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LUÍS NASSIF
Falta pensar grande
Em todos os campos de
pensamento há um conflito permanente entre o novo e o
estabelecido. Em muitos casos,
o novo encerra armadilhas, da
idéia não testada ou meramente falsa. Mas a armadilha
do velho não é menos letal, especialmente quando a forma
velha de pensar leva a um beco
sem saída, como é o caso do
modelo atual de apreciação
cambial, taxas de juros elevadas e arrocho fiscal.
O modelo começa a fazer
água por todos os lados, explodem irrupções, distorções, desequilíbrios, projeções honestas
apontam para a inviabilidade
da trajetória escolhida. Mas a
ortodoxia é implacável.
Numa ponta, há um extenso
quadro de economistas ortodoxos rasos, que se recusam a admitir a existência do problema.
Recorrem às chamadas "máximas da planilha", de buscar
uma explicação simplória para
cada problema, sem atentar
para o desequilíbrio do conjunto. Há um segundo nível mais
honesto de economista ortodoxo que consegue enxergar o beco sem saída, mas não tem respostas porque está preso à ortodoxia.
É o caso do jovem delfim da
PUC do Rio de Janeiro que escreve regularmente para o jornal "Valor". É analista consistente, embora, vez por outra,
tenha de pagar seu óbolo para
os cardeais da instituição. Na
edição de sexta-feira (26/12),
ele trabalha em cima do mesmo "modelito" simplificado
que utilizei na coluna de 25 de
novembro, de simulações em
torno de quatro variáveis: relação inicial dívida/PIB, taxa
real de juros, crescimento do
PIB e superávit primário.
Sua conclusão -já expressa
por outros economistas também- é da quase impossibilidade de um ajuste gradativo
do endividamento público, pelo prazo longuíssimo requerido
e pela ausência de estabilizadores automáticos na economia, como ocorre com economias desenvolvidas. Qualquer
choque externo deflagra um
processo de fuga de capitais,
que desvaloriza o câmbio, os
preços internos, obrigando a
novos aumentos dos juros com
nova queda da atividade econômica e reversão da trajetória
declinante da dívida pública.
Posto que esse modelo não
tem saída, o que o jovem delfim propõe? "Avançar em reformas (...) que possibilitarão
reduzir os gastos fiscais, aumentar o grau de competição
da nossa economia" etc. etc.
etc. Ou seja, depois de constatar a inviabilidade de um processo gradativo de ajuste... propõe um ajuste gradativo.
O próprio Tesouro utiliza o
conhecimento de seu corpo técnico para se limitar a trabalhar
em cima de sua carteira de títulos, melhorando um pouquinho a composição aqui, esticando um pouquinho o prazo
ali. O país tem um conjunto de
ativos potenciais, que serão explorados pelas PPP (Parcerias
Público-Privadas), tem um
conjunto expressivo de passivos e ativos públicos, tem as relações entre União e Estados
demandando encontros de
contas. Esse conjunto de fatores
pode ser bem explorado com
uma engenharia financeira
competente e criativa, para
juntar essas peças e montar
uma política alternativa, que
afaste o fantasma do default.
Mas, antes, será preciso exorcizar essa ortodoxia estéril.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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