São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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"EU ME DEMITO"

Bem-feito, PDV une útil a agradável

Na esteira de outras montadoras do ABC, Volkswagen abriu programa na semana passada

Anna Carolina Negri/Folha Imagem
O analista logístico Dalmo Macedo, que foi "convidado' a deixar seu emprego de seis anos


MARIANA BERGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Greve, protesto no meio de uma rodovia, culto ecumênico, panfletagem e discussões nas Câmaras municipais, na Assembléia Legislativa e com diversos sindicatos e associações.
O resultado de toda a movimentação dos trabalhadores da Volkswagen -que durou cinco meses, desde o anúncio de demissão em massa e de cortes de direitos dos funcionários da empresa- foi decidido em assembléia no dia 14 de setembro.
No acordo, foi definido que 1.500 trabalhadores podem aderir ao PDV (programa de demissão voluntária), nome pelo qual é conhecida a concessão de prêmio de incentivo ao desligamento do empregado. O programa começou na última segunda-feira, com 26 adesões.
Só no ABC paulista, 7.873 metalúrgicos aderiram a PDVs desde 2001, de acordo com o sindicato da categoria. No mês passado, a montadora Mercedes-Benz também desligou 120 funcionários da região pelo mesmo tipo de programa.
Herbert Roberto de Oliveira, 26, foi um dos trabalhadores que aproveitaram a oportunidade para deixar a Mercedes. Recém-graduado em educação física, Oliveira trabalhou por oito anos na montagem de motores da indústria automotiva.
"Comecei a ter outro foco e queria partir para a área em que havia me formado", afirma. Uma semana depois de ele tentar fazer um acordo com o departamento de RH para sua saída da empresa, o programa foi lançado pela montadora -exatamente quando Oliveira foi aprovado num processo seletivo da academia Bio Ritmo.
Além da multa de 40% do fundo de garantia que a empresa precisou pagar, Oliveira recebeu todos os seus direitos trabalhistas, três meses a mais de plano de saúde, participação nos lucros e o valor de três salários, em razão de um acidente de trabalho ocorrido na firma.
De acordo com a professora de gestão de carreiras Elza Veloso, doutoranda em administração, sua decisão faz sentido. "Quem está querendo mudar de área ou de profissão e quer se qualificar pode ter uma boa oportunidade ao aderir a um plano como esse", opina.
A bacharel em letras Ana Paula de Almeida, 37, deixou o Banespa em um PDV, quando o banco foi incorporado pelo grupo Santander, em 2001.
"O departamento em que eu trabalhava foi terceirizado e, para continuar atuando lá, eu precisava aderir ao programa. Fui recontratada como prestadora de serviço e me seguraram o tempo necessário para treinar novos funcionários", diz.

Como é
Em geral, os programas de demissão oferecem bônus por ano trabalhado, extensão do plano de saúde, liberação do fundo de garantia acrescido de multa para o empregador, participação nos lucros, consultoria de recolocação profissional, mais direitos trabalhistas.
Há muita discussão sobre se os funcionários desligados têm direito a receber seguro-desemprego, já que não há definição legal para o PDV, de acordo com o advogado trabalhista Geraldo Baraldi Junior, da Demarest & Almeida Advogados.
"O programa é um estímulo à demissão. Se for entendido como acordo para rescisão contratual, o empregado tem direito a seguro-desemprego", diz.
A firma pode optar pelo PDV quando tem meta de reduzir quadro de funcionários, ao sofrer mudança na base tecnológica e precisar de profissionais com outras competências, quando deixa de trabalhar com alguma atividade ou se o quadro está envelhecido, segundo a consultora Iaci Rios, da DBM.
"Ao lançar um PDV, a empresa estará sujeita a perder talentos, sobretudo se houver pouco diálogo com os empregados."


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