São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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Indústria tem pior resultado da década

Rentabilidade do setor é inferior ao custo do capital; deixar dinheiro no mercado financeiro rende mais que investir na produção

São várias as razões para o desempenho fraco do setor; para as grandes, o problema foi o câmbio e a dificuldade para exportar


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Vendas e margens de lucro em queda fizeram do primeiro semestre deste ano o pior da década para o setor industrial. Grandes e pequenas empresas do setor nem sequer conseguiram atingir rentabilidade que superasse o custo de capital, medido como rentabilidade das aplicações financeiras. Para o segundo semestre, as estimativas são que o cenário será tão ruim quanto o dos seis primeiros meses de 2006.
Os balanços de 1.338 empresas do setor industrial analisados no "Painel de Competitividade Fiesp-Serasa" mostra que, apesar da queda dos juros, investir no setor produtivo ainda é praticamente sinônimo de perder dinheiro.
O setor como um todo não dá prejuízo, pelo contrário, a rentabilidade é positiva em todos os anos desde 2001, ano em que começou o acompanhamento do estudo da Fiesp-Serasa. Mas a rentabilidade da indústria é, em média, inferior ao custo do capital. Ou seja, quem investiu R$ 1 na atividade industrial poderia ganhar mais se tivesse decidido deixar o dinheiro no mercado financeiro.
O levantamento considera os balanços do primeiro semestre, mas, diz a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), pouco mudou desde então. "Nós fazemos um monitoramento. Os juros caíram, mas o "spread" bancário, não. A queda não chegou ao consumidor final. Só as grandes empresas têm acesso ao financiamento. Nossa percepção é que, no segundo semestre, pouca coisa vai mudar em relação ao primeiro", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade da Fiesp. "Os mesmos elementos que contribuíram para o baixo crescimento econômico na primeira metade do ano continuam presentes", conclui o "Painel de Competitividade".

Desempenho fraco
São várias as razões para o desempenho fraco do setor, e elas são diferentes dependendo do tamanho das empresas. Para as grandes, o problema foi o câmbio e a conseqüente dificuldade para exportar e para redirecionar a produção para o mercado interno. As vendas das grandes empresas caíram 7,4%. Para compensar, as empresas tentaram reduzir custos, mas conseguiram redução, em média, de 5%. Resultado: queda na rentabilidade sobre o patrimônio, que havia sido de 10,8% no semestre que terminou em junho de 2005 e baixou 34%, chegando a 7,1% no primeiro semestre deste ano.
2006 foi ruim para as grandes empresas em vários sentidos. As vendas caíram pela primeira vez na década. De 2001 a 2005, as vendas subiram, em média 6,3% ao ano, sempre comparando os resultados dos primeiros semestres. O primeiro semestre de 2006 também registra a menor margem de lucro da década para as grandes empresas do setor industrial.
Neste ano, a margem de lucro ficou em 14,3%, contra resultado de 17,3% no ano passado. Por fim, a queda nas vendas foi superior à capacidade de reduzir custos e compensar as perdas. Assim, a relação entre a despesas operacional e o faturamento foi a maior desde junho de 2002.
O cenário não é tão desastroso para as pequenas e médias empresas. Mas explique-se: desde 2001 elas têm enfrentado situações muito mais dramáticas do que as enfrentadas pelas grandes empresas. Enquanto as grandes registraram vendas crescentes em todo o período 2001-2005 e só enfrentaram retração neste ano, as PME's (pequenas e médias empresas) enfrentaram um início de década bem mais turbulento.
Os três primeiros anos desta década foram de estagnação para as PME's industriais. Estagnação que foi interrompida pelos bons resultados de 2004, ano de melhor rentabilidade para as pequenas e médias. 2005, novamente, foi ano de retração e, em 2006, graças à capacidade de redução de custos, as PME's não registraram queda tão grande de rentabilidade quanto as grandes empresas.

Rentabilidade
Na média, a rentabilidade sobre o patrimônio das PME's industriais era de 7,1% no primeiro semestre de 2005 e baixou para 6,4% em 2006. A queda é menos pronunciada do que nos casos das grandes empresas porque PME's conseguiram reduzir mais os custos, compensando parte importante da queda de 4,8% nas vendas.
O câmbio, que prejudicou as exportações, é apontado como grande obstáculo para a grande indústria -a indústria não conseguiu manter a rentabilidade das exportações tampouco redirecionar a produção para o mercado interno e ainda sofreu a concorrência dos importados mais baratos. As pequenas empresas, por sua vez, sofrem mais por conta de aspectos internos, sendo o alto custo do crédito o grande inibidor para o crescimento das PME's, diz o estudo da Fiesp-Serasa.
Os dados dos balanços mostram que enquanto as despesas financeiras líquidas representam 71% do lucro líquido das pequenas e médias empresas, para as grandes essa proporção é de apenas 16%. "As pequenas e médias empresas não crescem porque o crédito é caro e raro", relata o documento.


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