S?o Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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Ascensão lenta motiva migração

Profissionais trocam faculdade por iniciativa privada em busca de salário maior e crescimento

DE SÃO PAULO

Depois de atuar seis anos com pesquisa em ciências moleculares na USP (Universidade de São Paulo), a pós-doutora Sandra Sá, 34, saiu da academia em 2006 para trabalhar com pesquisa na indústria farmacêutica Roche.
O motivo, diz, foi "a falta de valorização e os baixos salários dos pesquisadores".
Há dois anos, foi promovida a gerente de projetos em sequenciamento genético. "Comecei a crescer como sempre desejei na minha carreira", afirma a executiva.
A adaptação ao novo estilo de trabalho, contudo, foi demorada. "Levei seis meses para acostumar-me com a rotina e os mecanismos da organização", lembra ela.
Para tentar manter o laço com a academia, Sá participava de congressos e bancas. A prática, no entanto, foi interrompida pela falta de tempo. "Trabalhar em empresa absorve toda a energia."
Casos como o de Sá não são isolados, segundo Ronaldo Aloise Pilli, pró-reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Os melhores talentos da instituição, ressalta, "são constantemente assediados pelo mercado".

IDEALISMO
A evasão de pesquisadores, no entanto, é "insignificante", afirma Pilli. "O salário do mercado pode ser mais atrativo, mas o que move o pesquisador a continuar na academia é o idealismo e a flexibilidade", justifica.
O coordenador do curso de MBA em tecnologia e inovação da FIA (Fundação Instituto de Administração), Isak Kruglianskas, concorda que o salário seja um entrave. "Ainda que a universidade dê espaço para o pesquisador investir em suas ambições, o salário desmotiva", considera.
Enquanto um professor doutor iniciante tem remuneração em torno de R$ 8.000 na universidade, um pesquisador com mestrado que atua em multinacional pode receber o dobro, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Não é só o salário que conta nesse tipo de mudança. O ritmo acelerado de trabalho em empresas privadas motivou a decisão de Bruno Betoni, 33, de deixar a academia para ser pesquisador da multinacional GE em Munique (Alemanha), em 2008.
"Aplico o conteúdo que aprendi desde a graduação até o doutorado", conta ele, hoje na GE do Brasil.


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