis e nas tarifas públicas. Grande parte dos contratos de setores como o elétrico e o de telefonia são reajustados pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), índice mais sensível às variações da taxa de câmbio.
Neste ano, o aumento registrado pelo conjunto de tarifas públicas deve ficar em 15,4%. Isso representa uma elevação de aproximadamente 4,3 pontos percentuais no IPCA de 2002.
Goldfajn diz que o BC poderia ter feito esforços maiores para cumprir as metas de inflação, mas isso significaria juros ainda mais elevados, que poderia levar o país a uma recessão. "O BC atua de tal maneira que os custos para a economia sejam os menores possíveis", afirma o diretor.
Desde outubro, os juros foram elevados de 18% para 25% ao ano, na tentativa de conter a alta dos preços. O crescimento da economia, em 2002, deve ficar em 1,6%, segundo o BC -no ano passado, o país cresceu 1,5%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que, nos últimos meses, já se nota uma fraca recuperação de alguns setores da economia. Para Lopes, a simples manutenção do atual nível de atividade ao longo de 2003 levará a um crescimento de 2,8% no ano que vem.
Esse resultado deve ser puxado, nas contas do BC, pelo crescimento de 6% a ser registrado pelo setor agropecuário. O BC espera, ainda para 2003, um crescimento de 3,2% para a indústria e de 2,1% para o setor de serviços.


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