São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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estágios&trainees

Estudantes abrem mão de bolsa por experiência

MARIA DENISE GALVANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O sonho de ingressar no mercado de trabalho, em geral, inclui a vontade de ter um contracheque no fim do mês e de dar o passo inicial em direção à independência financeira.
No entanto, nem sempre essa é a realidade de universitários: na contramão das tendências de mercado que ampliam e engordam as bolsas de estágio, algumas instituições oferecem trabalho não remunerado para estudantes que querem debutar em sua área de graduação.
Um dos motivos é que há poucas vagas e muitos aprendizes -estima-se que de 10% a 15% da população universitária faça estágio. Nessa corrida, quem fica de fora aceita trabalhar pela experiência sem receber contrapartida financeira.
Foi o que aconteceu com Amanda Melo Barbosa, 21, que estagia há quatro meses na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. No terceiro ano do curso de turismo da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), sem encontrar vaga em empresas do ramo, decidiu "garantir as horas de estágio exigidas na grade curricular".
Há até "especialistas" em trabalhar sem receber bolsa: a estudante do último ano de fonoaudiologia Danielle Maciel Pereira, 22, por exemplo, conta pelo menos dez estágios não remunerados ao longo do curso. "Foi importante para eu ter uma vivência de hospital", diz.
Segundo a professora Altair Cadrobbi Pupo, supervisora de estágio da PUC, os estudantes da área da saúde, às vezes, não têm opção a não ser participar de estágio sem remuneração. "Para economia ou administração, em compensação, isso quase não existe. Há bolsas muito boas -de R$ 1.800- em bancos ou em grandes empresas." "Entre esses extremos, estão os cursos de comunicação e os ligados à educação", completa.

Jornada dupla
A situação é mais complicada para quem não pode ficar sem renda. Esse era o caso da advogada Rosângela Rodon, 47, que optou por continuar trabalhando em casa como depiladora enquanto fazia estágio não remunerado no Juizado Especial Cível. A dupla jornada durou até terminar a graduação.
"Estagiava uma vez por semana para ajudar na conciliação e para fazer serviço de fórum. Assim, cumpri as horas obrigatórias de estágio e, quando me formei, virei conciliadora naquele local", conta.
Para a coordenadora do centro de comunicação do Mackenzie, Rosana Schwartz, cumprir a carga horária obrigatória é a maior motivação de quem topa fazer esse tipo de estágio. "Mas também acontece de, lá pelo quarto ano, o aluno perceber que vai se formar sem nunca ter trabalhado na área", diz.
O que não quer dizer que essa experiência seja ruim: "Há estágios remunerados em que se trabalha como secretário e há vagas sem bolsa-auxílio que são muito boas -vale a pena escolher o último caso", pondera.


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