|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Indústria tem pior resultado da década
Rentabilidade do setor é inferior ao custo do capital; deixar dinheiro no mercado financeiro rende mais que investir na produção
São várias as razões para o desempenho fraco do setor; para as grandes, o problema foi o câmbio e a dificuldade para exportar
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Vendas e margens de lucro
em queda fizeram do primeiro
semestre deste ano o pior da
década para o setor industrial.
Grandes e pequenas empresas
do setor nem sequer conseguiram atingir rentabilidade que
superasse o custo de capital,
medido como rentabilidade das
aplicações financeiras. Para o
segundo semestre, as estimativas são que o cenário será tão
ruim quanto o dos seis primeiros meses de 2006.
Os balanços de 1.338 empresas do setor industrial analisados no "Painel de Competitividade Fiesp-Serasa" mostra
que, apesar da queda dos juros,
investir no setor produtivo ainda é praticamente sinônimo de
perder dinheiro.
O setor como um todo não dá
prejuízo, pelo contrário, a rentabilidade é positiva em todos
os anos desde 2001, ano em que
começou o acompanhamento
do estudo da Fiesp-Serasa. Mas
a rentabilidade da indústria é,
em média, inferior ao custo do
capital. Ou seja, quem investiu
R$ 1 na atividade industrial poderia ganhar mais se tivesse decidido deixar o dinheiro no
mercado financeiro.
O levantamento considera os
balanços do primeiro semestre,
mas, diz a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São
Paulo), pouco mudou desde então. "Nós fazemos um monitoramento. Os juros caíram, mas
o "spread" bancário, não. A queda não chegou ao consumidor
final. Só as grandes empresas
têm acesso ao financiamento.
Nossa percepção é que, no segundo semestre, pouca coisa
vai mudar em relação ao primeiro", diz José Ricardo Roriz
Coelho, diretor do Departamento de Competitividade da
Fiesp. "Os mesmos elementos
que contribuíram para o baixo
crescimento econômico na primeira metade do ano continuam presentes", conclui o
"Painel de Competitividade".
Desempenho fraco
São várias as razões para o
desempenho fraco do setor, e
elas são diferentes dependendo
do tamanho das empresas. Para
as grandes, o problema foi o
câmbio e a conseqüente dificuldade para exportar e para redirecionar a produção para o
mercado interno. As vendas
das grandes empresas caíram
7,4%. Para compensar, as empresas tentaram reduzir custos, mas conseguiram redução,
em média, de 5%. Resultado:
queda na rentabilidade sobre o
patrimônio, que havia sido de
10,8% no semestre que terminou em junho de 2005 e baixou
34%, chegando a 7,1% no primeiro semestre deste ano.
2006 foi ruim para as grandes empresas em vários sentidos. As vendas caíram pela primeira vez na década. De 2001 a
2005, as vendas subiram, em
média 6,3% ao ano, sempre
comparando os resultados dos
primeiros semestres. O primeiro semestre de 2006 também
registra a menor margem de lucro da década para as grandes
empresas do setor industrial.
Neste ano, a margem de lucro
ficou em 14,3%, contra resultado de 17,3% no ano passado.
Por fim, a queda nas vendas foi
superior à capacidade de reduzir custos e compensar as perdas. Assim, a relação entre a
despesas operacional e o faturamento foi a maior desde junho de 2002.
O cenário não é tão desastroso para as pequenas e médias
empresas. Mas explique-se:
desde 2001 elas têm enfrentado
situações muito mais dramáticas do que as enfrentadas pelas
grandes empresas. Enquanto
as grandes registraram vendas
crescentes em todo o período
2001-2005 e só enfrentaram
retração neste ano, as PME's
(pequenas e médias empresas)
enfrentaram um início de década bem mais turbulento.
Os três primeiros anos desta
década foram de estagnação
para as PME's industriais. Estagnação que foi interrompida
pelos bons resultados de 2004,
ano de melhor rentabilidade
para as pequenas e médias.
2005, novamente, foi ano de retração e, em 2006, graças à capacidade de redução de custos,
as PME's não registraram queda tão grande de rentabilidade
quanto as grandes empresas.
Rentabilidade
Na média, a rentabilidade sobre o patrimônio das PME's industriais era de 7,1% no primeiro semestre de 2005 e baixou
para 6,4% em 2006. A queda é
menos pronunciada do que nos
casos das grandes empresas
porque PME's conseguiram reduzir mais os custos, compensando parte importante da queda de 4,8% nas vendas.
O câmbio, que prejudicou as
exportações, é apontado como
grande obstáculo para a grande
indústria -a indústria não conseguiu manter a rentabilidade
das exportações tampouco redirecionar a produção para o
mercado interno e ainda sofreu
a concorrência dos importados
mais baratos. As pequenas empresas, por sua vez, sofrem
mais por conta de aspectos internos, sendo o alto custo do
crédito o grande inibidor para o
crescimento das PME's, diz o
estudo da Fiesp-Serasa.
Os dados dos balanços mostram que enquanto as despesas
financeiras líquidas representam 71% do lucro líquido das
pequenas e médias empresas,
para as grandes essa proporção
é de apenas 16%. "As pequenas
e médias empresas não crescem porque o crédito é caro e
raro", relata o documento.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Qualquer que seja o tamanho, empresa sofre do "ambiente sistêmico", diz painel Índice
|