UOL


São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Profissionais do primeiro escalão têm mais chances de desenvolver e alastrar fobias

Sem tratamento, pânico pode "contaminar" colegas de equipe

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ansiedade é contagiante, dizem médicos e consultores. Isso significa que uma doença como fobia social ou síndrome do pânico pode prejudicar todo um departamento ou toda a empresa, sobretudo quando aparece em quem é chefe ou líder de equipe.
Por isso o ideal é que a empresa esteja atenta a seus profissionais e perceba que algo não vai bem. De acordo com os especialistas, no entanto, a maioria das companhias está despreparada para lidar com as doenças psicológicas.
Assumir o problema no trabalho pode ser arriscado. "É bom avaliar cada caso, mas, em geral, recomendo que as pessoas não dividam isso com a empresa", diz o psiquiatra e consultor organizacional Isaac Efraim. "As empresas reagem mal e têm dificuldade de aceitar. Não dá para dizer que não vai atender um cliente porque tem uma fobia", exemplifica.
Tentar resolver o problema sozinho tem desvantagens, explica o médico. Além do prejuízo terapêutico -pois não existirá apoio para superar a doença-, há o risco de ser interpretado como preguiçoso ou descompromissado.
Com a evolução da doença, fica impossível escondê-la. "No auge do problema, é comum perder o emprego", diz o médico Miguel Jorge, chefe da disciplina de psiquiatria clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Carreira
O desenvolvimento de distúrbios de ansiedade acompanha a ascensão na carreira profissional. Assumir responsabilidades -para quem já tem predisposição à doença- pode ser o pontapé para o agravamento do problema.
"Nos níveis hierárquicos mais baixos, o profissional não tem de fazer apresentações e não fica tão exposto. Conforme vai galgando posições, tem de se dirigir a grupos", ressalta o médico. Segundo ele, há pacientes que recusam promoções para não colocar os medos em evidência. "Preferem ficar no arroz com feijão", afirma.
Quem sofre de fobia social, por exemplo, demonstra medo de ser avaliado em situação de contato interpessoal e tende a evitar algumas de suas funções -reações que não passam despercebidas.
"É uma espécie de "autoprofecia". O medo de algo não dar certo é justamente o que faz tudo dar errado", diz Tito Paes de Barros Neto, do ambulatório de ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Seleção
A doença também dificulta na hora de buscar um emprego, pois participar da seleção pode ser sofrido. "No mercado de trabalho competitivo, quem tem um comportamento fóbico fica de fora", declara Luiz Gonzaga Leite, coordenador do departamento de psicologia do Hospital Santa Paula.
Outro mal que tem visitado os consultórios é a fobia de perder o emprego. Uma pessoa que se dedica em excesso ao trabalho e é extremamente metódica na realização de suas tarefas pode estar doente. Sentindo sua colocação ameaçada, o profissional faz sacrifícios para evitar a demissão. Muitas vezes a "ameaça" não existe ou é compreendida de modo desproporcional.

Sinal vermelho
Sem motivo aparente, o advogado Dagoberto de Castro Brandão, 61, que atua na área farmacêutica, passou a ter crises de pânico quando viajava de avião. Viagens de turismo não eram problema.
Até hoje, ele só teve crises quando o motivo do vôo era uma reunião de trabalho. Taquicardia, suores e sensação de que iria morrer são os sintomas. "Não entendo como acontece, mas é real."
Com clientes em vários Estados, procurou um médico para não perder mais compromissos. "Foi um sinal vermelho. A crise é tradução de depressão e de estresse."

Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Estágio: Empresa de internet busca 13 estudantes de diversas áreas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.