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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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AUMENTO ILUSÓRIO

Salários perdem para a inflação em 2002

Ana Ottoni/Folha Imagem
Savina Chuello, gerente, diz não poder comprar itens que vende


TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de trabalho encerrou 2002 registrando uma defasagem geral dos salários. O dado é fruto de estudo realizado pelo Datafolha, que acompanhou a variação das remunerações em 113 empresas da Grande São Paulo.
Entre dezembro de 2001 e dezembro de 2002, o aumento salarial médio ficou na casa dos 8,19%, segundo a pesquisa. Já a inflação acumulada no mesmo período, de acordo com o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), foi de 9,92%.
O setor de comércio concentrou os maiores reajustes, com aumento médio de 10,23% nos salários ao longo do ano. O índice cai para 9,15% no segmento de construção civil, 8,75% no de indústria e 7,34% no de serviços.
"Os reajustes variam conforme a reação dos setores à conjuntura econômica. Nos segmentos que sofreram retração, a negociação por aumentos foi complicada, e os reajustes foram menores", afirma Ricardo Humberto Rocha, 40, professor de finanças do Labfin-USP (Laboratório de Finanças da Universidade de São Paulo).
Para ele, o fato de o comércio ter reajustado mais em relação a outros setores é consequência direta de mudanças nos hábitos de consumo vivenciadas pela população. "Em épocas de crise, as pessoas deixam de comprar carros e passam a comprar roupas."
O professor de finanças da USP Alexandre Assaf Neto, 55, enfatiza que a defasagem salarial não representa estagnação em todas as funções. "É um processo natural."

Data-base
A redefinição de salários a partir de datas-bases -método que prevê reposição de inflação e negociação por aumentos reais em uma data específica do ano- também colaborou para a defasagem salarial de várias categorias.
"Estávamos habituados a um quadro de inflação baixa, que mudou no final do ano. Por isso quem teve data-base no primeiro semestre negociou sobre esse parâmetro e saiu perdendo", esclarece Ricardo Humberto Rocha.
Na avaliação de Tadeu Moraes de Sousa Coelho, 43, coordenador-geral do Centro de Solidariedade ao Trabalhador, 2002 foi difícil para as negociações sindicais. "A situação econômica ruim implicou pouco crescimento."
O grupo profissional de ocupações da produção registrou maior reajuste médio, 8,8%, com maior índice na função de caldeireiro (11,99%). Administração, vendas e finanças tiveram reajustes de 8,51%, sendo que a categoria de vendedores técnicos foi beneficiada com variação de 17,06%, a maior apontada pela pesquisa.
"A demanda por vendedores técnicos é superior à oferta", ressalta Régis Castelano Amadeus, 35, diretor da Pinnacle, empresa de soluções para edição de vídeo.
Ele conta que os vendedores da empresa tiveram, inclusive, "reajustes superiores a 17,06%".



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