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Funcionário ganha mais monitores

Proliferação de telas permite focar mais tarefas, mas pode afetar produtividade, diz pesquisador

MATT RICHTEL
DO “NEW YORK TIMES”

Os trabalhadores da era digital às vezes podem se sentir como se estivessem jogando videogame e lutando contra uma avalanche de e-mails, fazendo malabarismo com sites da web e agendas on-line. Para enfrentar isso, os profissionais adquiriram agilidade com o mouse, alternando entre dezenas de janelas em um único monitor.

Mas existe uma nova tática cada vez mais usada para enfrentar o ataque dos dados: o acréscimo de uma segunda tela. Ou de uma terceira.

Essa proliferação de monitores é o último avanço no local de trabalho e é responsável pelo novo visual de empresas e escritórios -que começam a se parecer com um controle de missão espacial.

Para quem executa multitarefas em multitelas, um único monitor pode parecer tão antiquado quanto a conexão discada à internet.

"Você volta a usar só um monitor e parece lento", diz Jackie Cohen, 42, que usa três monitores de 17 polegadas em seu "home office", onde edita um blog sobre o Facebook.

A tela central mostra o que ela está escrevendo ou editando, além de e-mails ou mensagens instantâneas. Os monitores à esquerda e à direita exibem sites de notícias, blogs e notas do Twitter. Ela mantém de três a dez janelas abertas em cada um.

MULTIPLICAÇÃO

Certamente há mais pessoas tentando trabalhar com mais telas. As empresas de tecnologia venderam 179 milhões de unidades em todo o mundo no ano passado e 130 milhões de computadores desktop -o que significa "mais telas por mesa", diz Rhoda Alexander, que dirige pesquisa de monitores e tablets na IHS iSuppli.

Os monitores também estão maiores. A tela média vendida em todo o mundo é de 21 polegadas, contra 18 polegadas cinco anos atrás, segundo a iSuppli.

A NEC Display, fornecedora de monitores, diz que 30 a 40% dos funcionários de seus clientes corporativos hoje usam mais de um monitor; era 1% quatro anos atrás.

Existem muitos motivos para o aumento das vendas. As telas estão mais baratas (uma de 24 polegadas custa de US$ 200 a US$ 300 hoje, ante com US$ 700 cinco anos atrás) e mais finas, por isso as mesas conseguem acomodar um número maior delas.

ATRATIVO

As empresas tecnológicas utilizam monitores como ferramentas de recrutamento, diz Chuck Rossi, 45, que usa três (de 27 e 30 polegadas e um laptop de 17) para alternar entre dezenas de janelas em seu emprego de engenheiro no Facebook, onde verifica centenas de atualizações de softwares todos os dias.

As empresas usam isso para atrair candidatos ao emprego, diz Rossi. "Elas sabem que as instalações são importantes. Mostram que levam seus engenheiros a sério."

A principal justificativa para um esquema de vários monitores é que ele aumenta a produtividade.

Mas essa ideia não é tão simples de provar ou mensurar, em parte porque depende do tipo de trabalho e se as pessoas precisam estar constantemente olhando para diversos fluxos de dados.

Outra teoria afirma que as pessoas estão tão viciadas em malabarismo que ter mais monitores cria a compulsão de verificá-los.

Estudo feito na Universidade de Utah mostrou que a produtividade de quem trabalha em tarefas de edição é maior com dois monitores do que com um. O estudo foi financiado com cerca de US$ 50 mil da NEC Display.

O autor do estudo, James A. Anderson, professor de comunicação, diz que não foi influenciado pelo financiamento da NEC. Ele afirma que usa três monitores, mas que é difícil generalizar sobre se é melhor ter mais unidades.

Pelo menos, diz, mais telas reduzem o tempo de troca de janelas, o que pode economizar cerca de 10 segundos a cada cinco minutos de trabalho.

ROMA

David E. Meyer, professor de psicologia na Universidade de Michigan, cuja pesquisa concluiu que a multitarefa pode cobrar alto preço da produtividade, diz que aceita a lógica da alternância.

Mas adverte que a produtividade pode ser prejudicada quando as pessoas interrompem pensamentos para verificar diversas telas em vez de se concentrar em uma tarefa.

"Está ocorrendo uma 'matança de pensamentos'", diz. "Roma caiu e queimou porque ficou grande demais. Ultrapassando essa escala, você vai terminar como Roma."

Matt Alfrey, 39, diz que consegue lidar com não só dois monitores, mas seis. Ele é corretor na Pacific Crest Securities, no Oregon, e sua parede de telas é uma confusão de tabelas, gráficos e cotações que examina para prever tendências de mercado.

Mas existem desvantagens, reconhece Alfrey, como sentir-se isolado. Do outro lado da mesa, há um colega que mora no mesmo bairro que ele e também está cercado por monitores. "Nós brincamos que é mais provável encontrá-lo no bairro", disse Alfrey.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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