São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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PULMÃO EXPOSTO

País falha no diagnóstico de doença

Asma relacionada ao trabalho atinge 1,25 milhão de pessoas, em estimativa da Fundacentro

Fred Chalub/Folha Imagem
Ivo dos Santos, que tem doença que compromete a capacidade pulmonar, segura raio X do pulmão

BRUNA BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil tem dificuldade em identificar e notificar casos de doenças respiratórias ligadas ao trabalho.
Estimativas da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego, indicam, por exemplo, que a asma ataca 7,5 milhões de brasileiros adultos. Destes, 17%, ou 1,25 milhão de pessoas, podem ter a doença agravada pelas condições de trabalho.
Os números, esclarece Eduardo Algranti, pneumologista e pesquisador da Fundacentro, são baseados em estudos de países desenvolvidos, "onde o sistema de saúde ocupacional é mais abrangente que o brasileiro". "[E, por isso,] as estimativas podem ser conservadoras, e a realidade, pior", sinaliza o especialista.
Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, de janeiro a novembro de 2009, houve 1.864 afastamentos por doenças respiratórias ocupacionais com auxílio-doença do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Desses, 637 são relacionados a asma, doença respiratória mais frequente.
No ano anterior, o número de afastamentos por doenças respiratórias ocupacionais foi de 2.082 - 877 por asma.
Segundo o médico e diretor científico da Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), Zuher Handar, "há uma subnotificação de diagnósticos".

Causas
O desconhecimento de alguns médicos sobre os passos necessários para o encaminhamento de casos identificados e suspeitos de doenças ocupacionais pulmonares é um dos fatores que explicam o baixo número de notificações, diz Algranti.
Handar lista ainda outro motivo: a dificuldade em relacionar o sintoma às condições de trabalho. É preciso, diz, investir em treinamento dos profissionais de saúde.
"O médico do trabalho tem responsabilidade ética e profissional de investigar a relação da doença [que o paciente apresenta] com o trabalho", afirma.
Para Remígio Todeschini, diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, as notificações podem aumentar.
Até 2009, apenas os empregadores anunciavam ocorrências de acidentes de trabalho.
Com mecanismos como o FAP (Fator Acidentário de Prevenção), que aumenta a tributação conforme o índice de acidentes de trabalho, pode haver uma mudança de panorama.
"É preciso desenvolver uma cultura de prevenção continuada" afirma Todeschini.

Outras doenças
A asma está na liderança de doenças que afastaram trabalhadores de janeiro a novembro de 2009, segundo a Previdência. Na sequência, doenças das cordas vocais, com 424 casos, e DPOC (doenças pulmonares obstrutivas crônicas), com 198.


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